(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Amor em posições:



(o)posições,
(im)posições
(in)posições

Cor(ações) (sobre)postos.

Venci o ralo!

Todos os reveses humanos
reunidos
nos vestem da sensação de fracasso
e tornam a vida fardo insustentável.

Mas assim não sucedeu com o ralo
da área do meu apartamento
de olor irremediável
sanado com uma tampa de borracha
vendida em casa do ramo.

Projetada por alguém
cujo ralo algum dia já mal-cheirou
e resolveu pôr fim a essa angústia nossa
com prática solução universal
(em dois tamanhos)
que também nos "protege da invasão de insetos terríveis".

Hoje me digo: "venci o ralo!"
E carrego a certeza de que tantos outros incômodos graves
possuem seus respectivos desembaraços
mesmo simples e baratos
a serem achados ou inventados.

E sempre há algum ponto referencial
no universo
sobre o qual nos sentimos maiores.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

roça , fossa, bossa, bosta

Sumidouro, por Rodolpho Saraiva


Na roça, eu afundo na fossa.
Caminho até terminar a fiação elétrica;
depois, ao largo de escuridão
é tudo mato, tudo estrada, tudo-nada.

Estou a esmo no ermo
eu, só: eu mermo.
quase me esqueço onde, como cheguei... cá estou;
o que importa-
é alguma porta que me há de abrir
porque quero fugir;
(eis que não nasci- escapei do ventre)

Hoje recosto de novo nesse relento
já tão desinteressado dos causos de mãe-d´água
dos ribeirinhos que se perderam pra sempre
suas vidas, ex-casas...

Sou descaso disso, poeta apressado nesse tempo de prosa
dos bons-dias de horas...
"fica-mais-um-pouco"!

Não quero estar: sou partista.

De roça e fossa, que se dane tudo que não tem bossa:
-bosta!

Serio à mente

Eu detesto minha altivez
do que poderia ser mas...
não fui, não sou.

Eu me protesto nas definições que me deixei vestir
à morte de tantas indefinições mais saborosas

seriamente me acho
mais sério do que me creem.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Segunda-feira

Lagoa, por Rodolpho Saraiva
Segunda-feira é dia póstumo
em que a névoa do pessimismo paira
aos olhos que cerram pra alma

E olhamos nós.
Sós em meio a tudo.

Esvaziamos...

Segunda-feira é dia mundial da autopsicanálise.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Assalto poético

Esvaziem a mesa!
Joguem o pão no chão!

preciso gritar no seu ouvido
qualquer coisa da minha paixão

O Pessoa em minha mão...
não nos aproxima na rima
a lâmina da faca alucina
e cega:

não vejo além dos teus cabelos.

(Fabio Rocha e Rodolpho Saraiva)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Nota sobre lançamento do livro "Sobre todos (os) nós", no Jornal Posto Seis.


O Jornal Posto Seis (distribuído gratuitamente pelo bairro de Copacabana) publicou uma nota acerca do livro "Sobre todos (os) nós".

Clique aqui para adquirir o livro!

sábado, 7 de abril de 2012

Manifesto contra o desapego

A mulher melosa traz a seiva que alimenta o mundo

as lágrimas que verte causam o curso dos rios
A frieza não lhe cabe, nem lhe conduz a algum lugar

O homem que ama a mulher que ama: preza o amor.

O amor é a reverberação que faz sentido aos ouvidos;
É o lapso do suspiro que dá vazão ao respirar ;
É a coragem de arder-se por dentro, sofrer, rasgar-se.

Saber-se vivo,
saber-se noutro, um instante e, então,
voltar a si, mais íntegro.

A mulher é íntegra quando cumpre o dever poético de amar
(sempre)

Por tudo, desapego é covardia, diminutivo do que se é capaz:
a fêmea está sempre prenhe
de amor
até que a vida lhe (arre)bente.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Inexperiência

arpexos,por Rodolpho Saraiva
Nossa inexperiência-
à base de não haver ciência-
faz o que somos;
descoberta franca do que é amor:

Inventamos mar, lua cheia, Arpoador.
Sem investimentos ou riscos;
sem passado ou futuro,
somos um ao outro presentes:
tato-agora.

Por esse tato, alçamos trilhas que tantos percorreram
(alguns já conhecem atalhos)
mas nos deliciamos lá no começo, com todo caminho por ser feito...

Inexperiência é a arte do inesperado,
o barato de não importar-se com o depois.

Ah, quantos catedráticos sonham em ser néscios...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cartunista

Prefiro tua beleza desatenta
vais de lado, egípcia
mirando o contorno da Guanabara...

Olhos escuros, ao tom de cabelo curto,
escorrido ao ombro, sem alcançar essa espalda magra.
O traço mais forte é o nariz - praticamente adunco.

(realce desta talha fina)

Tua imaginação suspensa, na ponte...

Atento sou eu:
cartunista dos teus detalhes.