(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ei, como estão as coisas aí na frente?

Aproveitando o gancho de reflexões de final de ano, essa semana recebi um e-mail, de mim mesmo, pelo site "Futureme.org". Há um ano e meio atrás, enviei-me uma mensagem, perguntando como estariam as coisas em 30 de dezembro de 2010. Fiz votos e manifestei algumas expectativas.

O mais legal de tudo foi a sensação de encurtamento temporal quando li:

"Dear FutureMe,


Rodolpho, te escrevo do dia 29 de junho de 2009. Hoje faz um dia lindo de inverno aqui no Rio (...)
O engraçado, é que parece que tudo que incomoda tem uma origem comum, se você for verificar. A pedras no sapato do colégio, faculdade, e pós-formado são as mesmas. E a gente muda com o tempo, mas não do modo que idealiza, caso projetasse.
Não sei que louros ou pesares você terá passado quando receber essa mensagem, mas digo que estamos unidos. Se o sentimento de solidão tantas vezes nos desola, já que as pessoas queridas não nos pertencem, por outro lado alivia pensar que não somos um somente, mas bilhões, um em cada átimo da existência, formando um exército em defesa de si mesmo.
Sentir multiplicação em tempos sucessivos é tamanha, que beira a concomitancia de vários entes. Quase crusei comigo mesmo, de um segundo atrás, ao atravessar a Siqueira Campos.
Mas com você preferi que o encontro demorasse mais um pouco, pra causar surpresa, espanto. Queria te pegar desprevinido, esquecido, e aí te rememorar essa sensação fabulosa da coexistência múltipla.
Foi muita física, mas de coração.
(...)
Abraço profundo, e toda força a você e nossos futuros,
Rodolpho"

Esquecemos, por lapso, que somos continuação de nós mesmos. Uma vez li em Logosofia uma expressão interessante "herança de si mesmo".

Essa constatação trouxe responsabilidades, mas também alguma segurança.
 
Embora nem tudo venha na medida exata do querer, temos o poder do "se".
Published with Blogger-droid v1.6.5

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Por meu copo de chá

Saltita - o medo que me hesita
o que resta da vida, finita
é brasa:
bituca de cigarro pela janela.
(Meu copo de chá verde escreveu isso)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Amor absoluto

Amo-te de todo jeito
como me amas
éramos ardidos como pigarro
e já solto catarro:

somos riso.

Cintila do céu sereno,
véu que nos cobre de fantasia.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Assemia número três

tantas caras sorridentes
tantas mentiras pálidas
bocas que abrem sorrisos brancos
soltam anglicismos que dizem coisa nenhuma

Temos direito de ser livres
Temos direito de gostar de rock progressivo
Temos direito de vestir estilo
Temos direito de lutar por algum "ismo"

Somos a forma pela fôrma
óbvio por metáforas
conteúdo fluído em continentes
conectados o tempo todo, por um fio:
prosa abreviada.

Somos carentes de sentido, por isso posamos de babacas
Somos distantes dos vizinhos, por isso amamos alguém no leste-europeu
Somos desumanos, por isso fazemos doações 0500

Corações repletos de velha assemia, na nova década do milênio.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ano findo reflexões à tona

O ano findo e reflexões à tona. Aquela listinha de desejos, as roupas íntimas coloridas, simpatias... fizeram efeito? Vale a pena repetir os rituais ou inová-los? Fato é que nada disso importa. Toda passagem é formal sem convicção de mudança. Nem sempre mudar é uma necessidade. Às vezes é bom continuar como está: a inquietude do mundo não pode nos abater, e por nossos castelos em questão. Mas se o coração canta, é tempo de transformar. A novidade é uma pérola rara, combinação mágica de esforço e acaso. Digo: princípio da mudança é movimento, ainda que despropositado. Vale rodar o quarteirão, tão só. Whatever works? Não necessariamente algo acontece. Mas acredito no princípio do movimento. Se o planeta, em rotação faz dia e noite, e translação, estações do ano, nós, de igual modo, ditamos algum ritmo. Particularmente vivi mudanças significativas. Não acho que resultaram de um acerto. A mudança é acidente da vontade, porque nunca vem na medida exata do que se quer. Chega parecido. Por isso, é acidente e, como tal, a preocupação maior não é com acerto, mas com a tentativa. Tentar insistentemente, aceitando errar. A vontade otimista de morrer tentando: isso sim é a vida. Não vale a pena esperar por linha de chegada, pois o fim de um ciclo é impulso para outro. Nossos quereres são infinitos e a satisfação sempre estará aquém. Então vale a pena viver o sonho aos contos, na tentativa errante, de viver feliz tentando. A realização é mero detalhe!

Erro é mais humano que acerto. Acertar é coisa dos Deuses!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Gitano

Mi corazón gitano
rumbo del tiempo:
sin ayer, hoy, mañana
sigo mientras.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

fadiga poética

Valeu-me umas notas, tostōes no bolso. Tocado feito gado, nos primeiros raios da manhã. Terminava meu dia suspenso na perimetral, flutuando na baia de guanabara laranja. Minha tarde teimava em ser longa. Meu pensamento se estreitou com os muros. Só havia amplidão em alguns segundos, naquele largo do porto. Mas meu corpo cansado desatendia minha inquietude poética: joguei muita poesia pela janela do ônibus.
Published with Blogger-droid v1.6.5

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

ex-péra

Quando menos espera
A hora chama
Quanto menos se quer
Mais se ganha
Published with Blogger-droid v1.6.5

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Smoke gets in my eyes


Segunda-feira póstuma
aos olhos marejantes
que espiam longe...

o continente, linha imaginária
o pontilhado de montanhas ínfimas
minh´alma, de cor, remota:

-A melhor percepção da vida é nublada!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Cada macaco pulando seu galho

Tudo repassa, o barato é não morar
Pular de bugalho em alho, até desinteressar

Não ter endereço;
Nem dormir naquele quarto de janela ao céu estrelado.

É desconfortante inspirar
A inquitude ínsita das coisas.

Viver é bom:
No prazer de querer partir.
Published with Blogger-droid v1.6.5

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sobre crateras, ilusões (Woody e Clarice)



O encanador abriu uma cratera no banheiro do meu apartamento e não chegou à conclusão alguma sobre o vazamento. Voilà, diante de uma cratera, muita gente boa conclui nada. Mas ele me cobrou o décuplo da minha hora intelectual de trabalho. Em duas horas como parecerista, tento-me concluir alguma coisa. O encanador craterista não concluiu nada, e exige bom cachê por isso. Ei-lo: “socrático das quitinetes de Copacabana”.

Ao final do dia, extorquido pela realidade, assisti “You Will Meet a Tall Dark Stranger", de Woody Allen, ótimo filme. Marcante a frase final: “ilusões podem ter melhores resultados que remédios”. De todos as personagens - losers- da trama, a que mais se destaca, ao meu ver, é Helena. Abandonada pelo marido, que resolve curtir um surto de juventude fora de hora, Helena descobre o dom de ser iludida. Consulta-se com uma vidente charlatã, que lhe anuncia acontecimentos para sua vida, de seu ex, de sua filha e genro. A personagem crê naquelas previsões que, forçosamente, acontecem. Iludida, piamente iludida, tanto faz crer, que tanto faz acontecer. A ilusão remedia a realidade.

Imediatamente, lembrei-me de um texto de Clarice Lispector, “Das vantagens de ser bobo”, em que diz:

O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu

Várias crateras nos são abertas cotidianamente, sem menor explicação. Custam caro: esforço de muitos exploradores dedicados, que ali depositam convicções ou bravatas sobre a realidade dos fatos. Beirá-las é uma experiência existencialística, que não leva a nada. Talvez o vão das crateras se preste, tão somente, às ilusões. Iludidos e sem pretensões, não sofremos a demasia do vazio, mas a alegria de poder preenchê-lo.

Ah, e como resolver vazamentos?

Quiçá o incômodo deixe de sê-lo quando não incomode mais, com ou sem conclusão.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Libertinagem número um



A vida em conserva
A vida se conserva
estrita,
na lata.

Abre a roda de espirais e caraminholas.
O horizonte vai além da vigília;
os amores estão ultramuros.

Todo limite é covardia de pensamento.
Cabe pulsar além desse tormento,
até onde o coração alcança.

domingo, 7 de novembro de 2010

Sapatilhas Amarelas

Nem se explica.

Essa estória é para saber:
quanto você calça.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Partida

Quando aperta o passo
aperta meu peito
meu compasso é teu aperto de partir

ensaio, soslaio
minhas mãos em forma de pedir:
tua partida é minha parada.
Published with Blogger-droid v1.6.4

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Entardecer

Foto por Rodolpho Saraiva


Bem tarde ser
Deixar-se em tarde ser
À tardinha lhe cobrir
E só agora resolver-se homem, doutor, poeta.

Quando o sol evade, coração liberta
Bem tarde em si
entardeci:
Fui, ao fim do dia.

Passagem

Quero estar acordado e ver meu passo
Quero saber todo meu caminho
Então durmo até chegar

Sem risco de fenecer, à toa, meu dia
Hei de ter olhos atentos
O piscar esconde o fim.
Published with Blogger-droid v1.6.4

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Champanhe

Je boire des etoiles
Meu coração élevado
Às alturas da imaginação

Transcende à taça espuma
Borbulha,
Que m'olha são.
Published with Blogger-droid v1.6.3

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Desacaso

O encontro ao acaso
É ocaso do desencontro.
Published with Blogger-droid v1.6.3

domingo, 17 de outubro de 2010

Lacan, en passant


É por demais certinha
não me vê ao certo
que outras loucuras são avessas à minha.

Amor, meu amor, minha falta
quero dar-te tudo que não tenho
tomar-te tudo que me entorta:

luas uivantes contigo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Avulsa

Transbordou às minhas folhas
(soltas pros seus versos)
Avulsa me ocorreu
Incerteza querendo me acertar
Published with Blogger-droid v1.6.3

Defesa da Tristeza

Desprezada
Dela se foge
Pelo medo, pelo mal

Na obrigação de ser feliz
Triste ninguém se quer
Ninguém se ama
Nada se espera

Mas pouco se sabe quão grande é a beleza
De ser triste e, com tristeza, esperar a alegria
Feito a luz do dia
Depois da noite incessante

Morre-se no instante de alegria
Vive-se eternamente em tristeza
Pois a natureza é a dor
do primeiro corte que nós dá à luz

E só ao fim da vida
Se sabe do direito de entristecer
Pela dor do corpo,
de saudade, que é doída

Tristeza é só dor
Para quem não sabe encantamento
Não se vive intensamente sem doer
E sem intensidade, não se vive.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tejo


O tejo é mais belo que o rio de Fernando Pessoa.
O Rio submerso no mar, de Chico Buarque.

Águas têm curso
prum coração incurso
em maré cheia.

- Rio que me conflui.
Published with Blogger-droid v1.6.3

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Inclusão

Ser limítrofe ao outro
Apartamento e baia
Espaçamento adestrado
O que sou, noutro, assola
Published with Blogger-droid v1.6.1

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Deletérios

Deletério é o tempo
Na correria das horas
Engole lembranças
De que se pensa

Deletério é o vento
Arrasta folha e pensamento
E não há peso de papel
Que desfaça o tormento

Deletéria neblina, fumaça, nuvem
Que reduz o céu
Deletéria miopia
E tudo que contorce a visão.

Deletério precipício
Carregados por desabamentos
Os loucos enamorados
Lançam-se em vão.

Deletério silêncio
Corrosivo
Quando a raiva ordena grito:
Calar-se é implosão!

Deletéria a vida:
De quem não se ensina
Que a força de luta
Aumenta o contra-golpe do mar.

Roubo


Queria roubar de ti
uma declaração de amor
bem bandida
bem contraditória.

Que nos deixasse em maus lençóis.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Outrora

Dê tempo ao meu tempo
Vou mostrar que nosso agora vem d' outrora
Passo mais lento:
meu alento é o beijo que se arrasta.
Published with Blogger-droid v1.6.1

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Est(r)ada

Estrada que percorre meus dias
Dias percorridos na direção
Direção que não escolho e leva:
estada minha de viver em trânsito.
Published with Blogger-droid v1.6.0

corpo_fora

É chegada hora
de tirar o corpo fora.
Ganha quem sair primeiro,
e esvair-se mínimo.
Published with Blogger-droid v1.6.0

domingo, 26 de setembro de 2010

Percalço

Meus pés na areia
sendas à onda e vento
valas que encaminham
às vezes, à comédia.

Não sei forma exata do meu pé.

Há gente que veste ambição de ser único
estilístico
mas é comum na intenção:
de tantas caras singulares.

Percalço é tropeçar sozinho,
sem estilo,
rodeado de traseuntes.
Published with Blogger-droid v1.6.0

sábado, 25 de setembro de 2010

Circunstâncias


E tudo mais, além de mim
são circunstâncias.
Os gostos, desgostos:
aquele beijo pretérito.

Circundo azul-celeste
em processo longo de evolução
pensando em ser alguém,
fora de órbita.

Mas tão logo nós:
circunstâncias.
Soltas de mim, atentas a ti
vagando nessa idéia.
Published with Blogger-droid v1.5.9

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Perimetral


meus dias adormecem lá em baixo
as chuvas, os sóis
os trânsitos no centro da cidade
o paço, faculdade, cinema, barca, tribunal...

(guardam pegadas sentimentais)

atravesso tudo por cima,
como se fosse fim e luto:
luto pela lembrança que me chega.

por onde tateava, hoje corro:
sem aquela segurança.
Published with Blogger-droid v1.5.9

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Reclamação

bravatas e alaridos são incompossíveis
com a vida que passa
lotada, em congestão:
passageiros dormindo em pé.

cada perspectiva ruim tem sua máxima
"poderia ser pior ou...
estar debaixo da ponte"

Sofrer não purifica:
degrada.

Published with Blogger-droid v1.5.9

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

arte moderna

és miúda, mas de peito enorme ar_te_mo_der_na explode o conceito no museu de beira-mar. minha arquitetura ousa: curvas dessa igreja, altar das tuas miudezas.
Published with Blogger-droid v1.5.9

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Paisagem número três



Meus olhos já se cansaram
de acordarem todo dia teus
transbordaram:
ao redor da baia.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pipoca-doce



Queria começar desde o começo
na hora do recreio
no ônibus da escola
alguma coisa sem implicação:

pipoca doce, garrafa de Coca-Cola.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Art déco



O passado no futuro
noites não dormidas pensadas no porvir
sentado em art déco:

planos de antiguidade.

sábado, 28 de agosto de 2010

Tijolinhos

Amor não chega pronto
casa para morar
faz-se aos tijolinhos:

eu, depois você...

aceita do outro e se doa, sucessivamente.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Poema da verdade

Acredito na verdade
Não a que se diz
Mas a que se sente
Dos olhos
Que nunca mentem

Verdade mais pura da lágrima incontinente

Dizem –os sábios – que tudo é impressão
De cada um
Em ângulo, óptica, percepção
E que há um plural verossímil
De crenças por aí...

Assim não penso.
No miolo da gente, há sim um fundo de verdade
Tão imensa, que paira por todo lado
Mas que cada um a vê a seu modo
E dá o nome que lhe convém

Verdade:
Da dor, do sol, da noite
De tudo que não se entende
Mas que se pode sentir.

domingo, 22 de agosto de 2010

Aventura

Buzinas,
ônibus além dos sinais vermelhos.
Esperamos no ponto, à toa:
porque carros ignoram beijos de rua.

Tudo passa:
em cima, embaixo dos viadutos.

Mas naquele meio-fio, dois restam
em contrafluxo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

sentimento do mundo


sigo tanto sufocado
de tudo um pouco
sem ânimo de lutar
toda luta que parece.

o mundo à cara impõe riso.

queria só
trancar-me
na minha ex-casa
de sacadas abertas.

(grilos tritinando)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

poço


jogaram uma moeda
no fundo do meu poço
e acordei de esperança

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

auto-retrato

uma idéia boa
inviável
de acabar com a fome do mundo.

querer estrelas altas
mais frias, menos quistas
nefelibata

vontade há pelo prazer;
apela razão,
doendo no peito

as abstrações mais vagas
sem rima
nem poesia.

sábado, 14 de agosto de 2010

Amor de ontem e sempre


Meu amor de ontem
está na agulha, vai tocar de novo
quando você chegar,
sonora.

Paixão antiga não desata
não acaba em rima:
arde sempre no peito calada.

O que a onda leva, o mar volta:

-concha que dorme pra sempre!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Assemia

Faltam duas coisas hoje:
óculos e inspiração
inspiração corrige o grau;
óculos a inércia.

falta luz
visão
no desaconchego do bréu
vive-se desapego de idéias.

assemia
deserto
tão certo
de nada.

cheek to cheek

O beijo não precisava
muito mais que sexo unido:
o coração em orgasmo múltiplo.

dançar de rosto colado
colégio, namorados:
simplesmente havia nada.

esquecimento retina adentra
afora inspiração
pausada a hora, a hora, ahora.

não importa àorta
queremos mais aqui:
estridentes um de si

quase parada música
sem dança:
-cheek to cheek!

sábado, 7 de agosto de 2010

Tendência


Você sempre às últimas
consequências
da moda

até no dia morno:
arregala óculos de sol
e havaianas brancas na varanda

Atropela
você, tendência
atravessando a rua.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

coração em pedra


ama o coração de pedra
coração que não te ama:

pedra de quem ama, coração!

pedregoso cardial
de quem sofre o que não ama.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Astronauta


Não reclamo da tua curiosidade
que te faz astronauta
no meu planeta.

Se fico silente
com tuas perguntas desperto
torno à órbita

Minha estrela é fria
(calor que mal se divide)
Mas topo o desconforto
por esse dedo de prosa.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Restinga



Interrogações fundem a cuca;
exclamações de raiva sobressaltam
"Sou, estou, poderia ser..."

Toda inquietude pede colo;
até dormir sobre alguém.

Divagação morre assim:
uma restinga pacifica dois segundos.

sobre satisfação

satisfação é estado de novidade,
carcumível com o tempo:
mesmo a perfeição cansa.

Published with Blogger-droid v1.4.8

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A casa era


Era sonho investido;
e depois tout cela
esvaziei estantes
de infâncias e tormentas

a casa era eu pequeno
sou eu, grande, longe dela
desacolhido pelas paredes.

casa em mim
eu não nela
habito só letras:
escritura além do último capítulo.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Reflets d´argent


Lune sur la piscine
fait ma nuit un jour inattendu
fait m´angoisse un mot perdu

Ma belle, allez, allez!
Toi seule, c´est une fête
Je suis le poète
et n´arrête pas de m´eclairer

Criatura

 Quando caem no papel palavras que -de tão pesadas- não se levantam 
O Poeta pensa consigo:
-nasceu um verso!

colhidas e lustradas...
Ei-lo:
[aquilo que se diz poema]

Mas olhando esses vestígios dum suspiro
Ele não se encontra:
-Há tão pouco de si!

Não disfarça descontentamento:
- Criador e criatura tão infundíveis!

E consternado, rasga o papel.
E picado cada pedaço
não se sente mais livre.
não se sente menos estranho de si.

sábado, 24 de julho de 2010

Maiêutica

As pessoas são chatas:
jazem nos phones, livros e concepções
receitam felicidade depressa
"há de correr porque o tempo corta"

Ninguém sabe nada de maiêutica

que é vontade de calar do óbvio
parto do silêncio
em si me brota:

silêncio imperfeito do que me incomoda.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Âncora


 
Cansei do mar
quero morrer na praia:
âncora.


Published with Blogger-droid v1.4.7

domingo, 18 de julho de 2010

Menino



O menino ainda só existe,
esperando hora da escola.
O menino (re)existe.

sábado, 17 de julho de 2010

Margem


Para te chegar
atravesso meu rio
à beira do que sou
baliza alguma margem:

tão longe.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

tempo-quando

presente?

eu quero o amanhã agora
eu quero alguma coisa de ontem que ficou na boca
já quero ler o último capítulo.

(nem vi o átimo que passou)

presente, por favor se apresente.

Minha serra


Quero rever minha serra,
morena,
contar arritmias nas tuas montanhas.

brincar de nuvens:
véu gelado que permeias
então descobrir-te inteira
ao arrepio da minha pele.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Serenei



Nosso tempo mais-que-perfeito
é sereno que não passa
fazes-me orvalho
gota tua, lágria.

M´anoiteces por completo
me contenta tua estrela:
tudo que resta, brilha
e repleta o riso!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Amor-sem-enganos



Um amor solúvel
de 3 minutos no fogo;
que mate a fome.

sábado, 10 de julho de 2010

Amor existe?

Amor existe!
ao pé
d´ouvido.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Moinhos-de-vento



Venta frio no mundo novo
que me sussura
adentro às minhas frestas.

(vento à fronte)

gigante à minha pequeneza,
o moinho-monstro de incerteza
espalha meu resíduo de humanidade.

know-how

do you know how?
certainly?
do you? the answer...
(so deep so deep)
the word-key
that ever open your heart?

Published with Blogger-droid v1.4.2

domingo, 4 de julho de 2010

Lá na lapa


A poesia é menor
Lapa não cabe em sentido algum!

Sem-caminhos das janelas dos arcos,
aliançam desatinos
de corpos mutilados.

A Lapa é uma navalha.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Destino

Estava escrito nas estrelas:
"insistir, insistir..."

até que consegui.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Apaixonadíssimo (à futura)

Estou completamente apaixonado.
(sim, já estou.)

-onde estás, minha amada?

Asilo no peito

saudade não se ensina
o esquecimento vem e domina
deixa estar


então vira disciplina
que a mente pensa que domina;
não:

saudade é asilo no peito.
Published with Blogger-droid v1.4.1

Coração Intangível

Guardei meu coração
na estante mais alta
e já não o alcanço.
Published with Blogger-droid v1.4.2

Plano B

(Se nada der certo
e restar absolutamente
só)

Eu tento:
Amo você
Meu plano B.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

My cherry amour

A lua cheia desimporta
a quem corre pela orla.
Não a ti:

minha maré te enche a boca.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Espera



Espera-se pelo dia 

em que for;
em que puder;
em que chegar

-o dia há chegar:
e findar a espera.

esperança estrelada no céu escuro.
às vezes o bréu é puro:
café escuro;

a espera em demasia desespera.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Estação Glória


A estação que sempre foi parada,
desnecessária à vida,
hoje é caminho
que faz chegar mais cedo a casa

Dentro do metrô,
entre olhos,
a moreninha frágil.
Nosso cansaço quase se unindo.

(Estação Largo do Machado; desembarque pelo lado direito.)

Silêncio eloquente
Ela me acolhe, de espreita.
Ruborizo;
prefiro olhar eu,
sem resposta,
e compor ali

Uma voz mansa,
de pouco assunto e algum sotaque
De tato suave, mas com beijo áspero.

Ah, na Glória embarcar, sem querer partir.

sábado, 19 de junho de 2010

Sobre a busca

Os cegos buscam
mesmo tato no escuro
os cegos não se ouvem
no silêncio absurdo.

Busca borda desespero
de crédulos beirando
em encontro derradeiro.

Mas a fome não tem nome.
A fome se come:
segue sempre em busca.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pra começo de verso

Pra começo de verso,
não sei pontuar,
nem fazer aquela frase MAIÚSCULA.

Sei não, quando começa ou termina o verso.

Só sinto:
o que me atraversa o peito.

A vida escorre pelas unhas

A vida escorrendo assim
fração corrosiva dos segundos
você diz espera
e a gente s´espera sem desespero

Branda ânsia, outro desarranja
porque o tempo passa
o tempo impassa
e a gente urge!

E você segue toda prenhe
enfim,
da angústia que te enchi.

Consoada

à beira do sim,
vivo talvez
abandono convicto.

A incerteza (corrente) me arrasou.
Melhor,
pensar menos em braçadas.

Hei de me perdoar pelos meus erros,
pela minha geometria:

-quero formas imperfeitas de alegria.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

All by myself Rachmaninoff



Não está escrito nas estrelas
“Solidão” ou ”Mãos dadas”

Não há fim dos tempos a quem ama o amor.
(Nem ao florista que vive de entrega..)

Amor não é medida recíproca.
É o que se aceita;
se o punhado está a contento, então ama.

Não reclames
das filas enamoradas nos cinemas.

Tudo se copia, copiosamente;
All by myself é de Rachmaninoff
(Concerto para piano número dois, adágio sustenido)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Parecerista

Faço pareceres -nada mais poético
me parece isso ou aquilo
jogo de parecença que não finda
 
penso a vida que me parece muita coisa
eis que não sou poeta, mas
parecerista.

Amigo-do-peito

Quero ser amigo-do-peito
(teu peito)
desmamá-la pelo meio:
jamais te sair de dentro.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sincronicamente



Não sou unico fora desse tempo
de gostos antigos,

conheço tantos namorados de portão
tantos velhos ouvem sons alternativos.

tantos pensam mesma idéia
querem aquela beleza
sonham mesmo amor
(torcem na Copa do Mundo)

sincronicamente.

param
apagam mesma lua.
acordam mesmo sol.
dia-após-dia, àquela chaminé.

Perdidos lado a lado,
sem saber que estão
sincronicamente -
em fila.

sábado, 5 de junho de 2010

O enterro da musa

Bebi a musa
no rigor de inverno
desterrei ao meio
teu veneno desprezei.

Não quero saber de musa.
Não mais me usa.

(esqueçam que um dia foi, que dela falei)

Sem coroa nem côrte,
amarela jaz, defunta:
no obituário do meu esquecimento.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

I-phone-you


Alguma coisa no ar
wi-fi por você
deixa logar na sua rede

i pode, i touch, i phone you.

(e olho na sua banda larga).

Minhas ondas te querem chamar
telepaticamente,
ou via bluetooth.

Pragmatismo (poema em construção)


Meu peito não infla mais.

(só certezas menores)
O tic-tic-tac:
minuteza de esperas.

ditadura de rima!
rimas fracas, pobres:
não sei, não sei,
formar encontro de sufixos.

O mundo né doce, nem azedo.
é alegre nem triste a vida.
Sabor que não se escolhe.
(queria azedinho-doce)

mudo-mundo, ida-vida.

o universo de leis
que auscultamos inertes:
como bater do mar pelas conchas

Meu peito é balão:
festejo murcho ou cheio-descontente.

Não tenho métrica de coisa alguma.
Tantas teorias e fórmulas;
minha matemática só faz as quatro operações.

Confiei que o tempo trouxesse visão
então, achei o grau certo da minha miopia.

sábado, 29 de maio de 2010

tosse


condicionamentos
tosse, tosse, tosse.
meu peito clama ares incondicionáveis.

diz pára, mas não pára.
tosse, tosse, tosse.

desespero do pulmão à garganta.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A vida inteira poderia ter sido

Se houvessem esbarrado
e tropeçado juntos

caíssem.

Se houvesse chuva e caos
nem houvessem vias
Todo caminho se lhes houvesse e ponto.

E andassem,
calassem, tomassem mão, beijassem.

Se houvessem lua absurda e orquestra na praia.
E Copacabana fosse nua: estrada finda.

Os amores das cartas não lidas
mas escritas,
até postadas.

Por todas as coisas que
poderiam ser - e não foram
uma vida
inteira.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Bonequinha-viu


A bonequinha dorme no filme de horror.
Aplaude, em pé, o existencialista francês.
Toma, apática, água com açúcar de comédia romântica.

Contenta-se com drama...

(A bonequinha é minha crítica,
nem abro O Globo).

-Vou com ela às quatro expressões do cinema!

Ótimista



O ótimista ri do dia
como se tivesse sol
descredita em nuvem.
(toda nuvem é pessimista)

É senhor do dia, riso, e alegria.

As vezes é um chato.
que estraga o sabor apurado de tudo que não tem açúcar:
chocolate meio-amaro.

sábado, 22 de maio de 2010

peut-être

à te regarder
comme ça
peut-être un temps
que ne passe pas
entourage oubliée
sur toi:
nuage
que m´invite.

Sobre acertos e erros


Nos acertos e erros
a gente se complica
quando todo esforço não bastar,
não se esforce.

Beire a desistência.
Beire o abismo.

Felicidade é quase um erro
(que deu certo)

É insistência fracassada de acertar.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Poeta em ofício


A papelada embargou a poesia.

Parece isso, parece aquilo.
(Já nem sei o que me parece, enfm!)

Debaixo da pilha processual, uma fresta
“Salvo melhor juízo:
referendei meu fm.”

Processo é sequência suicida de atos.
Brinquei que poesia fosse assim.

Um verso, então outro,
memorando-se,
tramitaram à conclusão

– óbito sem estrofe, nem rima. 

Psicografia (à poesia de Buccario)

Violinista-violoncelista
dos descontínuos sabores
musicais das palavras
versificadas ao vento.

Teus agudos e graves:
rasuras
de recorte em rascunho...

A própria poesia
em estado bruto...

Mais que lapidar,
apresentas a lápide:
-Teu verso.

sábado, 15 de maio de 2010

Estrela

Minha estrela, me estrela:
meu amor aconteceu,
de tanto olhar o teu
o céu apareceu.

olhos e me vejo.
sou poeta faminto
paixão, me como
amo amor que sinto.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Grota Funda

Na Grota Funda revejo minha serra.

O recorte dos morros e mansidão da Guanabara.
Reatei tudo.
Visão alta, sólida, solitária.
Roçei nuvens.

Sou montanha
a tantos pés do nível do mar, seguro em rocha.
Só me incide erosão:
chuvas e assobio dos ventos.

Deixo-me soberbo.
Pauso o tempo sem aflição.
Vivo paradoxo no primeiro raio da manhã.

domingo, 9 de maio de 2010

Subverso

Tenho ambição de ser livre.

O império das regras não resiste ao verso,
da minha cara:
dá-se um tapa.

Recomendação é ocaso do homem.
Ambição retém a liberdade.

Subverso independe asa,
apenas:

-rascunho!

Fingimento

Finjo meus dias inteiros:

Fortaleza aos inimigos
Gentileza aos amores
A fé diante do altar.

(...)

Quê sou de fato?

(...)

-Crente, inimigo, amante.

sábado, 8 de maio de 2010

Idiossincrático número um

É duro viver de peito aberto
com o bolso vazio de certezas
a alma descrente
de qualquer sonho de felicidade

Viver a seu modo.
deus dos crentes?
ter um próprio:
criado à imagem e semelhança.

Desconheço meu espaço
já não me caibo
não alenta o chão:
o céu está repleto de planetas!

Vejo tudo ao meu modo:
minhas cores desbotadas
(ton-sur-ton)
turvam a retina!

Identidade me cansa.
Engalfinhar por posição
êxito?
priviégio confina...

Há dias que não suporto bom humor, sol e praia.
Dentro vivo intensa cerração:
desqualificados sentimentos,
não bancam nobreza.

Vivo, vejo, sinto, reajo
sempre a meu modo
é a maior satisfação:
ser idiossincrático e autoral.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Poeta

De todas as cores quistas: cinza.
Nuvens no teto.
Sob névoa quieta em si.
Em si, poeta, vive.

Mais que todos os seres.
Mais que todas as cores.
Só, ínfimo: 
mundo em perspectivas maiores.

O sol adentrando em fios.
Ardendo recheio da carne.

Poeta inflama na medida que ama,
e se desfaz.

domingo, 2 de maio de 2010

Nua

Nua és tátil
à flor da pele,
tua pele em flor.

sentir-te nua apura o tato
sem tecido atritar.
nua te acarinho,
com algumas palavras.

Desloucado

Eu me vi, eu me vi noutro
vim poeta, fui louco
de solidão e euforia
curtos alta voltagem ao fim do dia.

Vi o mundo com pressa, poeta:
"espera anota!"
Vi o mundo com fome, louco:
"come um, pra saciar".

Vi louco em mim, e me poeto:
sou viés debatendo
o coração à deriva,
na ressaca de bar.

sábado, 1 de maio de 2010

Gravata



A elegância aperta o nó
e afoga o gogó
de coisas não ditas.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Remédio

Sinto sem manual de instruções,
não sei da entrada ou da saída
muito pesava
o mundo que me cabia.

Um dia veio explicar a poesia, feito salmo:
lia dor, mal esfriava;
lia amor, então amava.
O drama de existir excomungava.

Remédio
em pequenas cápsulas diárias
vezes inócuas, outras, colaterais:
sempre tratamento impreterível da alma.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Em parte ir

Não parta não
parta dó minha
anão, de mim

da dor do parto que é grande
dessa dor ficaste prenhe.
és prenhe de mim.

do que te reparto dentro,
adoço,
meu primeiro café.

sábado, 24 de abril de 2010

Frações de alegria

Tuas frações de alegria remediam a tensão dos dias.
Pequenas doses de presságio,
logo me saciam em calmaria.

namorando motes,
sopramos vela.
"eu teu mar,
você minha costa."

Mas sem bancar realista
- longe de mim!
não fies em algodão:
ainda quero tragar teu bom-dia.

Encruzilhada

Tanta encruzilhada nos teus planos,
caminhos que não findam ao pensamento...

Ser funcionário público.
Gabinete, paletó na cadeira, estabilidade.
Hora de partir e de chegar.
Feliz pagador-de-dívidas!

Ser poeta,
sem carteira-assinada,
à base de assaltos-líricos:
ser só, pó, poeta.

Viajar:
mundo nas costas.
Albergar tudo!
(atestado com fotografia)

Pode enfim, amar
em alguém querer morar,
brincar de casinha:
"o que cabe a mim, a ti, a nós, à sala-de-estar".

Anti-gravitacional

Há uma força que paira
que nos sugere estar rentes ao chão
(ordem silente)
que se nos exerce.

Mas há alma que se debate:
-quero ser livre!
Toda censura às asas é cárcere.

Quero espairecer ao vento,
sempre que essa merda de realidade me desagradar.

Google sky

Dei zoom no google sky,
tentando achar a tua estrela...

Quantos dias-de-luz nos separam?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Vazio-bom


Incerteza mais certa:
o vazio é pra sempre!
Nem queira remédio.

-Portamos oco das galáxias.

Sem fé.
Só morte desfecha a ciência humana,
e reabraça o vácuo que nos pariu.

Vazio-bom!
em que cabem dores e amores do mundo,
e poemas por fazer.

Buraco negro particular,
infinito de cada um.
Centelelha universal que nos une.

(namorados, em noite estrelada).

terça-feira, 20 de abril de 2010

à primeira vista

À primeira vista nos olhássemos,
explicássemos,
silenciássemos,
ficássemos bem.

A intimidade não se adiasse,
nada ficasse a outro dia,
e logo fosse à tua esquina.

Queria tanto sem demora,
sem medidas incompatíveis,
os requerimentos e formulários.
Simplesmente fosse agora-hora.

À primeira vista, já nos soubessemos,
e assustadoramente, já nos quiséssemos
sem medo algum de culpa.

domingo, 18 de abril de 2010

Realidade:

Acordar às tantas horas.
Porque a fábrica apita.
Não posso gastar cada centavo do meu dia.
Não tenho dia.

Tenho noite-de-dormir
se sonhar, não durmo.
Cedo já vem o dia,
"ninguém pode viver de poesia".

-alguém em que não devesse acreditar;
-um amor que não se espera;
-expectiva maior do mundo...

Levanta!

Joga água na cara.
Pagarás cada segundo que te escapa,
do banco das horas,
e não terás faturamento líquido.

sábado, 17 de abril de 2010

J´aime (versão)

J´aime tous mes amours
d´hier et d´encore
toutes mes côtes
d´Adam.

J´aime tout le sentiment
qui me fait
la somme de tout cela
c´est moi.

je me repars,
je me garde
pour plusiers
pourtant, c´est moi.

Lo(o)ser

Perdi amores e guerras
ganhei algumas penas...
Já me perdi tantas vezes,
perdedor dos meus sonhos.

-Espero um dia me ganhar!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Variância

Porto variância:
rubores, olhares, resguardos.
Escondo de lado
meu lato sentido-falante.

Parto aos giros, só pra zonzar:
“a grande volta tem 360 graus”,
deixa tonto e enjoado.

Cato dilema
pra fazer poema.
Não convém esperar certezas:
chegam sempre atrasadas!

Não faço verso de amor.
(contrariando mandamento)
Amar não me incomoda:
vivo sem dar corda.

Futuro é incerteza que permeia

Com medo passo adiante
incerteza permeia:
Futuro, cuidado!

(abismo fascinado).

Certezas quase-distantes
Já nem protegem por instantes:
Abrigo que cede ao vento.

Que alma s´ aquieta sem tormento?

O risco chama
Risco é chama
Então: risca e faz chama!

Arrisca!

Subtrai fato: importa batimento novo.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tempo a tempo

Não dê tempo ao tempo:
inquietar é melhor que esperar
até porque fazemos os segundos apressados...

Não dê tempo ao tempo:
o que é saudade, irremediável está.

Curvar à força devoradora do passado:
presente é quase-passado;
futuro é passado iminente.

Convém viver na fresta, que o tempo esquece
fazer ficção de horas que não pesam
sonhando se vive mais, se vive quanto se quer

sonhando, realmente, sonhando.

sábado, 27 de março de 2010

Defenestraram a menina!

Nesses casos de grande clamor popular, vêm à tona um juízo muito afiado. Acostumados a julgar barbaridades do vilão das oito, ou o big brother que faz intriga (que "fala mal por trás"), não difícil julgar e condenar um pai e uma madrasta que matam uma menina.

Mesmo em tempos de valores "flexs", homicídio continua sendo socialmente grave, embora corriqueiro. Mas matar a filha/ entendeada, já se torna mais sério, especialmente por se tratar de um casal de classe média.

É mais um daqueles crimes de classe média paulistana, em que não há aquela justificativa de pobreza ("o Estado não vem aqui"). A escusa econômica inexiste. Por isso, soa mais estranho defrontar a crueldade tupiniquim nua e crua.

Brasileiro é bonzinho?

Um crime ocorrido numa família aparentemente bem-resolvida, com aquele fog paulistano ainda dá um toque londrino ao crime, um véu de mistério que remonta Sherlock ou Agatha Christie. Uma estória policial ainda inédita, que a vida cotidiana escreve, lança, e logo vira best-seller.

Imediatamente televisões a postos, especialistas de criminologia pulam do canal 7 ao 13, e imensa expectiva (pressão) de que a justiça seja feita. Há torcida na porta do tribunal; senhas para fila; barracas de camping; vendedores ambulantes; manifestantes que dão um chute na bunda do advogado de defesa, que é projetado quase televisão adentro. Tudo interativo.

Dias depois, sai o veredito: condenação.

Fogos, mulatas gordas pulando, pais jogando seus filhos pro alto, bandeira do Brasil tremulando.

Uma forma nossa de comemorar o aparente alívio de um sofrimento, num clima bem futebolístico. Afinal, é ano de Copa do Mundo!

O que assusta, de surpreendente, além do absurdo (inefável), é a reação dos populares. Matar a própria filha é uma barbárie tamanha, que a reação também merece barbaridade. Os revoltosos se tornam símios, pulam, chutam, gritam.

Ora, pra que um julgamento de 5 dias, se meia hora de pedradas resolvia?

É um lapso que põe em cheque a evolução humana. Racionais? Pensamos?

É, ainda há chão pela frente. Avançamos muito no julgamento. Apontar o dedo em riste ao big brother que joga já virou moleza!

Pela semana, conversava com duas velhinhas de Copacabana. Mãe de 93 anos e filha de 68. As duas sempre juntas, a filha muito zelosa.

Um dia, a filha acelerou o passo na calçada, a mãe ficou pra trás, logo surgiu um transeunte "que absurdo, não faça isso com ela, você não tem vergonha na cara de fazer isso com sua mãe idosa".

Outro dia, as duas numa feira. A mãe se acidentou, e a filha pedia ajuda. Nenhum solícito. Um segurança, inclusive, enfático: "Minha senhora, agora não posso, tô almoçando, vão prum hospital".

O cotidiano confunde!

Então, o que nos comanda: julgamento ou atrocidade?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Folie à deux

Certeza, me espera!
Eu a espero...

-Certeza da vida é esperar!

sábado, 20 de março de 2010

Out_ono

As folhas quebram a censura dos galhos
caem em decomposição
no chão, rezam amores
carpidam já não o luto:
a quaresma há flores.

Os galhos penados se conformam.

O resto é promessa!
árvore-iminente, semente flor-fruto,
coisas mesmas com respiro novo,
como enigma da "galinha-ovo":
o importante habita o ínterim.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Ruas

Não sei nome de ruas.
Sei que uma vai, outra volta.
E terceira lhes tranversa.

Vão pessoas, carros, caminhões: pisado firme no asfalto.

Firme me latejava essa rua sem nome, cheia de abstrações:

sinal abria à partida, fechava à impaciência.
atenção: anda na faixa, espaço onde cabem os pés.
não pensa em demasia: vem um carro e atropela teu pensamento.

mesmo inconvicto, olhei aos dois lados antes de seguir.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A árvore de Peixes

Curiosidade sempre lhe foi algo latente. Curiosidade e apurado (ansioso) senso de observação. Sempre gostou de descobrir o mundo do seu modo. Quando pequeno, sentia como cientista, ser humano pioneiro no contato com a natureza. Achava que, à base de empirismo, era capaz de criar próprias regras e valores.

Foi o que ocorreu neste episódio. Sua irmã tinha um aquário. Algo que fascinava muito o menino: a água e peixes. Questionava-se sobre sobreviverem em tanta água. Como se alimentavam, reproduziam (!!!). Pois sim! Pensou que o aquário ficaria muito mais interessante se repleto de peixinhos. Então lhe ocorreu aquele princípio ativo: o coração batia mais forte, obsessivos olhos mirando o objetivo realizável.

Foi assim que pegou um peixinho, dos mais belos do aquário, com uma redinha de limpeza, depois à mão. Com uma pequena colher, pôs-se a cavar canteiro ao lado da cozinha. Quando percebeu que a “cova era suficiente”, colocou nela o peixinho.

Neste momento, o velho vizinho, abismado com o movimento, perguntou:

-O que estás a fazer, menino?

Prontamente respondeu:

-Estou plantando esse peixinho, pra ver se nasce uma árvore de peixes aqui.

Pássaro

Passarim passarás
pois passaram todo passaredo
em passadiça passação de asas.

que pão: passadio teu céu!
no passadouro de nuvens,
passa-novas de trovão...

Sem passadismo de chão,
voa teu pássaro:
o destino é passar depressa.

Equinócio

Os dias são iguais as noites
aqui folhas, ali flores
águas de março à terra sede;

Em anexo, anuncia:
o ano astral principia,
ao dia mundial da poesia.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Quando vieres

Quando vieres
seja sem vontade
alheia de intenção
repleta de incerteza.

Aconteça:
-sem hora
-sem espera
-sem anunciação

Dispensa verso:
pensa em poema mudo.
Sem heresia namorista,
só silêncio mais fundo:

-Espero inexistência em cumplicidade.

Arpoador


Choro um pranto-canto
na acolhida do meu recanto:
teus braços,
onde entardeço meu dia.

Purifico com restos-de-sol
as penas restantes.
Dispenso todas ausências
em ode à tua presença serena.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Sintaxe

Uma frase coordenada. Um, dois pontos: aposto do outro. Recíproca tanta, com nota de rodapé e tudo. Explicação subreptícia. Algo, entre, falava "afinidade". Mas bastava ser conhecedor da língua para perceber: era tudo sintaxe.

Um objeto do outro, sujeito. Ou o contrário. Um verbo dava o ritmo: às vezes falavam, andavam de mãos atadas, paravam, beijavam, e então, contavam estrelas.

Eis que fizeram a oração: "Eu te amo".

Moderníssimos, fizeram amar, verbo transitivo direto.

E sem preposição, o amor (faminto) engoliu o objeto do outro.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Poema-idéia

Poesia tem código aberto;
pode voltar postagem,
e mudar sinônimo, pronome, advérbio.

sentimento ali,
hoje ainda bate:
abuso de ignorar o tempo!

Nem arranjo nem rima.
Que mesmo importa é idéia.

No dia que se inventou o poema,
fez vulgar o sentimento contido a qualquer olhar,
sem medo de furto:

só reflexo do que mora no peito.

Assim, poema é invenção da idéia que dispensa registro de patente.

IN non-sense

Viva o rubor!
porque todo princípio
é da mais pura inocência;

O maior dos poderes é a descoberta.
Nada se compara ao sabor do inédito.

O vazio,
que espera sentido
de repente se inventa:
o homem à plenitude!

De todas as incertezas
Que o desbravamento traz
Possa dizer:

prefiro eternas surpresas,
eis que a morte
é a desurpresa da alma!

Peças

Peças se casam
no "sistema de engrenagem"
atarraxam e desatarraxam
pra que a válvula dispare.

Pode faltar a carrapeta
que afaga o aperto
às vezes é parafuso que não lhe cabe.

Um dia surge conselho:
"troque antes que dê defeito"
e lá na loja de ferragens, à mercê:
tantas porcas, válvulas e parafusos...

terça-feira, 2 de março de 2010

Depoimento

A gente se entende
em prolongamentos metalinguísticos
numa verve rebolante
que me joga no teu seio.

perfunctórios deslizamentos,
bem no teu meio.

Apnéia e auspício,
sinergia de mãos vazias
faz inexorável eu, o teu suplício
e de olhos fechados vemos: idiossincrasias.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Primeiro-de-Março

Bradou o vento às nuvens:
Chova!
e águas do céu fizeram um Rio.

Acontecimento



Há tempos que o mundo não acontece
Há tempos que um mundo me acontece

Espaça um tempo do amor à treva;
ou nada só, deserto...
Solidão de todas as coisas.

Entre ”quer” e “acontece”,
assenta uma espera
na qual abismam flores,
ou até, uma primavera.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Praia

O mar n´arredou pas
no que traz, leva
alguma onda
de certeza que vem e vai
até quebrar maré
alcançar o pé
aqui n´areia.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ao amigo que partiu

O amigo que partiu, trouxe de volta todas as lembranças remotas de colégio. Todos brincando de roda, e de repente espalhados pelo mundo. Mas a roda não desfaz: projeta. Todos são filhos da mesma geração. Mesma infância. Mesmo uniforme verde e branco, aquela bombacha clássica. Os mesmos desenhos, brinquedos, heróis japoneses. As coisas da mesma cidade. O dia-a-dia do mesmo colégio. O mundo espalhou tanto, mas um elo frágil ficou hasteado. Mesmo que as rodas patotas adolescentes depois mudem, as profissões cada qual pense a sua, uns tenham logo filho e casem, outros não. Mesmo que nem haja assunto. Nem haja reencontro. Há tanta dispersão no meio, mas um ponto hoje -luto- e outro, duas décadas atrás: uma saudade. Todos projéteis da mesma roda, e por isso, amigo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Frenetic-à-mente

Tenho tempo corrido

Tempo tenho corrido
corrido tempo tenho todo
Que deu frenê-tique-na-mente.

Frenetic-à-mente pensando mudo.

Ando sempre cansado
do “not disturb”
arranjo só
distúrbios próprios.

Descarnavalizado


Esse quesito não evoluciona
vivo intensas febres de não-carnaval
pois tudo é viral,
até o Dedo-de-Deus m´equaciona: "o céu é cinza"

- Neblina, né? Né... blind!

O mar de morros que m´afoga
vestígio de Guanabara chama
ode-quase-morta, sourd
irremediável parada alto soberbo.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Idiossincrático número três

Rebento ao mundo dos gostos,
buffet de tantos outros,
melhores só pelo novo,
saboroso insosso:

de repente, a fome é náusea,
o velho reaflora:
a casa da montanha, antes cela, lá espera
com seus discos, livros, páginas mortas de saudade.

Sou casa,
Recanto remoto, que me guardo
lugar de acalanto
face ao mundo que me devora.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O carnaval é uma correnteza irrefutável

Quando se vê um bloco, ou trio, repleto de passistas obcecados pelo esgotamento físico, o observador de beira de calçada sofre um contágio dúbio. De um lado, se vê aliciado a participar também, afinal são poucos dias de libertação carnavalesca, oficialmente falando. De outro, pode sentir um descompasso na obrigação de pular. O espiríto carnavalesco nem sempre incorpora igualmente em todos que estão ali. As vezes opera mais fortemente nas almas melancólicas, que bradam "você pagou com traição a quem sempre te deu a mão"; ou nos românticos, que confiam em amor de colombina (aquela sempre dividida entre dois amores, foliã bem feminina). Conforme aumenta o contágio, a individualidade vai se perdendo, o protagonismo também. Do vendedor de cerveja, ao mendigo, à mocinha de all-star, todos figurantes de uma vivência unicamente coletiva. Os gritos, passos, beijos, tudo acontece por mimetismo. Ser arrastado é a graça, ou a desgraça. Mas é certo: remar é extremamente anti-carnavalesco.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vista aérea

Um ponto nu
grão do mar de areia
um noutro, dor de prazer
tantos pontos juntos
amiúde em casinhas
do alto confundem
retas, curvas, linhas
d´ outros caminhos uns,
todos se caminham:
ponto encontro e partido.

sábado, 30 de janeiro de 2010

A ponte

Entre mim e outra coisa,
já era começo-do-fim
passagem aos passos estreita,
ou sombra d´água.

A ponte é o que é:
impressão suspensa
sobre a vida inteira.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Surto psicótico

Mais de mil olhares:
fodam-se todos
cá no canto,
encanto real.

Todo medo me percorre
Favor, socorre!
ou saí daqui!

No lato surto, mais humano se é:
intolerante ao desalento,
uma herança de si, quase perdida.

Indiê com você

Quero ser indiê com você
tarando essa vibe
pra lá, cá... all star:
pisas nos astros sem saber!

São cinco tempos de batida
pulsando na tua,
garanto:
a gente pode sincopar.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Encontros número um

Por quê a gente não se encontra:
Sob sol do meio-dia
n´ avenida-central, de ônibus cercados?

Quase-atropelados?

Por quê o instante desejado
não nos vem
acaso
encher a vida de mais torpe emoção?

batimentos desesperados?

Corro abjurado
largando todo cuidado
de peso, medida e mão
Por esse encontro alucinado!

(já vem vindo, já vem vindo...)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Errante

De nada vale acerto dos passos?
e caminhos...
pra que tantos?
Se tudo remonta domícílio.

Mais vale ser errante
brincar ao seu, sozinho
fazer à areia carinho
como delícia que onda e vento desfazem.

Dar-se voltas pra alçar a lua.
Repente, esbarrar noutro passante:
beijar doce incerteza
até ganhar mais asa que avião!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Coisas in comuns

Dois seres
um: corte transversal no outro.
Pronto, hemorragia poética.

Sem ensaios,
são o que vibra
numa camada além, tênue e fina
de abstrações ininteligíveis.

Dois perdidos
que esperam longe
desencontrarem-se juntos.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Movimento pro forma

Antes um estilo, depois outro
que nos diga
sempre siga:
a seta da moda!

Democracia "abaixo à ditadura",
a bossa "abaixo ao volume do rádio",
rock "abaixo ao contra-baixo",
e o modernista rasga o parnasiano.

O tempo vem, engole o outro e faz mudança.
e mesmos sóis, do novo que se faz velho, e do velho um dia retrô
o movimento não é novidade: pro forma.

Beleza mesmo lá no fundo do tacho.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Cores primárias

Amor é vermelho, como coração.
Poesia é azul, feito o céu.
Dor é cinza, tal qual nevoeiro.
A espera é verde, mesmo quando pura angústia!

Eis a aquarela do poeta!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Não sei s´inda amo

Não sei s´inda amo,
não sei se quando finda
alguém intima,
ou se a própria revisita, insossa.

Quem eu amava?
ela;
ou as forças coronárias,
do prazer simples de mais pulsar?

Talvez tempo passe,
e bem diga "amor, era sim",
ou não:
sopre longe essa impressão.

Nem sei s´inda amo... quem?
Mas amor sempre convém,
em mim tomado,
e bem apessoado.

Galanteio d´hoje e outrora

De serenatas de janela,
cantar carinhoso,
embaixo baldes d´água!

O galanteio tão só capota no riso da musa sestrosa.
(o flerte sublima qualquer humilhação)

Hoje, o desdém é não.
Não porque ela sabe se não.
Não porque a velocidade dos tempos não franqueia o velho charme.

O violeiro, logo então,  ruma proutros tentos.

E a dama, consternada:
-Já? Feneceu toda devoção?

Hoje verti uma lagrimazinha pruma mulher

Hoje verti uma lagrimazinha pruma mulher
eis que brotou esse plangimento desatinado
alheio à vontade e meus apelos...

É que choro que parte
de alma devota
à mulher amada
faz inaudível qualquer consternação.

E lagrimazinha se abre, se liberta sorrindo
escorre na árida face
de quem antes não cria.

E surgem férteis emoções
num peito
[agora repleto]
dum namorista chorador

Amo imediatamente

Amo imediatamente
Na pressa sempre descontente
Um amor que cessa por instantes

Estamos ausentes
Pensando
em quando estaremos juntos

Estamos juntos
Pensando
em quando estaremos juntos novamente

Devemos amar enquanto:
-enquanto não vens,
-enquanto estamos juntos,
-enquanto não acaba.

Haja doutrina,
muita disciplina:
amor sem liberdade é uma cela escura!

Se queres segurança, não ama
espera embaixo da cama
o tempo passar.

Pasmaceira

Os amores pascem e ninguém se preocupa:
de quê serve a pressa?
vão-se como houvesse todo pasto do mundo.

Às vezes, desprendem-se entre uma colina e outra.
Não há pressa:
importante é pascer.

[Amor sem urgência não é remédio;
é moléstia que bem fingem conviver]

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Champagne et cerises

Jouer avec cerises,
boire champagne,
en suite,
manger les désirs.