(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Remédio

Sinto sem manual de instruções,
não sei da entrada ou da saída
muito pesava
o mundo que me cabia.

Um dia veio explicar a poesia, feito salmo:
lia dor, mal esfriava;
lia amor, então amava.
O drama de existir excomungava.

Remédio
em pequenas cápsulas diárias
vezes inócuas, outras, colaterais:
sempre tratamento impreterível da alma.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Em parte ir

Não parta não
parta dó minha
anão, de mim

da dor do parto que é grande
dessa dor ficaste prenhe.
és prenhe de mim.

do que te reparto dentro,
adoço,
meu primeiro café.

sábado, 24 de abril de 2010

Frações de alegria

Tuas frações de alegria remediam a tensão dos dias.
Pequenas doses de presságio,
logo me saciam em calmaria.

namorando motes,
sopramos vela.
"eu teu mar,
você minha costa."

Mas sem bancar realista
- longe de mim!
não fies em algodão:
ainda quero tragar teu bom-dia.

Encruzilhada

Tanta encruzilhada nos teus planos,
caminhos que não findam ao pensamento...

Ser funcionário público.
Gabinete, paletó na cadeira, estabilidade.
Hora de partir e de chegar.
Feliz pagador-de-dívidas!

Ser poeta,
sem carteira-assinada,
à base de assaltos-líricos:
ser só, pó, poeta.

Viajar:
mundo nas costas.
Albergar tudo!
(atestado com fotografia)

Pode enfim, amar
em alguém querer morar,
brincar de casinha:
"o que cabe a mim, a ti, a nós, à sala-de-estar".

Anti-gravitacional

Há uma força que paira
que nos sugere estar rentes ao chão
(ordem silente)
que se nos exerce.

Mas há alma que se debate:
-quero ser livre!
Toda censura às asas é cárcere.

Quero espairecer ao vento,
sempre que essa merda de realidade me desagradar.

Google sky

Dei zoom no google sky,
tentando achar a tua estrela...

Quantos dias-de-luz nos separam?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Vazio-bom


Incerteza mais certa:
o vazio é pra sempre!
Nem queira remédio.

-Portamos oco das galáxias.

Sem fé.
Só morte desfecha a ciência humana,
e reabraça o vácuo que nos pariu.

Vazio-bom!
em que cabem dores e amores do mundo,
e poemas por fazer.

Buraco negro particular,
infinito de cada um.
Centelelha universal que nos une.

(namorados, em noite estrelada).

terça-feira, 20 de abril de 2010

à primeira vista

À primeira vista nos olhássemos,
explicássemos,
silenciássemos,
ficássemos bem.

A intimidade não se adiasse,
nada ficasse a outro dia,
e logo fosse à tua esquina.

Queria tanto sem demora,
sem medidas incompatíveis,
os requerimentos e formulários.
Simplesmente fosse agora-hora.

À primeira vista, já nos soubessemos,
e assustadoramente, já nos quiséssemos
sem medo algum de culpa.

domingo, 18 de abril de 2010

Realidade:

Acordar às tantas horas.
Porque a fábrica apita.
Não posso gastar cada centavo do meu dia.
Não tenho dia.

Tenho noite-de-dormir
se sonhar, não durmo.
Cedo já vem o dia,
"ninguém pode viver de poesia".

-alguém em que não devesse acreditar;
-um amor que não se espera;
-expectiva maior do mundo...

Levanta!

Joga água na cara.
Pagarás cada segundo que te escapa,
do banco das horas,
e não terás faturamento líquido.

sábado, 17 de abril de 2010

J´aime (versão)

J´aime tous mes amours
d´hier et d´encore
toutes mes côtes
d´Adam.

J´aime tout le sentiment
qui me fait
la somme de tout cela
c´est moi.

je me repars,
je me garde
pour plusiers
pourtant, c´est moi.

Lo(o)ser

Perdi amores e guerras
ganhei algumas penas...
Já me perdi tantas vezes,
perdedor dos meus sonhos.

-Espero um dia me ganhar!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Variância

Porto variância:
rubores, olhares, resguardos.
Escondo de lado
meu lato sentido-falante.

Parto aos giros, só pra zonzar:
“a grande volta tem 360 graus”,
deixa tonto e enjoado.

Cato dilema
pra fazer poema.
Não convém esperar certezas:
chegam sempre atrasadas!

Não faço verso de amor.
(contrariando mandamento)
Amar não me incomoda:
vivo sem dar corda.

Futuro é incerteza que permeia

Com medo passo adiante
incerteza permeia:
Futuro, cuidado!

(abismo fascinado).

Certezas quase-distantes
Já nem protegem por instantes:
Abrigo que cede ao vento.

Que alma s´ aquieta sem tormento?

O risco chama
Risco é chama
Então: risca e faz chama!

Arrisca!

Subtrai fato: importa batimento novo.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tempo a tempo

Não dê tempo ao tempo:
inquietar é melhor que esperar
até porque fazemos os segundos apressados...

Não dê tempo ao tempo:
o que é saudade, irremediável está.

Curvar à força devoradora do passado:
presente é quase-passado;
futuro é passado iminente.

Convém viver na fresta, que o tempo esquece
fazer ficção de horas que não pesam
sonhando se vive mais, se vive quanto se quer

sonhando, realmente, sonhando.