tudo esvai a destempo um belo dia
sem anúncio, todo o mundo será despedida
só então, so long, te diria
estrangeirismos estranhos no zigue-zague de Copacabana
como se fosse eu forasteiro
como se hoje conhecesse a praia
como se fosse inaudível o meu idioma
as minhas centelhas se rebelaram
meu lugar não cabe no grão dessa areia
lá em cima chamam lua e estrela
lá em frente há o mar de Portugal
alguma coisa aqui não tem residência
há pensamentos sem sintaxe
e vozes calando silêncios atávicos
A Lua cansou de passar despercebida. Pôs-se tão amarela, quase vermelha: todo esforço para ganhar atenção. Nem ligou se o jogo de vôlei seria mais importante. Ou se o casal não tivesse tempo para largar o beijo. Ou se os corredores tinham pressa. Ou se o ciclista pensava nos balancetes da semana. Na verdade, a Lua se aprumou só para ela, como se ousasse o vestido mais bonito.
As poucas testemunhas puderam notar esse átimo de vaidade lunar.
Então, uma nuvem negra fechou-lhe o provador.
mundo louco
ganha quem não
primeiro cair no chão
barato viver feito cão
ousando ser o melhor amigo do homem
e diante da padaria
assistir televisão
mundo cão de latidos
uivos sustenidos são o ponto alto da diversão
não pensar pode parecer meditar
mas é puro nonsense
os cães ainda são lobos uivantes
domesticados a cagar na rua
com seus donos recolhendo resignação
o cão, irmão, é o lobo do homem
sou pontual feito um paulista
ando preparado à hora
mais rush, mais crush, mais absurda