(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sábado, 31 de outubro de 2015

SOLidão

O semeador, Van Gogh


o sol brilha só
o sol é uma nota single
o só é
em si mesmo
sol
ainda que não seja luz
a mais ninguém

domingo, 25 de outubro de 2015

azul lejos

azules lejos
mis paredes, mi techo 
colores de mis sueños
siento azules
azules, lo siento




ironia que chove fina

Imagem do Google


a chuva fina
que caía
era uma ironia fina
à tua alegria solar

sábado, 24 de outubro de 2015

egojourney

viajar é mais
do que
ir
a outro lugar
fazer check-in e facebookar

é sair
de si

abandonar-se

viajar não é um egotrip.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Rio, apesar de tudo

Samba do avião, Rodolpho Saraiva


há pesar nas marquises e favelas
na cara pálida da negra velha sem futuro

e a sopesar:
os tiros, os alvos, as vítimas
os esbarrões e as carteiras batidas
as verdades nuas e cruas
sem pesar a estiagem e as chuvas de verão...

apesar de tudo errado
Rio de tudo sem pesar
Rio sem pe(n)sar em tudo
Rio, apesar de tudo

sábado, 10 de outubro de 2015

sobre pessoas e lugares

pessoas são como lugares:
há visitas boas de um dia
há viagens incríveis de semanas
há moradas agradáveis de anos

mas a jornada tem bom tempo de despedida
a eternidade pesa e nos é inimiga
suas cordas amarram a asa ferida

a Ida é sempre a saída




terça-feira, 6 de outubro de 2015

Sumidouro das gentes

Sumidouro recebeu esse nome por conta de um fenômeno do rio Paquequer: suas águas desapareciam debaixo de uma pedra e, mais à frente, ressurgiam vistosas.

O açoreamento do rio extinguiu esse acontecimento em relação às águas. 

Isso, porém, passou a acontecer com pessoas.

Dei-me conta de que, durante o tempo em que por lá estive, sentia-me ora submerso, ora distraído, numa sucessão de superfície/afogamento/superfície. Até que, enfim, respirei intensamente.

Em Sumidouro brotou meu primeiro livro de poemas.

domingo, 4 de outubro de 2015

manhã-vai-com-as-outras

chuva fina
dia de sol deposto

talvez haja sirenes, alarmes, mortes silenciosas
ou abraços, beijos, partos

mas nenhum acontecimento extraordinário

apenas uma manhã que segue tantas outras:
uma manhã-vai-com-as-outras