(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

terça-feira, 31 de julho de 2012

Sumidouro três

Imagem do Google

-Onde o Sr. mora?
-Próximo ao Sítio Barro Preto.
-Onde fica isso? Tem alguma referência, escola, igreja, posto de saúde perto?
-Não, não tem nada perto. Só pasto, algumas árvores distantes.

Há lugares sumidos, tão distantes da lembrança...
Lá, ou se vive o desalento ou se morre de inquietude.
Não se pode portar nem resquício das farras urbanas...

Nessa lonjura, os extremos são linhas de trem que se cruzam,
os limites mais severos de incomunicabilidade
convivem com a absoluta ausência de limites:

se as línguas não encontram ouvidos,
os olhos não esbarram em muros.

Sumidouro é terra do esquecimento;
esquece a ti mesmo, abandona teus pensamentos
então,uma meditação forçosa te tomará conta
como das vaquinhas-sagradas que pascem na colina.

A sabedoria não advém da perspectiva,
mas da capacidade de abandoná-la.

domingo, 29 de julho de 2012

Casa-da-vó

Era o maior reduto de liberdade e imaginação:
na casa-da-vó minhas unhas cortadas, numa caixa-de-fósforo, tornavam-se grilos
(só assim cortava as unhas)

Onde o empirismo me arrebatava,
estudando o exército de formigas na roseira...

Lá sempre nos visitava a Muda, vizinha do lado
muito falante (gesticulante)
a quem não se podia falar perto os assuntos mais sérios de família, pois logo caiam em domínio público...

Na casa da avó o arroz-com-ovo-mexido era diferente
pois a galinha botadeira era caipira
com malemolências especiais de sabores
(só assim comia)

os quitutes, os mitos, a ternura.

Quando hoje a visito, vejo que a casa se preservou igual, sempre um bolo sobre à mesa
mas a praça ao lado, a rua
correm numa velocidade absurda, com carros, prédios, fachadas de comércio...

Na casa-da-avó os minutos cursam outro tempo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

ego trip nº 2

Imagem do Google


Nem terminei a primeira
e fui contemplado com mais milhas de viagem interior...
meu destino é entrar.

Pra dentro, sem saída:
às águas turvas do que sou.
Já me aceito rio, não pretendo ser mar!

Aos que são lançados ao mundo, digo
que meu canto é mudo;
sou o restante
do que quis ficar.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Tempo Perdido


Naquele tempo perdido
eu me encontrava
diante dos prédios que já me fizeram pequeno...

A rua, a praça, a escola, a pizzaria, o ginásio:
o mundo que me cabia...
já nem me cabe mais.

Não me caibo:
Estou enorme!

O que me reduz é saudade:
uma vontade de sentir pequeno diante de tudo,
e crescer de novo...

Verdejante.

Os anos que perdi me reencontram
com a mesma gana
de rascunhar sem qualquer capricho.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Enjoy the Silence



Eu gosto da vida, sim, eu gosto.

E sei que é sucessão de movimentos;
o burburinho que passa debaixo da minha janela me atiça;
os eventos, bodas, festas, amores - tudo que pode estar acontecendo
em algum lugar onde não estou.

A vida segue plena e não me espera no ponto.

Por que, então, segui-la?

Hoje curto quando calo
sem televisão, sem conforto
ao pão-com-mortadela
vejo mais: eu, agora, por opção.

Antes era medo;
hoje escolho, mas não encolho.
Vivo assim, desejando a minha sombra
e quando aquieto e aceito...

o silêncio vem e me beija.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Automatizados



A revolução industrial não revolucionou;
Homens inventam máquinas para servi-las,
Automatizados:

acordamos, escovamos, penteamos, comemos, saímos.

(5 minutos antes ou depois, sempre na mesma hora)

Vivemos às rédeas da rotina,
sem coragem de pensar sem rédeas.

protocolamos, registramos, autuamos, numeramos, certificamos:

-Por quê?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Lacônico


Amor, não ouso quebrar nosso silêncio com poucas palavras...
Quero você com outras línguas!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Ansioso

Por suposto, ansioso!
minh´alma carregada de ânsias
(anseios transbordantes)
que corrompem a fraca intenção de fiar-me nos caprichos do tempo

Que tempo!

Não posso ficar à mercê de sol e nuvens
se minhas tempestades são outras:

-eu me chovo, eu me raio.

De soslaio, me mordo enquanto não consigo
viver a debatência dos sentidos,
o querer senti-los;

não estou acima de qualquer dor ou alegria.

Apelo

Eu apelo,
je m´apelle:

-Poeta.

Refém

Onde está o meu mundo?

Quero deitar à minha sombra,
voltar às minhas árvores e raízes.
Meu destino, que era fuga
hoje é reencontro.

O ritmo alucinante dos acontecimentos estampado nos jornais
a barra de rolagem não se cansa
as histórias não se acabam, mas...

nada importa, quando não me escrevo.

Adotei algumas certezas à sobrevida mas,
o campo das incertezas é muito mais
sou de reticências
não esgoto em ponto final...

Refém;
mas posso estar além:
estouro o cativeiro da rotina.

-Meu alcance é questão de retina.

sábado, 7 de julho de 2012

Ne me quitte pas


Esse é o tempo de estiagem
(dizem os meteorologistas)
Uma entressafra,
que há de ser passageira.

Sei que a poesia estará à espera,
depois que isso passar.

Mas ansioso, não sei esperar:
não posso suportar sem ELA.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Copacabana, 6 de julho de 2012.

Copa, Rodolpho Saraiva


Nascida em 6 de julho
à porta da minha casa
nessa ex-Rua do Matoso.

O túnel (que era rocha) abriu-se ao mar...
Copacabana, assim:
antes intangível, depois destino, hoje passagem.

Mas sempre:
porto seguro, de chegada ou partida
entre o mar e o Rio;
Onde todas as águas se misturam.

-Copa é oca bacana pra qualquer índio do mundo!