(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Maysa



É impossível classificar aquilo que não integra gênero algum. E Maysa fazia questão de ser inclassificável. Isso acabou lhe trazendo ônus de ser louca, bêbada e escandalosa. Viciada na fossa, também bebeu a bossa. Um paradoxo. Isso porque, sempre na história, um movimento surge negando seu antecessor. Assim, a bossa nova se impulsionou refutando a temática depressiva dos sambas-canção, sempre cheios de tragédias, amores irrealizados. Trouxe o ouvinte à praia, ao sol, e tantas possibilidades leves da vida. É novo, moderno. Maysa, inspirada na tradição das grandes cantoras, como Elizeth Cardoso, entrou no barquinho. Transitou nesse antagonismo, como se fosse um desafio, a quem era, essencialmente, antagônica. Quanto à minissérie, valem elogios. Críticas vão existir, seja porque se mostou pouco do lado negro da artista - ou o contrário - deu-se ênfase demais à sua personalidade conturbada. Há também quem não goste simplemente porque é minissérie da Globo. Ou porque não vê televisão. Saindo da imprecisão inerente a qualquer reprodução, não há como não reconhecer o mérito visual e auditivo. Indo além, a trama prende, embora se saiba o fim, ou não se saiba. Para muitos, Maysa é desconhecida, personagem de ficção da obra de Manoel Carlos. Mas sua música é tão pungente. Sua lembrança, quase apagada, também. De tudo, não se pode negar que o saldo é bem positivo. Até pra que se entenda que antagonismos podem ser cheios de harmonia. E bossa não é antítese de fossa, basta ver a letra de dois de seus maiores sucessos, "Demais" e "Preciso aprender a ser só", respectivamente de Tom Jobim e irmãos Valle. Prova de que o barquinho também porta nossas contradições.

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