(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

terça-feira, 21 de março de 2017

in_quieto

meias respostas não me falam
o calo do meu silencio não me amola
o desconforto é meu alento
há, lento, um tempo que me afaga

terça-feira, 14 de março de 2017

oito de espadas




na cela desse pensamento
definha o que te sonhava
doce cárcere nos seria
se bejássemos a liberdade

sexta-feira, 10 de março de 2017

poesia, não

poesia não é
sentido disfarçado
ou escárnio adulado

poesia adentra aqui à lua boa
sem seresta, pela fresta
raia ocasional o fim do dia

terça-feira, 7 de março de 2017

desordeiro

todas as retas me deixariam em casa em tempo recorde
sem estrada, retenção ou engarrafamento

o curto espaço-tempo trabalho-casa é o belo trunfo que ostento à essa altura

mas no fundo o desrumo é mais acolhedor

a curva mais longa
que não conduz a ponto algum
é o caminho mais saboroso ao final do dia

em descaminho, espio sorrateiramente o saldo do dia:

a criança voltando da escola
a velhinha namorando a xepa
o torcedores no futebol de botequim
a cara cansada da moça que trabalhou o dia todo e borrou a maquiagem
o motorista apressado ao ponto final

todas as coisas de uma terça-feira no fluxo ordinário de dia-após-dia
sem nada excepcional
repleto de mínimos detalhes incrivelmente desimportantes

sexta-feira, 3 de março de 2017

waters of march

as implacáveis águas de março
arrastam as cinzas da última quimera

até os pensamentos sobre o último poema capitulam à enxurrada

trovões berram: é março, é martes, é guerra!

as trombetas do dilúvio preludiam a revolução do sol:

saciada a sede da terra
despontam folhas e flores perfumadas com aroma da chuva