(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

À senhora secretária

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Dona Eugênia foi, durante muitos anos, secretária da companhia Telefônica. Viúva de um casamento sem filhos, habita sozinha seu apartamento na Tijuca, patrimônio adquirido mediante financiamento de décadas. Durante os meses em que quitava as parcelas, compartilhava uma sociedade estável com seu Hermínio, militar de baixa patente. Quando ele faleceu, repentinamente, sentado sobre o vaso sanitário, o apartamento já estava quitado, mas a aposentadoria dela não seria suficiente para custear os gastos mensais com remédios para pressão. Foi então que Dona Eugênia se dispôs a retornar ao mercado de trabalho, como secretária no consultório da Médica Cardiologista, conhecida de anos do casal. Dona Eugênia hoje compõe a agenda de consultas com mesmo esmero da jovem iniciante da Companhia Telefônica, como se o ofício lhe fosse inato. Todos os dias, integra ônibus, metrô e curtas caminhadas, da rua onde mora, na Tijuca, até o consultório em Copacabana. Entre a jovem e a velha secretária, há um breve intervalo de alegrias e tristezas ordinárias. A velha, habitualmente, reconhece-se jovem, crendo na mesma metodologia de trabalho que aprendeu, nos valores que recebeu dos pais e na pouca importância do dígito "9", que deve anteceder os prefixos de celulares a partir desta semana. Dona Eugênia, em si, sempre foi a mesma, apesar da erosão do tempo e das chuvas.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Trocador

O que será, meu senhor, dos ônibus
quando se calarem as batidas de moedas 
dos trocadores, nas roletas,
anunciando partidas, chegadas, embarques e desembarques?



sábado, 19 de outubro de 2013

Saravá, Poetinha!


Não se lê Vinicius: ouve-se...

Pois a poesia não mora em letras ou estantes,
mas pousa no ar!

Vinicius é Poeta que canta,
o verso cujo encanto eterniza sair da boca
e se lança, cavaleiro, aos olhos da amada.

Não se perde em busca:
levemente beija a delícia do encontro.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Amoras orgânicas



O amor é como amoras orgânicas;
por isso quero comê-las
em seu estado mais natural.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sob a chuva

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como a gota d'água, 
que já foi rio e hoje bate no meu peito
dizendo que é chuva

imagino minha nuvem de pensamentos em garoa

poemas caindo assim,
pingando à toa.


domingo, 13 de outubro de 2013

Garotice

sonho-de-casa-árvore, Rodolpho Saraiva



cresci mirando árvores cheias de pássaros
entoando liberdade

quando tarde conheci edifícios e solidões empoleiradas

andei pensando nas árvores

não somos nós,

mas o mundo quem nos anda
e a poeira é chão
que chamam estrada

Espelho

No espelho em que me olhava
não vejo 
o quanto me imaginava;

o tempo corre aquém do bocejo.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Sócio-atleta

O dr. Alcides casou-se três vezes. Na última, com uma cigana que conheceu num bar. Passaram-se alguns anos: ela se tornou evangélica; separaram-se. Hoje, Alcides mora sozinho no apartamento da falecida mãe. Todos os dias, depois do Foro, vai ao bar assistir apresentação de músicos: samba nas segundas e sextas; choro nas terças e quintas; e bossa nova nas quartas. Apesar da certeza dessa programação, sempre se surpreende com a improvisação dos instrumentistas ou com a antipatia do dono do bar. Alcides segue a vida buscando afinação: é sócio-atleta de seis instituições de caridade e boêmio de camisa/sapato social e bermuda.

Ranheta

Deixo o berro fanho
e não me assanho:

com ranho, eu não me ganho!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Escolha

Quando você se encolhe,
a vida te desacolhe.

sábado, 5 de outubro de 2013

Pílula do dia seguinte

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Depois das juras imortais,
acordamos e não somos iguais:

a luz do dia vem desfazer o sonho.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Primeiro lustro!

Cinco anos atrás, em 24/09/2013, inaugurávamos o blog com o texto "Experimentando o indizível".

Para comemorar seu primeiro lusto, o HB! reapresenta seus textos de aniversário:

Primeiro Ano Haja Bossa
Aniversário (HB ano III)
4 anos do HB!!!

E assim, seguimos.

Sobre as épocas

Nuvens douradas sumidourenses, Rodolpho Saraiva


Todas as épocas são boas
vistas de longe,
do alto da montanha...


(de repente, uma barata entra pela janela e caminha sobre a mesa)

-As baratas sobrevivem a todas as épocas.