(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Praia

O mar n´arredou pas
no que traz, leva
alguma onda
de certeza que vem e vai
até quebrar maré
alcançar o pé
aqui n´areia.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ao amigo que partiu

O amigo que partiu, trouxe de volta todas as lembranças remotas de colégio. Todos brincando de roda, e de repente espalhados pelo mundo. Mas a roda não desfaz: projeta. Todos são filhos da mesma geração. Mesma infância. Mesmo uniforme verde e branco, aquela bombacha clássica. Os mesmos desenhos, brinquedos, heróis japoneses. As coisas da mesma cidade. O dia-a-dia do mesmo colégio. O mundo espalhou tanto, mas um elo frágil ficou hasteado. Mesmo que as rodas patotas adolescentes depois mudem, as profissões cada qual pense a sua, uns tenham logo filho e casem, outros não. Mesmo que nem haja assunto. Nem haja reencontro. Há tanta dispersão no meio, mas um ponto hoje -luto- e outro, duas décadas atrás: uma saudade. Todos projéteis da mesma roda, e por isso, amigo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Frenetic-à-mente

Tenho tempo corrido

Tempo tenho corrido
corrido tempo tenho todo
Que deu frenê-tique-na-mente.

Frenetic-à-mente pensando mudo.

Ando sempre cansado
do “not disturb”
arranjo só
distúrbios próprios.

Descarnavalizado


Esse quesito não evoluciona
vivo intensas febres de não-carnaval
pois tudo é viral,
até o Dedo-de-Deus m´equaciona: "o céu é cinza"

- Neblina, né? Né... blind!

O mar de morros que m´afoga
vestígio de Guanabara chama
ode-quase-morta, sourd
irremediável parada alto soberbo.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Idiossincrático número três

Rebento ao mundo dos gostos,
buffet de tantos outros,
melhores só pelo novo,
saboroso insosso:

de repente, a fome é náusea,
o velho reaflora:
a casa da montanha, antes cela, lá espera
com seus discos, livros, páginas mortas de saudade.

Sou casa,
Recanto remoto, que me guardo
lugar de acalanto
face ao mundo que me devora.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O carnaval é uma correnteza irrefutável

Quando se vê um bloco, ou trio, repleto de passistas obcecados pelo esgotamento físico, o observador de beira de calçada sofre um contágio dúbio. De um lado, se vê aliciado a participar também, afinal são poucos dias de libertação carnavalesca, oficialmente falando. De outro, pode sentir um descompasso na obrigação de pular. O espiríto carnavalesco nem sempre incorpora igualmente em todos que estão ali. As vezes opera mais fortemente nas almas melancólicas, que bradam "você pagou com traição a quem sempre te deu a mão"; ou nos românticos, que confiam em amor de colombina (aquela sempre dividida entre dois amores, foliã bem feminina). Conforme aumenta o contágio, a individualidade vai se perdendo, o protagonismo também. Do vendedor de cerveja, ao mendigo, à mocinha de all-star, todos figurantes de uma vivência unicamente coletiva. Os gritos, passos, beijos, tudo acontece por mimetismo. Ser arrastado é a graça, ou a desgraça. Mas é certo: remar é extremamente anti-carnavalesco.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vista aérea

Um ponto nu
grão do mar de areia
um noutro, dor de prazer
tantos pontos juntos
amiúde em casinhas
do alto confundem
retas, curvas, linhas
d´ outros caminhos uns,
todos se caminham:
ponto encontro e partido.