(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

domingo, 27 de abril de 2014

A ausência


cadeira-de-ausente, por Rodolpho Saraiva

A ausência está sentada
na cadeira-de-canto, cansada
de perna cruzada
rindo feito namorada:

do sonho que não durmo.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Comuna

Não sei dividir;
sou liberal-capitalista que crê na abundância do universo,
em mares, montanhas, recursos, sistemas solares, rimas... i-nes-go-tá-veis.

Qual a virtude maior da divisão que não o exibicionismo?

No Comuna sorvo a cerveja importada,
esbarro em gentes que acreditam no socialismo utópico
e consomem álcool, baseados, pessoas, músicas e paredes.

O consumismo é o fim do comunismo.

Pelo pó das ideologias,
mais retóricas do que práticas,
sei que o bem já não se importa com quem
e a Igreja já detém a patente da parcimônia.

Importa mais o que não me mente,
a verdade que está ausente,
e todas as convicções que não vejo agora.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Café latte

Eu não enxergo a vinte metros de mim com clareza
mas meu café latte
avisa que logo ali vem uma gata.

Café da Livraria Cultura, Rodolpho Saraiva

terça-feira, 15 de abril de 2014

Reviva

O passado não te condena
pelo que já te foi martírio
ou por que sonhavas...

"Ainda é", "pode ser" ou "nunca deixará"
dormitam na caixa abundante das lembranças,
até que a vontade irresistível lhes abra.

O passado não cabe no passado.

sábado, 12 de abril de 2014

Juras obscuras

Imagem do Google


Acredito em juras obscuras;
não naquelas feitas às turras,
com lordose 
ou apoteose
(plateia, fotógrafo, filme, megapixels)

As juras bonitas nascem na alcova
e morrem ao raiar do dia.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Á_vida

A vida está passando tão depressa
que nem é preciso que se dê pressa
pois tudo corre e sai de seu lugar sozinho.


sexta-feira, 4 de abril de 2014

Décadence avec élégance

A queda é elegante quando é livre
e longa
quando deixa o chão cansado de tanto esperar.

A poesia me ocorre

Ao acaso, no cigarro que não fumo
(mas me gostaria, se não fizesse mal)
diante das hipóteses, escrevo.

Talvez não: apenas transcrevo um rito ruim, da rotina, das falas, das paradas truculentas dos ônibus...

-Acordo e faço um poema quando a realidade me esbarra.

Sobre mentiras e sorrisos

A verdade não tem dentes amarelos
nem fez clareamento.

Simplesmente sorri:
com um fiapo de milho, uma obturação
um constrangimento ligeiro
e um branco que se quer Colgate.

Sobre o poeta

O poeta tem bossa
mas não tem medo de fossa
sabe sorver uns drinks como ninguém possa
confiando na assepsia da laringe
e no silêncio, alenta as corrrrdas vocais.

Sem berro, sem conflito:
Poeta é um ser que me habito,
e na melhor casa que há em mim resisto:
lá no alto da montanha.

Entre lobos

Circo e Lobão, Rodolpho Saraiva

São tantos os lobos solitários

                 que formam uma matilha

no show do Lobão.