(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sábado, 28 de março de 2009

Notivagando no sábado

Meia-noite de sábado me sinto ubiquo
por todos os porres, bares, festas vazias
em todos amores, motéis e luas

Sábado à meia-noite
Me espalho
não me caibo de inquietude

Navego pela orla
Acesso janelas
Cada luz acesa é uma vida de possibilidade
Cada bréu é uma libertinagem

Sábado escurece e o mundo acontece.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Sobre o universo das percepções

Universo das percepções,
o que importa
é sentido aferido
das peculiariedades universais.

É o resgate
do rasto rompido,
antes seguido, por alguém
que amou a sensação de colher.

Nisso, entorno
palavra-veículo
da beleza daquele sentido,
que a técnica é incapaz de tolher.

Dedicatórias



Perdido, num sebo
roçando estantes
Um Neruda - "20 poemas de amor,
e uma canção desesperada."

Dedicatória:
de Glória para alguém.
"Falta romance no mundo"
Há 13 anos.
Quis esquecer todo conteúdo
para fixar o paralelo das dedicatórias;
efeito desejado e concreto
que se dá ao livro.

Neruda foi a seta lançada n'algum coração
que não viu mais sentido
nos 20 poemas de amor
E, sem desespero na canção,
passou adiante..
Cinco reais.

Hoje remendo Glória,
refutando Neruda:
"Falta romance no mundo, y
NO me gustas quando te callas.",

(dato e assino)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Vilpêndio

Olhei num compêndio
pra saber que é vilipêndio
de semântica não sei,
mas sou capaz de sentir

"Estou vilipendiado"
papel picado
do roteiro que me escrevi.

Às vezes granulado,
outras exaltado:
vi que Pessoa também foi único vil do mundo.

Engraçado.
Agora o papo é outro:
A vileza também pode ser tamanha,
e a alegria de uma pequeneza fanha.

Não é ode triste, mas viva!
que tem cinza lindo,
pra quem sabe ver
o degradê colorido.

Revolução Solar

Após um porre e seguinte ressaca de euforia, o poeta sai do armário. Caipirinhas, uma big band de gafieira, uns passos de salão. Depois, choveu sem parar dentro de si, encoberto pelas mais íntimas nuvens negras. Nublado sem razão, o céu de outono que começa. Por dentro, tudo igualmente nublado: aquele nó-de-garganta, um embolado no peito. Não é coração, bobagem, descobri que é pulmão: brônquios. Exigem respiração sempre ofegante, e não há Yoga que ensine a conter. O brônquio de cada um tem seu tempo. É nossa percussão, tal qual a da banda. Se é dor, vai mais lenta, arrastada, canção. Se euforia, fugaz, esporte radical, um vôo de asa delta. Por isso adoro samba: traduz todas minhas nuances e oscilações. Fez-me descobrir dançarino-requebrante especialmente quando caí no chão. E também assim me descobri poeta, pois quem suporta sofrimento, pode amar sem medo. Poeta é quem ama sem medo, mas se tem medo, grita. E se foge, é pra se achar. Sambando, senti-me parido, de novo, aos 21 dias de março de 2009.

sábado, 21 de março de 2009

Aniversariando com alma

Maior prazer da vida
é ver-se em alma reconhecido,
e sentir-se eternecido
coração mordido de verdade.

É, coberto pelos amigos,
chover sem atino,
águas de março:
inaugurar novo sentido.

É sentir-se um menos errante
arietino ardido,
e dizer-se:
"je me dessine un mouton".

Estar almamemente compenetrado,
com todo cuidado
soprar velinhas,
perdoando do Tempo, a invasão.

É roubar os anéis de saturno,
na grande volta, dos 28
sambar gafieira
até a orquestra quebrar.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ubiquo na Avenida Paulista

No meio da Avenida Paulista
Zoológico de gente solta, no meio da rua...
Eu, do meio do mato:
urbanóide liberto!

Passos apressados, beijos sem par
mas um presente:
sensação de pertencimento,
"-faça sua tribo!"

Patino naquele asfalto...
procuro:
depois da estação do "corte-cantagalo",
uma "Trianon-Masp"

Pronde me arraste sintético
ainda com celeumas de sempre,
agora minimizados:
na mochila.

Ubi

Ponte-aérea, Rodolpho Saraiva
[meu espaço é imanente ao incerto
está acima das celeumas inolvidáveis da (in) existência]
meu recanto não é fuga
é utópica realidade de paz
é brisa serena
são doces águas calmas
verde, verde, verde

domingo, 15 de março de 2009

Desprocurados

Borbulhamos um devaneio.
De repente o vento, explode!
películas
fragilidade preciosa, levada.

Sem constância duma vida longa.

Intensidade: tese, assusta.
Realidade fere, quem desatina.
Nossas locuras são, então, comedidas
à espera do dia seguinte,

(um café-da-manhã).

Tramamos alguma coisa
noutro plano,
mas não nos achamos,
nem nos queremos mais procurar.

Nesse amar desalento,
incomoda tanto senso,
quanto rebento,
que não se quer aleitar.

Perspectiva de vôo

Escolhi corredor por acaso. Ao meu lado, mãe e uma filhinha falante. Lembrei-me da paisagem, e queria silêncio. Ao fundo da aeronave encontrei um assento-janela vazio. Mas por erro de cálculo, era lado oposto à vista. Vi então, de subida, o pão de açúcar, o redentor e copacabana, num contorcionismo, de olho no quadradinho do passageiro da fileira ao lado. Mas foi suficiente para aumentar a umidade relativa do ar do céu da cidade-de-primeiro-de-março. Estava ali, repleto, fluente, saudadoso, mas ansioso pelo cinza-pálido de São Paulo.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Milk shake de nutella

Imagem do Google


Há um nó esganado na faringe
Amor arde no gogó
(Dor de garganta)

Meus olhos-avelã marejam
sobre a mesa:
um milk-shake de Nutella!
(Gelado, amansa o papo.)

Quem vê o pranto, vê a alma.

Então, a fim, desnudo,
coberto pela ternura do teu abraço.
(Que laço!)

Sorvo e planjo.
É pela calda de chocolate que te amo!