(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Que venha o novo, de novo!

Louva Deus, por Rodolpho Saraiva

De novo, o "sempre-novo", que já põe a novidade em dúvida. Mas é o propósito que nos faz zerar o cronômetro e abrir páginas novas. Ficção de que tudo pode ser diferente. Acalanto de encher o peito. Embora se saiba, de ante-mão, dos limites. Felicidade é muito menos concretização do que se quer. Felicidade tem um quê de arrebatamento, de surpresa. E surpresa não se pede: fica prevista. Então, nada dessa mendicância "simpática". Deixa fluir! 2010 terá ondas curtas e gigantes. Cabe ter competência para surfar direitinho. Afinal, nossa responsabilidade é que define. Não há infortúnio tão malvado que nos prive da responsabilidade ser livre. Ainda que só reste pensamento; ou esse parágrafo; ou um suspiro. Com liberdade, felicidade sempre será possível. Portanto, é melhor não pedir tanto: o pedido restringe o porvir. E se perde de vista satisfações melhores, mais livres, que ainda nem foram pensadas.

Amor em Glória

Imagem do Google

Imagine este amor:

Pessoa madura,
míope-de-óculos,
Sofridas páginas em saliva:
um romance "Glorinha":

Amor na ponta do nariz
"amor, rega as plantas"
Amar em glória não é caso nem acaso
é uma missa na primeira hora da manhã.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Demonstrativos

-Eu sou isso, você é aquilo!
-Ufana o que é, presume o que sou.
-Eu, mulher, posso.
-Eu, homem, não posso apontar conclusões muito minhas.
-Não, não sobrevivo à tua filosofia...

De repente o céu desponta.

-Se estrela, minha constelação é tão diferente da tua.
-Ah, o universo é curvo para que nossas diferenças sejam próximas!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

É vida!

Menino brotou na manjedoura.

Cântico anuncia:
é vida!
Aquela estrela convida
os natalistas à ceia.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Súplica número um

A vontade que tenho não é de beijar-te
como nas escandalosas cenas de cinema.
É andar contigo pela orla.
Segurar tua mão e dizer:

“Apaga esse cigarro!”

Agora não posas de mulher.
Não me sorverás
como fazes com teu habitual café.

Será a menina de antes
dos dedos, olhos perdidos, colo exposto.
Permitirá a sujeição da dança:
Meu passo, teu tempo.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Sexo?

Quero pousar em você,
íntegra:
abraço.
(fundo e demorado)

te alçar nas entranhas,
angariar por dentro,
até te ditar o pulso.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Rio dos reclames

o Rio dos reclames: biquines, bares, boites
se veste e despe com as coisas do Rio
e rio... dos teus reclames!

M´Eu lírico

Sei só viver de poesia
sem literatura, aos dias
pintar, sentir, desvendar
sempre inventando existências.

Viver borbulhando romance
quero agulha do palheiro,
a uma em um milhão,
que valha por todas.

A vida só é simples sem compreensão
poesia é simples e dispensa compreensão
então quero ser lírico
com sentidos abertos e indefinidos pra tudo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Abóbada

Olho na abóbada do céu
logo ali um país
e ora aqui era um tempo:
de se jogar bola na rua.

À ciência:
"a terra gira e é redonda",
é pelota que não pára:
venta todas nossas folhas.

Um menino que ontem me havia
acabou de chutar
sem saber que rodeava seu mundo inteiro.

Trato de esquecimento

“Finja que me esqueces
e juro que também o faço
E seguimos assim:
Justos e combinados.”

Perto de firmarem,
As partes pensam:
“O que será do pó que nos resta,
debaixo do tapete?”

E desistem do olvido tratado
Eis que assim converter-se-ia
em amor,
eternamente inacabado.

Pessoas Normais

Pessoas normais têm horário.
Seguem de férias à irrealidade,
aí volvem, casam-se, procriam
sorriem a todo custo a beleza da vida,
que se amarga ao hábito da crítica.
Suspiram até que a razão lhes arrefeça o coração,
E às vezes choram uma tristeza repentina.
Mas logo estendem guarda-sóis nas praias da alegria!
Pessoas normais fazem a fila andar,
sem direção, pois aí mora o prazer.
Espremem-se na folia
porque inexiste alegria vazia.
Pessoas normais são causalistas
causam quando chegam, quando vão, repartem-se.
e as vezes estudam fenomenologia:
espiam um raio, uma onda bater.

Pessoas normais não gostam de ser exceção.

Intróito

Pulemos esse intróito!
Tô assodado:
logo te cobrir de beijinhos.

Porque razão não introduz,
só encerra.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Amar incerteza

Me enamorei da incerteza
infindo mar, de marolas:
vou-me rindo;
aos maremotos sou feito triste.

Sem cotidiano:
não tem pão-com-manteiga,
nem mesa-posta,
nem mãos-dadas.

Amo mais incerteza
entremeia,
faz ao mar remoto:
brincando de estar longe de mim.