(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

maiêutica do poema

Imagem do Google

a poesia nasce do atrito
e não adianta berrar e ficar aflito;
é nos esbarrões da rua que se vê o bonito:

"viver é abrir as janelas do peito!"

à essa máxima, o poema segue adscrito.

domingo, 25 de agosto de 2013

Dream Theater

Ela era pura.

Ele tão quanto.
(mas se esforçava, por mágoas remotas, em aprender a ser canalha)

E assim, ela lhe condicionou intimidades sem que se despisse totalmente,
pois sabia que ele não voltaria mais
e que era bastante sincero.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Epifânia

É um nome de uma mulher
com assento circunflexo 
que nem a reforma ortográfica aboliu.

Mas Epifânia pode ficar ser acento
e ser uma qualquer que anda pela rua escura
mas que arrebata de repente:
uma brilhante ideia.

Clair de lune

Caminhei em direção a lua cheia
e, então, fiquei sem órbita:

minhas gravidades tornaram-se leves
e flutuei!

Lua do Calçadão, Rodolpho Saraiva

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Me, myself and I

Há poemas cujo sentido não cabem num outdoor:
são viagens íntimas aos sentidos mais particulares
como observar aquela traça que percorre há dias o chão do apartamento...

Há sentimento que é lento e não atende pedido fast food:
cresce no peito em fermento, sorrateiramente!

Sobre assuntos me, myself and I é que me deito
nesse desafio de contar um segredo que a ninguém interessa saber;
no entanto, é o que me arde no peito e, por isso,
ser poeta é meu direito.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Funk-Ostentação

Ostentas sobretudo o que não tens:
beleza, discursos, viagens...
de um mundo só teu
de um mundo só;
mundo, mas só.

E segues de dia a rotina;
à noite, alucinas...
subindo até o álcool,
descendo até o chão.

Chão, chão, chão...

Teu maior desafino
é um funk que aos outros rima:

Funk-Ostentação!

um dia crônico, uma crônica.

Era uma vez um dia crônico, em que se fez uma crônica. Ano de 2007.

Eu seguia de paletó, pelas ruas do centro da cidade, na degola de uma gravata, sem rumo.

Rosto escondido em óculos escuros... e plangendo copioso!

A primeira porta que me acudiu foi a da igreja de São José, onde acontecia uma missa monumental, de cânticos ecoantes que me incomodavam.

Adentrei aquele templo, alheio de toda crença, desnudo de qualquer fé.
Atravessei o altar em busca do atendimento do padre, um senhor bem velhinho, cujo semblante suscitava uma bondade inefável e ecumênica.

Rendido, sentei-me diante dele.
Eu era um homem de terno que somente soluçava.
E o padre pediu que me acalmasse, pois eu era um homem de terno.

Sem diálogo, bondosamente abriu a gaveta e me estendeu um livreto de catecismo.

Mesmo sem a palavra de alento que suplicamos durante a dor máxima, aquele gesto - o melhor que o vigário pôde supor - me afagou.

Então percebi que a vida explica-se num sentido tão particular que, muitas vezes, não nos convém compreendê-la.

domingo, 11 de agosto de 2013

Começo

Imagem do Google


desconheço meu começo
quando ando pelo avesso
noto o fio que me perdeu

sou etéreo, ereto e reto
pressuposto de alguma rima longe
aonde não cheguei

sou verso composto, proposto e disposto 
ao meu fim

sou, enfim, o que acaba
cada dia um pouco
quando mais me entendo por gente
vou deixando de ser

Entre e tantos

Entre tantos, somos
Entretanto
Entre e tantos

miúdos mas sérios, 
na f(r)esta que nos cabe.

Entre muito e pouco,
entre sim e não.
Entre não.

Às vezes, ainda não fomos;
talvez, tais vezes todavia:
-porém é nosso caminho.

Entretantos:
Somos meu e teu:
-sozinhos.

Brisa

Já se passaram tantos anos
mas as folhas restaram as mesmas
a parede que ergue a casa também

Há tantas coisas para as quais o tempo é brisa
singela e à tarde
coça com cuidado
e respeita a existência.

Como nosso amor...

que não perderá a forma nem a moldura
ainda que sejam teus cabelos brancos
e teus olhos herança do brilho de um dia.

sábado, 3 de agosto de 2013

Copa bacana

Teatro em Copa, Rodolpho Saraiva


















Nesse palco de areia
a multidão assiste ao sol poente
e caminha...

caminha de enamorados.

Do outro lado, a janela de Nara Leão e
quantas bossas mudas nas paredes...

Nos apartamentos tão vizinhos, 
nas calçadas apertadas
as crônicas nascem e morrem.

Nessa literatura sem tinta, 
que a dureza da vida faz relenta,
O mar ali:
sempre em cena!