(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

penha circular

esconjuro!

o amor é uma linha
que estica
ao retorno

e se juro que não jurarei
amanhã respondo perjúrio

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

algures

depois de muito tempo
em algum lugar
até pode ser
que tudo esteja igual

mas por aqui
no engarrafamento dos dias
nada além te diria:
"as coisas mudam"

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Copacabana não me engana. Tantos ônibus, vizinhos ruidosos, personagens de todos tipos. O inferno ao céu em poucos andares. Ruas apinhadas de gente. Velhinhas mirando a laser meus calcanhares quando arrisco o Supermercado Mundial. Todos com tanta urgência pelas ruas, rosentando ao sol da manhã que já não bate à janela. Cotidiano crônico e cronista, quase não se abre mais a poesia.

Até que rádio me toca:

"Copacabana esta semana o mar sou eu"
"Estilhaços sobre Copacabana/ O mundo em Copacabana/ Tudo em Copacabana Copacabana"
"Um só lugar para se amar: Copacabana"

E a antologia me abre:

"Olhos verdes, de ondas sem fim./ Por quem jurei de vos possuir, Ai Avatlântica!"

"O preto no banco/ A branca na areia/ O preto no banco /A branca na areia/ Silêncio na praia/ De Copacabana"

Um átimo de poesia. A vizinha do quinto andar manda o reclamante do segundo arrumar o que fazer, que se ocupe da felação com a esposa.

Retoma, então, a crônica reinante.

orbit

a espreita
entreaberta
no limbo da passagem
é porta estreita
por onde ninguém chega ou sai

sábado, 11 de agosto de 2018

essere

a vida é
por acaso
um acaso
ocasional
e ocaso
que não casa
nem é caso
de qualquer certeza

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

o Cristo está encoberto e,
mediocremente, os ônibus se arrastam
todos comungam o desconforto
contidos em seu estreitos assentos
acentuados ao único sentimento
e eu permeio
imperfeito
diante do tudo
ao meio
do que se chama vida
mas é rotina
rerrotina da retina
retinta