do que não se pode alcançar
à mão nua
É ali
na estranha
que depois desentranha:
a mão que te partiu.
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Ouvindo a música do Gil, "Preciso aprender a só ser", manifesto tropicalista ao "Preciso aprender a ser só", samba-canção de Marcos Valle, vieram-me algumas reflexões sobre em que pé anda o amar. Na minha humilde concepção, há dois extremos: os "roteiristas" e os "fundidos". Os roteiristas são aqueles que, para saciarem a fome, escrevem com facilidade uma estória de amor, encontram um bom protagonista (ou antagonista) para o papel, e se convencem de viver aquela ficção. Os fundidos são seres exauridos pela busca, que encontram par na mesma condição, e fundem suas solidões. Ocorre que nenhuma dessas soluções satisfaz. Nem uma terceira: micareta. Em verdade, todos carregamos os genes do romance. É algo tão forte que ultrapassa a herança cultural. Está ínsito. Musicalmente falando, dor de cotovelo é algo cafona. A bossa-nova, que se contrapôs a essa tendência, hoje já é considerada "música de idoso". Depois de tantos avessos e tendências, muita gente ainda tem alma seresteira, com vitrola em casa e disco de samba-canção arranhado, de tanto ouvir. Somos escravos da parceria, da vida a dois, do deux-par-deux, do cheek to cheek. Hoje e sempre. Parar e perceber "preciso aprender a só ser", contraposto a "preciso aprender a ser só", causa um baque violento. Não faço apologia a monastério Tibetano. Também não acredito que a filosofia alimente de questões o cérebro a tal ponto, que minimize o efeito inebriante do amor e a sede que lhe é inerente. Mas existir, tão só, somente, não significa rimar só, pó, dó. Viver está além desse limite. Amor pode ser desobrigação. Amantes não são posers. Mão-dadas não são algemas.