(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

domingo, 31 de maio de 2009

Sentença sobre o fundamento

Pouco importa "por fim". Lindo é "por quê". O jeito como fundamenta, mais me diz. Se dá volta, e balbucia. Se cala, espia. Se recorre à exemplos, à experiência. Ou se teoriza tudo, num momento. É pequena a conclusão diante da formosura da explicação. A sentença é o fundamento. E me sentencia, sem dizer que sim ou que não.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Sentença sobre a forma

A forma, molde das abstrações. A massa assada numa fôrma de coração. As idéias ousam concretude nas palavras, às vezes se libertam, outras se prendem: tudo culpa das curvas de semântica. Forma demasiada é ditadura que rege todo suspiro. E naturalidade se esvai. A fonte, o parágrafo, o rodapé, o cabeçalho, a régua margeando a rubrica. Tudo é forma de se complicar quando excede o mínimo de necessidade. A métrica, as rimas, o movimento, a contra-cultura. Sem cautela, assenhoram-se de nossa eloquência. A regência da estética, da beleza que nos encanta, mas que às vezes é puro prejuízo: sumariza o indivíduo. Por isso, é inválida toda regra que empobrece o conteúdo.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Embaralhado

Você me deixa embaralhado,
confuso no carteado,
quando me vem:
minha Princesa de Copas!

Meus ases a postos...
morro de medo se te jogo:
nem te consigo fitar!

Poema Marginal número um

À margem de todas as coisas,
rio, tudo que flui
deitado na calçada, do que passa
rua
rumo das gentes,
pedinte de pensamento:
sou poeta marginal
à espera d´algum sentido.

Frozen Yogurt

Você me desce geladinha
mis papilas les gustan
sabor do Frozen, sem-sabor do Yogurt
E me remexo no tacho,
catando lichias:

-You Gurt me too, dear!

Naquelas tardes, em frente ao pão-de-açúcar.

domingo, 17 de maio de 2009

Domingo

Domingo é póstumo
é desculpado
é desapressado
-Domingo é anômico!

é santo
é fingido
é estagnado...

Dolce far niente
a gente se sente
pesando no meio de nada.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Amôdernoso

Modernosos e afins,
uma camisa por dia da semana,
a gente se ama, feito um Koni:
enrolados, em liberdade!

Não se quebra a cara
"é rara a rima",
não fica em cima...
A fila anda!

Reciprocamente avisados:
"nem panela nem tampa".
Mas hermeticamente cerrados:
até cessar a chama.

Flerte introvertido número um

Olhar pra você é difícil, tão invasivo.
Arte sem pestanejar.
Ameaço um estilo: ponho-te no meu colírio.
Minha retina se enche de te pensar.
Com resguardo, de resvalo espio:
vacilo às vezes te secar.

Paisagem número um

Estupefato, na paisagem
vejo você:
um dia em estiagem,
painel da guanabara.

O pão-de-açúcar me brota incomum
feito você
ocorrência que lê
enquanto te escrevo.

Ouso verso e transbordo,
sobre o abismo calado,
entre tua mesa
e minhas linhas.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Dança-de-cadeiras

Viver é dança-de-cadeiras:
Perde quem sentar por último;
ganha quem ao tempo certo
toma o seu lugar.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Confeito



A vida é um confeito,
várias cores, mesmo sabor.
Desfaz na boca,
e logo faz esquecer o açúcar.