quando criança, sempre olhava o céu e apontava estrelas, aceitando a lenda de ganhar verrugas
passaram-se tantos anos e sinto que as estrelas seguem as mesmas, como se vivessem um tempo acima do tempo
e nossas décadas lhe fossem segundos
entre o menino e o homem a mesma estrela hirta, confinante do incerto
estará perto ou longe? será brilho novo ou luz enfraquecida? quantos meninos viu tornarem-se homens? quantos lhe apontaram e já viraram pó?
stardust: elas também se findam suave, embora muito, mas, muito mais lentamente, saboreando a delícia do implacável apagar
abro as janelas, pálido de espanto
espio todos os andares vizinhos
quase todos, excetos os insones, dormem
hoje é dia de lua máxima cheia
toda nua, inunda a rua
e nem lhe dou bola
quero-te estrela
dos meus apontamentos de ontem e agora
como antes vivia o céu
curtindo a aragem fria e leve da serra
hoje revivo tudo isso
silenciado sob um cálice de tinto
e quase parnasianando
sei que as amo para entendê-las:
lembrei até que o céu nos havia
perdoai por todo o tempo desalongando o pescoço
sem fazer notar minha miúda significância
curiosamente tamanha à tua grandeza, que chega aqui em um rastro singelo, quase sussurante
que será do teu tempo, estrela?
viveste, olhaste, choraste, enfraqueceste tua luz?
alumia como sempre e sou eu, ora, míope?