(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

domingo, 27 de março de 2011

Porto dilúvios colossais

Nem o Pai Eterno!

O comichão da alma faz bossa.

Lavados sejamos dilúvios
tormentas camaradas
que não se conformam

Não padeçamos terráqueos
podres produtos de si
equidistantes do pai

-Deus Pai:

Suplico ao Cristo (crucificado na parede do quarto)
que nos guie
e conceda um instante mais,
ainda semente:

Porto dilúvios colossais
e minh´anima arrefece
com ventos nos coqueirais.

Retalho de amor

Você se faz tão presente
que a vida já não tem
mais cabimento
sem você

Poesia acontece
quando se encontra
quem se acredita:
você.

Pois te amo
Sim, te amo!
Que custoso redundar
A exclamação dos amantes.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sincericídio um

Não há amor sem mentira
desenganados não amam
falar nossas verdades é sincericídio

Vivemos outras estórias
morremos outros amores
desimportam papéis,
ei-los: mesmos atores.

talvez a paixão nem agrade
aos vizinhos:
esbarrão no corredor
sem querer eternidade

Deixemos à vontade
veracidade que somos
sem ledos enganos:

assim nos beijamos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Soledade um

As vaquinhas presepam nas montanhas
Abanando o rabo à torpeza dos homens

Desse vale distante,
a soledade manda lembranças:

amar a si é princípio da vida;
rir o dia e acalmar a noite
tão simples, sem grandes teorias.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Águas de março

Sob o novo sol d´outono:

o enfim-do-caminho,
o mistério da ribanceira,
o sustenido pingando!

são as águas de março fechando o verão
é promessa devida no meu coração.

terça-feira, 15 de março de 2011

Dúbios

Tantas dúvidas nos sombreiam
o que pensaria se fizesse?
como reagiria se dissesse?

Respondes com questões exclamativas.

Somos dúbios:
nossos corpos de tão unidos

fazem interrogação.

domingo, 13 de março de 2011

Angústia

Porto a angustia
Prenhe em si
nos meandros
duma vida inteira!

disputa no tempo
seu canto
sua estória
seu esquecimento.

Pressa de vida
Fome descontente
Dúvida inquietante
Do que foi, é, será

Dilema:
das estrelas que fulguram mortas;
das milhões de verdades já postas;
da revogável lei do universo;
da fé incondicional.

Angustia de tudo que parece irrefutável:
Dias que são noites
Arroubos que aspiram amores
Dores que se mostram sinceras

Agonia do vazio infindo que se segue:
Do útero ao jaz.

Encontros número dois

Teus olhos cansados 
traziam uma vida pela frente.
Também as mãos:
adestradas à arte da espera.

Quando nos vimos houve “não”
pela silente falta de coragem,
delicadeza toda,
insegurança táctil.

Quando partimos houve “sim”
na certa dor de ausência,
querer-estar-perto
quando distantes.

Nosso amor não brotou dos dedos
[da primeira visita]
mas do relaxamento tênue, de reencontro.

Despidos de qualquer ânsia.
Despidos de tudo.

Beijos

Beijos:

falam por si
calam por demais

-são tantos lábios num só.

Espaço

O espaço que mais quero
é mínima fresta
que resta:

entre o seu abraço.