Mesmo aqui, no ponto esquecido do mapa, ermo e esmo, panta rei: a vida seguiu seu curso. O rio corre, ainda que o falsete de pedras lhe esconda as águas.
"Dez anos é muito tempo", haveria de pensar.
Alguns foram, outros se foram. Mas há no espaço-tempo uma linha curta, que encurta a história em um nó: retorno terno. Uma curva que volta à mesma praça que não muda: o cachorro dorme e a criança corre sem compromisso com o futuro nacional. Todo dia é domingo.
O rio segue regendo tudo que ocorre: seja no que se arrasta e não permanece; seja no poluto batismo da cidade, que teima em ser esquecida, fazer-se esquecida, brincar com esquecimento, abrigando lugares que desafiam o coração: "Soledade 1, 2 e 3", ruas sem sem números, estradas de chão a lugar algum, pontos em que ônibus param sem pousar.
Sob este mesmo sol, pelos prismas de um diamante, o olho vê nativo, cativo, forasteiro e retirante.
Já voltaste, depois de muito tempo, ao mesmo lugar? Vence a sensação de visitar a si mesmo, recapitulando instantaneamente todos os pensamentos, angústias e prioridades da última vez, quando circulava-se a praça para aquietar-se. A aporia cambiou, mas aquela inquietação ainda merece ser acolhida.
Aquele que revisita a cidade reencontra mais de si mesmo: não se sabe se aquelas águas turvas são fluviais ou suas.
Tudo segue meio feio e enlameado, e, ao tempo mesmo, tão poético e vulnerável.
O findar dos ciclos, por mais doloroso que seja, sempre nos fortalece. Mas os ciclos findos também nos acolhem.