Às vezes esqueço do poeta que fui, poderia ou um dia tentei ser.
É como um terno branco, que deixo no armário para ocasiões excepcionais.
Quando me visto, sigo a minha festa solitária na qual só valem as minhas percepções. A gramática é minha e as importâncias das coisas também.
Não tenho pose de poeta: sou funcionário público simples que bate o ponto todo dia.
Percorro a normalidade de um transeunte qualquer. Ninguém pode apontar que ali vai um poeta.
Poesia é coisa muito minha;
quando escrevo, interessados podem ver os resquícios.
Mas se não virem ou ainda que eu nada escreva
seguirá a poesia em seu estado mais fenomenal:
a potência.