esboços de poesia cotidiana
(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)
domingo, 29 de maio de 2022
me dita a ação
m'aponto e eis só um ponto
nada além de paisagem
o assombro em estiagem
a suavidade em não dizer
insciente e incidente:
de tudo que vejo sou componente
contemplo o templo que sou
e toda resposta a me beijar silente
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Paródia de "Divido o que conheço", Fernando Pessoa
Duvido o que esqueço
De um lado não é o que sou
Do outro, quanto conheço
Por entre os dois restou
Nem sou quem me lembro
Nem sou quem há em mim
Se penso em dezembro
Se creio, não há fim
Que melhor que isto tudo
É ouvir, na passagem
Aquele ar certo e mudo
Que eternece a estiagem
terça-feira, 3 de maio de 2022
atavismo
lido com a mesma lida
e sonho os mesmos sonhos
porto o mesmo olhar
de contemplar e deslumbre
dos meus
que não tiveram este tempo
protejo seus projetos
guardo suas (in)certezas
alinho o horizonte à imaginação
dessas asas que voaram tanto
continuo do ponto da estrada onde restou
e sigo mais, ademais
de tudo que passou
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