(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

segunda-feira, 30 de maio de 2016

destempo



não antecipes a hora de partida
tudo esvai a destempo um belo dia
sem anúncio, todo o mundo será despedida
só então, so long, te diria

domingo, 22 de maio de 2016

estrangeirismos

estrangeirismos estranhos no zigue-zague de Copacabana
como se fosse eu forasteiro
como se hoje conhecesse a praia
como se fosse inaudível o meu idioma

as minhas centelhas se rebelaram

meu lugar não cabe no grão dessa areia
lá em cima chamam lua e estrela
lá em frente há o mar de Portugal

alguma coisa aqui não tem residência
há pensamentos sem sintaxe
e vozes calando silêncios atávicos

Lua e crua

A Lua cansou de passar despercebida. Pôs-se tão amarela, quase vermelha: todo esforço para ganhar atenção. Nem ligou se o jogo de vôlei seria mais importante. Ou se o casal não tivesse tempo para largar o beijo. Ou se os corredores tinham pressa. Ou se o ciclista pensava nos balancetes da semana. Na verdade, a Lua se aprumou só para ela, como se ousasse o vestido mais bonito.

As poucas testemunhas puderam notar esse átimo de vaidade lunar.

Então, uma nuvem negra fechou-lhe o provador.

mundo in_mundo

mundo louco
ganha quem não
primeiro cair no chão

barato viver feito cão
ousando ser o melhor amigo do homem
e diante da padaria
assistir televisão

mundo cão de latidos
uivos sustenidos são o ponto alto da diversão
não pensar pode parecer meditar
mas é puro nonsense

os cães ainda são lobos uivantes
domesticados a cagar na rua
com seus donos recolhendo resignação

o cão, irmão, é o lobo do homem

sábado, 7 de maio de 2016

pontualidade

sou pontual feito um paulista
ando preparado à hora
mais rush, mais crush, mais absurda

sexta-feira, 6 de maio de 2016

inter_calado

Imagem do Google


as vozes do meu silêncio
intercalam coragem e medo

são caladas calejadas
notas nos varais

nós nas cordas vocais

Tokyo skytree

em tantas milhões luzes kamikazes
pisca o último átimo à eternidade

as milhões de velas acesas por Hiroshima
também anunciam o lançamento da robótica

enquanto o sol não nasce
38 milhões de vozes
falam luzes

luzes da árvore celeste de Tóquio

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Ryon-Ji

Ryon-Ji, por Rodolpho Saraiva


o jardim d'oriente desorienta
meu olhar ocidental

sobre cascalhos
catorze rochas
e uma invisível -
a impossível completude