(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O café da padaria velha

O café da padaria velha é um produto nacional
que se coa em pano gasto sem perder aroma;
o café da padaria velha já bebeu Bilac, Dona Maria, João Pedreiro e Dr. Alcides, no intervalo da audiência.

A xícara velha já pousou em mãos tremulas, nos primeiros acordes da manhã; já ganhou carícias da mulher enamorada, que sorvia um intervalo de sonho nas burocracias diárias.

O café da padaria velha já foi colônia, império e hoje celebra a República 
nos descafeinados debates sobre a derradeira rodada do campeonato.

O café tão cúmplice, tão brasileiro
coadjuvante sem roteiro:
morre em pé,
por algumas moedas.

Por aí

Em cada beco, um bar
em cada bar, uma boca
em cada boca, uma língua
em cada língua, uma palavra
em cada palavra, um beijo

e no beijo, silêncio.

De tantas coisas, somente algumas são fundamentais;
em todo tempo, há algumas eternidades mui pequenas.

Essa saraivada de filosofias mora suspensa no ar,
no ínterim entre pegar o copo e sorver a cerveja.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

España del corazón



Nocturne, Miró

España decoración
de Gaudí y Miró
Miro montañas de Lorca
Y loco por Ella, sigo como cavallo surrealista
desde aquí hasta Dalli

poco a poco voy, interamente loco
sin frenos por las calles
por cuadros y otros lugares
caminando por callejuelas lejanas
hablando con voces gitanas,
que me dicen:

"Erre con la lengua;
Jota con la garganta;
pero todo con el corazón".

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Tonelero


Luna-Tonelero, Rodolpho Saraiva

Entre a tal paragem do Rio Paraná
por onde o Brasil levou a guerra do Paraguai
e a fresta de concreto por onde escorre a lua de Copacabana...

É na Tonelero, 
à margem do rio, na margem do rua
que ouço jazz coberto de notas multicoloridas

que jazzem meus pensamentos mais desafinados
e garranchos mal poemados

no tor-sur-ton do sustenido
a vida me ganha sentido

estou na calçada
ao lado das naus que passam
tudo segue levemente de passagem
e me quedo mais tranquilo.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Depois da chuva

Imagem do Google

Ah, se soubéssemos o que há depois das chuvas...

talvez os pingos importassem menos,
e nos molhassem mais.

Em meio a tantas mudanças climáticas,
de tons, variações, formas simbólicas de nuvens,
nossa certeza é minúscula:
como um pingo.

Não ouso saber que mudança os céus espreitam;
nem vejo clarividência em dias solares;
a ciência da vida é só:
a não ciência.

Hoje, chove porque chove
E, amanhã,
o tempo nos dirá.

sábado, 2 de novembro de 2013

Sobre os muros

De ombros aos escombros,
sobre o concreto que me resta,
vejo o horizonte perdido
da liberdade que me presta.

Depois de murros em muros,
encontro amoreiras nos dois lados:
aqui, raízes obreiras;
ali, os frutos, que serão passados.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Obliteração

Yataoi Kusama no CCBB, por Rodolpho Saraiva

O esquecimento disse à lembrança:
- Posso obliterá-la totalmente!

Ela, sensata, retrucou:
- Quando o fizer, estarei estrelando
sor-ra-tei-ra-men-te.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

À senhora secretária

Imagem do Google


Dona Eugênia foi, durante muitos anos, secretária da companhia Telefônica. Viúva de um casamento sem filhos, habita sozinha seu apartamento na Tijuca, patrimônio adquirido mediante financiamento de décadas. Durante os meses em que quitava as parcelas, compartilhava uma sociedade estável com seu Hermínio, militar de baixa patente. Quando ele faleceu, repentinamente, sentado sobre o vaso sanitário, o apartamento já estava quitado, mas a aposentadoria dela não seria suficiente para custear os gastos mensais com remédios para pressão. Foi então que Dona Eugênia se dispôs a retornar ao mercado de trabalho, como secretária no consultório da Médica Cardiologista, conhecida de anos do casal. Dona Eugênia hoje compõe a agenda de consultas com mesmo esmero da jovem iniciante da Companhia Telefônica, como se o ofício lhe fosse inato. Todos os dias, integra ônibus, metrô e curtas caminhadas, da rua onde mora, na Tijuca, até o consultório em Copacabana. Entre a jovem e a velha secretária, há um breve intervalo de alegrias e tristezas ordinárias. A velha, habitualmente, reconhece-se jovem, crendo na mesma metodologia de trabalho que aprendeu, nos valores que recebeu dos pais e na pouca importância do dígito "9", que deve anteceder os prefixos de celulares a partir desta semana. Dona Eugênia, em si, sempre foi a mesma, apesar da erosão do tempo e das chuvas.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Trocador

O que será, meu senhor, dos ônibus
quando se calarem as batidas de moedas 
dos trocadores, nas roletas,
anunciando partidas, chegadas, embarques e desembarques?



sábado, 19 de outubro de 2013

Saravá, Poetinha!


Não se lê Vinicius: ouve-se...

Pois a poesia não mora em letras ou estantes,
mas pousa no ar!

Vinicius é Poeta que canta,
o verso cujo encanto eterniza sair da boca
e se lança, cavaleiro, aos olhos da amada.

Não se perde em busca:
levemente beija a delícia do encontro.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Amoras orgânicas



O amor é como amoras orgânicas;
por isso quero comê-las
em seu estado mais natural.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sob a chuva

Imagem do Google


como a gota d'água, 
que já foi rio e hoje bate no meu peito
dizendo que é chuva

imagino minha nuvem de pensamentos em garoa

poemas caindo assim,
pingando à toa.


domingo, 13 de outubro de 2013

Garotice

sonho-de-casa-árvore, Rodolpho Saraiva



cresci mirando árvores cheias de pássaros
entoando liberdade

quando tarde conheci edifícios e solidões empoleiradas

andei pensando nas árvores

não somos nós,

mas o mundo quem nos anda
e a poeira é chão
que chamam estrada

Espelho

No espelho em que me olhava
não vejo 
o quanto me imaginava;

o tempo corre aquém do bocejo.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Sócio-atleta

O dr. Alcides casou-se três vezes. Na última, com uma cigana que conheceu num bar. Passaram-se alguns anos: ela se tornou evangélica; separaram-se. Hoje, Alcides mora sozinho no apartamento da falecida mãe. Todos os dias, depois do Foro, vai ao bar assistir apresentação de músicos: samba nas segundas e sextas; choro nas terças e quintas; e bossa nova nas quartas. Apesar da certeza dessa programação, sempre se surpreende com a improvisação dos instrumentistas ou com a antipatia do dono do bar. Alcides segue a vida buscando afinação: é sócio-atleta de seis instituições de caridade e boêmio de camisa/sapato social e bermuda.

Ranheta

Deixo o berro fanho
e não me assanho:

com ranho, eu não me ganho!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Escolha

Quando você se encolhe,
a vida te desacolhe.

sábado, 5 de outubro de 2013

Pílula do dia seguinte

Imagem do Google


Depois das juras imortais,
acordamos e não somos iguais:

a luz do dia vem desfazer o sonho.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Primeiro lustro!

Cinco anos atrás, em 24/09/2013, inaugurávamos o blog com o texto "Experimentando o indizível".

Para comemorar seu primeiro lusto, o HB! reapresenta seus textos de aniversário:

Primeiro Ano Haja Bossa
Aniversário (HB ano III)
4 anos do HB!!!

E assim, seguimos.

Sobre as épocas

Nuvens douradas sumidourenses, Rodolpho Saraiva


Todas as épocas são boas
vistas de longe,
do alto da montanha...


(de repente, uma barata entra pela janela e caminha sobre a mesa)

-As baratas sobrevivem a todas as épocas.

domingo, 22 de setembro de 2013

Reclame

Chega de reclame...

Re-clame!

Fale menos de si e mais do mundo
Fale menos de glórias e abrace o segundo

pois a verdade não habita a espuma; está lá no fundo.

Perca-se, erre-se, deite-se e dane-se:
a História já está cheia de heróis!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Raio X

Debaixo da máquina ressonante
dou-me conta que dentro de mim não há princípios ou certezas;
mas ossos, vértebras e derivações

e o que me sustenta mesmo é a coluna.

Extinta minha consciência, o carbono-14 dirá, milênios depois, quem sou.

Pronto-socorro














o socorro não está pronto
e desespero é emergente;
são tantas filas e triagens que a cura perde o rumo.

qual é a cura?

sigo acurado em não sabê-la.

Ficar

A espera pela vida é longa
e quando chega
já é hora de partir.

Ficar é uma arte.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Maktub

O que está dito, está feito;
não há defeito nem jeito:
as pegadas formam a estrada de quem nem pisou direito.

Cada passo pisa um rumo estreito.

O que fica?

Um dia será a estrada que outro seguirá contrafeito.

Pose de poeta

Às vezes esqueço do poeta que fui, poderia ou um dia tentei ser.

É como um terno branco, que deixo no armário para ocasiões excepcionais.

Quando me visto, sigo a minha festa solitária na qual só valem as minhas percepções. A gramática é minha e as importâncias das coisas também.

Não tenho pose de poeta: sou funcionário público simples que bate o ponto todo dia.

Percorro a normalidade de um transeunte qualquer. Ninguém pode apontar que ali vai um poeta.

Poesia é coisa muito minha;
quando escrevo, interessados podem ver os resquícios.

Mas se não virem ou ainda que eu nada escreva
seguirá a poesia em seu estado mais fenomenal:
a potência.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Potiguar

O mar é potiguar
é generoso em todo lugar:
dá-me sua vista aqui do pomar.

Mar Potiguar, por Rodolpho Saraiva

domingo, 8 de setembro de 2013

Meia-lua-inteira


A lua vaga em si:
o simples rasgo de luz ilumina,
mas é o breu que lhe faz meia-lua-inteira.

sábado, 7 de setembro de 2013

Túnel Velho

Entre o velho e o novo
me atravessa qualquer coisa assim
que já me foi,
ou nunca antes.

Pelo Túnel, emendo bairros a pé
e uma cidade se constrói;
me sinto habitado por tantos lugares.

Olhares -que já foram- me cercam;
olho o que virá, então:

minha casa?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Ao que me fui

Eu Aranha, por meu pai.


Quando era menino sonhava ser grande.
Hoje sou homem que me sonho menino.

Meus deslumbramentos, hoje sóbrios, invejam a grandice de outrora.

(crescer é uma questão de estatura
e de um projeto que nem sempre é nosso)

O menino fazia castelos negando a arquitetura,
como se ousasse o céu em linha reta

dando de ombros à gravidade...

A falta que nos move



Somos repletos de ausências:
dos amigos de infância, dos entes que não estão mais nas reuniões de família,
do tanto que deixamos de ser.

A saudade é quântica!
Física e mecânica que nos faz caminhar.

E partindo ao que nos falta,
prometemos abandonar tudo o que temos hoje.

Ao velho causídico

"Advogado que não vai ao Foro todos os dias não é Advogado", dizia um professor dos tempos de faculdade. Com fulcro neste postulado, o velho causídico transita diariamente por diversas varas, secretarias e departamentos do Tribunal, mesmo em dia de sexta-feira, quando dificilmente encontra Juiz que lhe atenda. O velho causídico é poetinha das tortuosas doutrinas jurídicas, redigindo petições com expressões latinas e descobertas arqueológicas do vernáculo. Sobre a tribuna, desempenha técnicas de oratória persuasiva, em defesa de causas ganhas e perdidas, diante de uma sonolenta platéia de desembargadores e estagiários de primeiro período. Vez em quando, após uma dessas atuações que reputa veemente e brilhante, segue ao bistrô para sorver solitariamente uma dose de uísque, compartilhando seus feitos, eventualmente, com os garçons. Seu paletó grafite desbotado, a placa de seu escritório e seu cartão profissional formam sua identidade ostensiva. Ao uísque, compete todo o resto, em horas de vaguidão e angustia.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

What's up, soul sister?

As almas seguem incomunicáveis, 
no tráfego arrebatador do dia-a-dia:
curtidas e compartilhadas compulsivas,
tato e mira nas telas de retina.

De repente, o olho se cansa do que não vê:
miopia!

O tato sente-se intátil.

Sobre assuntos mais essenciais a tecnologia não fala;

então, por um dedo de prosa a alma se estala...

Olhos nas pupilas, em banda lenta, um carinho leve;
e sem língua alguma, a conversa d'alma anuncia-se:
mediante alerta vibratório na aorta.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

maiêutica do poema

Imagem do Google

a poesia nasce do atrito
e não adianta berrar e ficar aflito;
é nos esbarrões da rua que se vê o bonito:

"viver é abrir as janelas do peito!"

à essa máxima, o poema segue adscrito.

domingo, 25 de agosto de 2013

Dream Theater

Ela era pura.

Ele tão quanto.
(mas se esforçava, por mágoas remotas, em aprender a ser canalha)

E assim, ela lhe condicionou intimidades sem que se despisse totalmente,
pois sabia que ele não voltaria mais
e que era bastante sincero.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Epifânia

É um nome de uma mulher
com assento circunflexo 
que nem a reforma ortográfica aboliu.

Mas Epifânia pode ficar ser acento
e ser uma qualquer que anda pela rua escura
mas que arrebata de repente:
uma brilhante ideia.

Clair de lune

Caminhei em direção a lua cheia
e, então, fiquei sem órbita:

minhas gravidades tornaram-se leves
e flutuei!

Lua do Calçadão, Rodolpho Saraiva

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Me, myself and I

Há poemas cujo sentido não cabem num outdoor:
são viagens íntimas aos sentidos mais particulares
como observar aquela traça que percorre há dias o chão do apartamento...

Há sentimento que é lento e não atende pedido fast food:
cresce no peito em fermento, sorrateiramente!

Sobre assuntos me, myself and I é que me deito
nesse desafio de contar um segredo que a ninguém interessa saber;
no entanto, é o que me arde no peito e, por isso,
ser poeta é meu direito.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Funk-Ostentação

Ostentas sobretudo o que não tens:
beleza, discursos, viagens...
de um mundo só teu
de um mundo só;
mundo, mas só.

E segues de dia a rotina;
à noite, alucinas...
subindo até o álcool,
descendo até o chão.

Chão, chão, chão...

Teu maior desafino
é um funk que aos outros rima:

Funk-Ostentação!

um dia crônico, uma crônica.

Era uma vez um dia crônico, em que se fez uma crônica. Ano de 2007.

Eu seguia de paletó, pelas ruas do centro da cidade, na degola de uma gravata, sem rumo.

Rosto escondido em óculos escuros... e plangendo copioso!

A primeira porta que me acudiu foi a da igreja de São José, onde acontecia uma missa monumental, de cânticos ecoantes que me incomodavam.

Adentrei aquele templo, alheio de toda crença, desnudo de qualquer fé.
Atravessei o altar em busca do atendimento do padre, um senhor bem velhinho, cujo semblante suscitava uma bondade inefável e ecumênica.

Rendido, sentei-me diante dele.
Eu era um homem de terno que somente soluçava.
E o padre pediu que me acalmasse, pois eu era um homem de terno.

Sem diálogo, bondosamente abriu a gaveta e me estendeu um livreto de catecismo.

Mesmo sem a palavra de alento que suplicamos durante a dor máxima, aquele gesto - o melhor que o vigário pôde supor - me afagou.

Então percebi que a vida explica-se num sentido tão particular que, muitas vezes, não nos convém compreendê-la.

domingo, 11 de agosto de 2013

Começo

Imagem do Google


desconheço meu começo
quando ando pelo avesso
noto o fio que me perdeu

sou etéreo, ereto e reto
pressuposto de alguma rima longe
aonde não cheguei

sou verso composto, proposto e disposto 
ao meu fim

sou, enfim, o que acaba
cada dia um pouco
quando mais me entendo por gente
vou deixando de ser

Entre e tantos

Entre tantos, somos
Entretanto
Entre e tantos

miúdos mas sérios, 
na f(r)esta que nos cabe.

Entre muito e pouco,
entre sim e não.
Entre não.

Às vezes, ainda não fomos;
talvez, tais vezes todavia:
-porém é nosso caminho.

Entretantos:
Somos meu e teu:
-sozinhos.

Brisa

Já se passaram tantos anos
mas as folhas restaram as mesmas
a parede que ergue a casa também

Há tantas coisas para as quais o tempo é brisa
singela e à tarde
coça com cuidado
e respeita a existência.

Como nosso amor...

que não perderá a forma nem a moldura
ainda que sejam teus cabelos brancos
e teus olhos herança do brilho de um dia.

sábado, 3 de agosto de 2013

Copa bacana

Teatro em Copa, Rodolpho Saraiva


















Nesse palco de areia
a multidão assiste ao sol poente
e caminha...

caminha de enamorados.

Do outro lado, a janela de Nara Leão e
quantas bossas mudas nas paredes...

Nos apartamentos tão vizinhos, 
nas calçadas apertadas
as crônicas nascem e morrem.

Nessa literatura sem tinta, 
que a dureza da vida faz relenta,
O mar ali:
sempre em cena!

terça-feira, 30 de julho de 2013

Dev(e v)ir

Antes, a sabedoria era do "pé atrás";
hoje, o além-pé,
que não obedece às pernas, mas às promessas do futuro.

-dev(e v)ir...

Porém, correria não rima com poesia.

Alheio aos congestionamentos, sei:
o ócio contemplativo me constrói!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Reacionarismo

O certo é duvidoso.

Somos fruto do pecado,
daquela macieira atávica...

Somos criaturas, feitas com barro
então, quando criamos, erramos;
mas a lama negamos
E, assim, nos tornamos humanos,

Humanos, em demasiado!

sábado, 6 de julho de 2013

(C)alma

Não tenho calma
com quem não tem alma

Só desalmados desamam
porque o amor se dá a quem quer
a quem sabe o que quer
a quem sabe quem quer

A quem sabe querer bem...

Saber o quêrer:
(C)alma!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Odete

Esguia vedete, 
Que à poesia me remete:
Odete, Odete,
Ódete:

Minha rima ruim por ti se derrete
E, assim, sou a ti marionete:

Quando passas, preparo meu topete.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Saudosa Miloca

Eu nunca tinha experimentado a morte tão de perto. Já perdi um avô materno e um avô paterno, mas era criança, minhas percepções eram outras. Mas com Dona Miloca foi tudo diferente. Ela era da pá-virada, sempre com uma fala pronta, estava longe de ser a mais politicamente correta das avós. Sempre autêntica: rústica, criada por minha tataravó numa casa enorme, na Tijuca, que "tomava um quarteirão inteiro" - dizia. Seus pais eram bem simples: a mãe zelosa e o pai, vez em quando ficava "bicado", e ouvia chorinhos. A vida lhe deu um grande amor, meu avô: "o velho era alto, muito bonito, mas era safado que só ele". E assim, muitas vezes ela, no alto da revolta com as traquinagens do velho, ameaçava sair de casa, ou quebrava cristais, enquanto ele se quedava num silêncio insuportavelmente elegante. Dona Miloca resumia minhas vivências mais cariocas, as coisas da Tijuca, os irmãos de Realengo, toda essa malandragem que contava de longe, pois teve uma vida boa, confortável. Quando ia num restaurante chique com meu avô, às vezes curtia levar um talher de prata pra casa. Uma vez, dentro das Lojas Americanas, a luz acabou e ela abriu um saco de balas e me disse "toma, seu bobo". O que beirava a vilania ficava cômico com Dona Miloca. Quando puxava os filhos (ou netos) pra dentro de casa, pra lancharem às escondidas para não dividirem com os amiguinhos na rua. Essa irreverência de personagem escapava ao cristianismo, embora fosse devotíssima à Nossa Senhora.

Ela foi a avó que permitia o impossível, nos presentes mais caros: Castelo de Grayskul, bicicleta, computador; nos passeios ao Rio Sul, Mesbla, Sears. Na adolescência, minha maior alegria era que passasse uns dias em Teresópolis e comentasse dos vizinhos, parentes e, me fizesse rir tanto quando lhe perguntava se algum quitute estava bom e ela respondia na lógica negativa: "não está ruim não". Por tantas coisas, era muito difícil conviver com ela: se foi avó divertida, seus sobressaltos assustavam os filhos. E carregava dentro de si a centelha da insatisfação humana, que com o tempo, foi se agravando; mas sua personalidade resiliente a tornava imune à ação do tempo. Sempre com boas feições, nunca padeceu de doença grave; viveu saudável até o fim, embora sempre clamasse pelos créditos de seu filme. Desde os setenta e poucos já resmungava "já tô fazendo biscoito, não quero ficar enchendo vocês muito tempo não". Mas o tempo lhe concedia mais e mais, ironizando suas súplicas.

Só nos últimos três anos percebi que ela foi se exaurindo vagarosamente, nas idéias, nas certezas. Restava uma teimosia cíclica e repetitiva, com a qual a discussão era inócua. Nos últimos meses, senti minha avó se esvaindo.

Ontem ela partiu e me caiu a ficha que àquela personalidade forte não foi concedido o dom da imortalidade.

A parti daí me doeu, senti a perda, já calculada, mas ainda não sabida.

Ocorreram tantas fotos, falas, imagens, possibilidades.

Nunca houve graça no Natal sem ela; as reuniões de família tinham outro teor.

Tudo isso fica latejando em mim, num desarranjo, numa absoluta incapacidade de transmutação.

Não sei se posso resumi-la a lembranças, porque o improviso de suas tiradas eram a maior arte.

(...)

Enquanto isso, um grande amigo meu teve uma filha. A vida aponta novos atores.

(...)

Uma foto nossa desponta no porta retrato digital: eu, vó e minha afilhada, ainda bebê.

As gerações se sucedem, mas nada se substitui.

O doce de laranja-da-terra é improrrogável.

A morte não transforma, esfacela.

Mas após o fim, saudade me resta, saudosa:
-Saudosa Miloca!

segunda-feira, 24 de junho de 2013

InteRIOrano

Dentro de mim houve um rio
Até que houvesse Rio
E eu encontrasse o mar.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Exteriorano

Acordo com as janelas abertas desde que extirpei minha perna interiorana.

Então, ando meu passo corrido e travo assuntos rápidos 
sem que nada seja abrupto;

Contudo, no seio disso tudo,
realço minha desimportância.

A vida corriqueira, como a dialética do rio e da margem, mostra rochas que sobrevivem ao curso:
alheias à toda pressa, quedam-se certas.

Do mesmo modo que sempre haverá vaquinhas para as colinas,
o homem interiorano me habita mudo

com olhar atento aos mundo que me é extremamente (des)importante...

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Tango

O tango é um beijo apaixonado
que escorre demorado
como gota de saliva, 
como gota de suor.

É o silêncio enamorado, calado em movimento
falando do tormento de morrer amando,
de viver se dando
cada passo, uma pisada de esquecimento.

Tango é mais que sentimento:
explode da alma o sofrimento
e faz dança.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Media luna



No lo sé...
Paso por bodegas desconocidas y me siento cerca de recuerdos ancestrales...

La media luna que desayuno también me alumbra la noche.

No soy hombre de palabra,
porque se me ocurren varias...

Soy poeta que sueña cuando se levanta!

sábado, 25 de maio de 2013

Marejados

Então, à beira do mar fiquei
curtindo o retorno inefável das ondas
(que bate em mim como se eu fosse areia)

Hesitei um mergulho;
mas meus olhos foram e voltaram:
marejados.

despedida

A vida tem resposta nos radicais livres das palavras.

"des-pedida":
abdicar aos pedidos, súplicas, velas acesas...
e seguir sorrindo
como se esbarrasse breve com um amigo na calçada

quando perco tudo
e sobra nada
eu ganho: vida,
minha asa, minha liberdade!

segunda-feira, 6 de maio de 2013

coração alado

Dei asas ao meu coração
que pousou, feito acepipe,
nesta mesa de bar.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Aos dezenove

minhas nuvens douradas, por Rodolpho Saraiva





Aos dezenove,
eu namorava utopias
e não sabia descrevê-las.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Por aí

Por aí, aonde?

A achar um caminho que não esteja pisado,
por onde  tantos outros mochileiros não passaram

Talvez haja um lugar no mundo, impensado, 
de que possa me apropriar, 
ainda que sem escritura,
mas na minha ideia.

domingo, 14 de abril de 2013

Pólen-amor

O amor fez da abelha à flor;
e o que os unia:
pólen.

Entre o terno e o absurdo, espalha-se, fazendo campos floridos, dizendo ao vento:
sou pólen-amor...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

egoísta

Imagem do Google
O homem é egoísta:
sempre à beira do abismo,
não caiu em si.

domingo, 31 de março de 2013

Eloqüente


O poeta dizia o que não cabe em palavras...
tentou e engasgou.

À beira do mar, todo pensamento a onda leva
e a maré vai subindo até marejar os olhos!

Nessa maresia, o poeta é estátua muda,
aquém do mar da compreensão,
refém de uma pose para foto com quem passa pelo Posto Seis...

e se senta dois minutos ao lado do Drummond.

sábado, 23 de março de 2013

vastidão

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o mundo é tão grande, amor
tanto bares, tanto mares, tantos ares...
e desencontros, as maiores probabilidades

encontrar é acaso
o que (re)buscava
quando desamarrei os cadarços e tropecei

sou despropositado em tudo o que faço
nem atino quando o destino me apronta um laço
meu tempo e espaço têm a miudeza do que sei

sexta-feira, 22 de março de 2013

Caminhos e preposições

Onde estamos?

Sem proposição, quedamos.
Sem preposição, nem um passo vamos...

Para onde o pé alcança;
aonde a língua estica o céu...
da boca
outra.

A preposição movimenta caminhantes,
e cimenta os retirantes que engolem as letras do caminho.

terça-feira, 19 de março de 2013

Conserva

Sou rebelde à rebeldia dos causídicos,
pois, desprovido de tantas éticas, morais e religiões...
não tenho causa:

sou um causo, quiçá, reacionário à rebelião que em si não renova.

O novo que não inova é recente e só.

Um sopro à toa, que não vai além, não me convém;
se a rebeldia da causa é serva,
prefiro, então, curtir em conserva.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Biográfico

vista da janela do Trabalho, por Rodolpho Saraiva


De todo tempo que a passei a esmo,
tentando ser eu mesmo,
ainda pago juros.

Então, serventuário: virei potencial-homem-sério.

Antes, errante demais, a mim e às mulheres;
mas muito mais genuíno,
como se fosse menino,
ainda me carrego assim.

Sim, ainda que perca dias à espera,
eu juro:

-farei juras.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O Rio e a bossa

Copa à tarde, Rodolpho Saraiva

Ouço bossas novas
nas ondas que morrem na areia.

Urbi et orbi

Imagem do Google

quero subir na montanha mais alta e gritar que te amo,
gritar, gritar, gritar até
sussurrar nos teus ouvidos.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Minha vela se apagou
com um sopro de esperança.

sábado, 9 de março de 2013

Pole-amor

Depois do monoamor e de poli-amor, a moda agora é:

Pole-amor,
no pole, amor...
sobe-desce até o céu!

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terça-feira, 5 de março de 2013

Entre nous

Entre nós só há um pecado,
pecadinho, cadinho de nada...

rien de rien.

Entre nous, il y a le feu,
que às vezes queima, às vezes brasa.

Quelque chose comme...
melhor nem pensar!

Eu te penso numa ida e vinda;
numa vida:
como se já fóssemos, já tívessemos ido.

Mais, nous ne sommes pas encore.

domingo, 3 de março de 2013

Ímpar

Eu ando solo...

E tanta gente por aí,
que é mais gente quando leva uma pequena pela mão...

Eles in pares;
eu - ímpar.

Calço dois pares,
e ando um-pois-um.

sábado, 2 de março de 2013

Walking Arround

Encontro a poesia no contato:
tropeçando nas calçadas,
esbarrando em transeuntes.

Cada cara é a capa de um livro que já me diz logo:
um enredo de angústia, espera ou alegria.
Os prédios de concreto escurecido,
e aquelas casas de comércio, com mostruário antigo, desbotado, esquecido...

As ruas percorrem caminhos de lembranças,
que não são nossas, mas nos permeiam.

O poeta atravessa, como se por acaso, usando técnicas de briefing...

Na sua retina se vê a rotina do olhar atento à desimportância.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Enseada

As ruas me dizem que é noite.
As chuvas me dizem: é março!

O escuro não assola o dia,
que virá sem saber...

A beira é começo e fim:
é mar em terra firme...
enseada.

Começo comigo e me findo,
vivo à minha arte;
pois sou de tudo um pouco o que me beira,
até esbarrar em alguém,

até cair em mim!

Debilóide

Enquanto trabalhas o deltóide
teu músculo principal atrofia.

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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Dopamina

A multidão alucina,
aniquila a pretensão de ser só,
o querer só ser.

É proibido ser mais um na multidão:
há que se estar acima!

E, pra isso, hemos de tomar dopamina!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Beijo Vegano


Teu beijo
-salvo engano-
tem cheiro e gosto de capim. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Coração em desalinho

O poeta há de amar muito,
há de amar muitas!

Amar variadamente,
amar intensamente,
amar imensamente.

Amar:
há mar
ah, mar

ao mar.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Luto

Depois do final absurdo,
a vida nos conspira o luto:
tudo que fica é resto.

Se resta o caminho,
o passo é dissoluto.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Reality

Don´t touch screen.


-Touch skin!

D d´ilhado

Pensava que meu violão já não te tocava
com primas desusadas, pausadas e mudas

De repente há corda
o repentino som assola
o silêncio, então, viola

Sonho tanto em te tocar
até que esta arrebentação
meu sonho em sol te acorde

Sonhei com uma poesia

Sonhei com uma poesia linda,
que assim formava:
um verso terminava num;
outro, então, começava...

Continuísmo sutil, numa transição sampleada...

Mas já nem lembro...

-O sonho acorda e a rima finda.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sumideiro

Ando por aí, sumindo...

Viver é a arte de desaparecer aos poucos...
Sumir é uma arte,
de traços mínimos da maior expressão.

Assim, aquieto ao relento
ouvindo grilos e um grupo de seresteiros que violam sambas canções...

Nós unidos pela harmonia do sumiço.

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Carinhoso

Só os seresteiros sabem:
hei de morrer amando
e, enquanto houver lágrimas, chorando.

Pois eu amo o choro
que chora comigo, tão amigo
o carinhoso que sou,
de aura pura.

Eu sou um homem que chora
e enternece à toa!

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O Rio e o Riso

O Rio esqueceu do riso
daquelas praias verdes
do vivo o morro sem ranger os dentes...

O rio é riso, não gargalhada
É batucada, sem te(n)são de pancadão...

O Rio que não tem bossa e não se ouve, não sabe sorrir uma tarde à toa...

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Cabimento

Não tem cabimento
essa história de querer;
somos o que pudemos:

Eu te caibo, você me coube...

E assim atores,
fazemos amores
do que é só:

Encaixe.

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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Centelha universal

Os grãos dessa colheita espalharam-se por todo lado.

Até aqui.

O chão dessa lavoura é sempre o mesmo: mudam-se os pés.

Meus pés caminham no plantio orvalhado que logo me matará a fome...

Os chãos, os pés, as mãos...
tudo é arranjo
da centelha universal que nos une.

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Vinho-doce

Sorvo o vinho doce...

Como no amor, quero inebriar adoçado, sem secura...

A austeridade forma adultos,
desmonta crianças,
dilacera adolescentes.

Eu vinha austero;
veio o vinho e mudei.

Eu quero o açúcar mais gordo que possa haver:

Nas bombas de chocolate, nos vinhos baratos, nas frutas, flores...
Nas damas.

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Sobre a chuva fina

A chuva fina torna o passo apreensivo com poças, a caminhada aflita nos desvios de guarda-chuvas pelas calçadas, o trânsito mais irritante...
Mas se da janela olho, a serenidade de mim se apropria.
Todas as mazelas, suspensas no ar, escorrem pelas calhas.

As ruas estão limpas.
As pessoas aquietam em seus cantos, desprovidas das urgências de um dia de sol.
As lavouras resplandecem.
A chuva fina me faz crer numa orquestração invisível dos acontecimentos...
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Embora

Embora ninguém goste de partida,
eu espero a divertida hora de dizer
"vou embora!"

domingo, 27 de janeiro de 2013

Stoppage


Paro pra fazer poesia...
então, paro de fazer poesia.

(aquele verso me acelera)

Se não paro, não poemo;
se paro, deixo de poemar.

Não consigo respeitar as leis de trânsito!

Revival

Quanto mais alto estou,
menores os amores que me passaram.

Hoje acertaria todos os meus erros
e me encontraria por onde desencontrei.

Mas não sentiria daquele jeito...

Não amaria tanto!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Paraíba

Paraíba dorme na rua. Sua história toda a cidadezinha conhece: perdeu todos os documentos. Vez em quando aparece no fórum bêbado, mas o guarda o coloca pra fora. Passa um tempo, volta aprumado, confiante que vai resolver. Então, sabe sua origem: cidade natal (no interior da Paraíba), nome de pai e mãe, data de aniversário. É atendido pelo Defensor Público, que oficia ao Cartório de Registro Civil, solicitando a segunda via. O Cartório responde que em todas as buscas realizadas, não encontrou o referido registro de Nascimento. Paraíba fica nervoso, mas logo à tardinha retoma sua rotina na praça. Sempre rodeado de vira-latas, e geralmente com uma garrafa de pitchulinha na mão, certa feita subiu num palco recém-montado pela Prefeitura e ficou cantando por horas, acompanhado por uma platéia de deboche bem interiorano. Às vezes trabalha; faz um bico na lavoura ou na lida com porcos. Paraíba, não consta do livro tombo, está "desdocumentado", não lê, não escreve. Mas carrega uma dignidade ínsita, que o preserva da mendicância. Justamente quando me venta essa sensação, ele me vê passar; interrompe a caminhada e me aponta: "amigo, gosto de você do fundo do meu coração!"

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Expectativa de_vida

A vida é uma... Dívida.
Vou quitá-la aos setenta,
Entrar na compulsória
E ver as cataratas.

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Avenida Atlântica

Sou um realista bêbado;

quando o dia morre, a noite me socorre.

Todas as ilusões são passageiras:
duram até a luz chegar.

Amor, amor, amor:
é minguante em noite turva...

...

Rola um programinha?

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Livraria Cultura

No Centro da cidade, há vida
ávida em cartaz:
-filmes pornográficos para adultos;
-exposição dos Impressionistas;
-balé no Municipal;
-ambulantes vendedores de inutilitários, como a luva em forma de pato e o fabuloso ralador de legumes;
-malhas históricas sob nossos pés: chão que já foi colônia, império e república.
Hoje estou defronte à nova Livraria Cultura da Senador Dantas,
com incontáveis livros, dentre os quais o meu, por encomenda, em quinze dias.
A vida é como o Centro e a Livraria Cultura:
livros em prateleiras ou por encomenda
cujas histórias sequer serão lidas,
mas sempre acessíveis ao aguçado senso de observação.

Gregários

Fazemos nós ainda que separados.

(e caminhamos com cadarços desamarrados)

O laço ata e desata por desatino do destino.

Somos gregários:
calçamos em pares,
pisamos nos pés que nos dançam
e tropeçamos naqueles que pisamos.

E sempre assim seguimos.

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