(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

domingo, 30 de janeiro de 2011

Intimidade

Intimidade é o toque
do que não se pode alcançar
à mão nua

É ali
na estranha
que depois desentranha:

a mão que te partiu.
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Rotina

A rotina deixa a poesia fatigada
cochilando
sem sonho nem hora de acordar.

domingo, 23 de janeiro de 2011

desprograme-se

Quando prendes às certezas
escapam todas horas marcadas
os ponteiros atrasam, o chope se agua,
no calor insuportável da Lapa

Tudo são planos 
tantos desfeitos, nada a contento
do que antes se pensou

Quando dá errado
descobrimos sentados no meio-fio
que rir da vida nos é direito que sempre assiste.
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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O vento

Les Coquelicots, Monet

dono das flores, lança sementes
pastor de nuvens, tocam raios
vento que me venta tarde
moinhos dos meus sonhos
brisa que morre nas árvores.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Minuta

Não quero estar acabado e pronto
sou quem ama a cama por fazer
projeto, esboço e sonho
minuto aos minutos:
minha verdade varia à brisa de viver
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Poemeto número um

Quando falei-te à boca
fiz crer que estamos atados
à uma delicadeza que te acaricia leve
e remete breve à plácida certeza:

Somos além do acaso,
a vontade nos permeia de sinos -
ouço colado,
ao largo da tua beleza.
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sábado, 15 de janeiro de 2011

Teresópolis

Imagem do Google


Não me considero dos seres o mais altruístas. Até hoje não me bateu o sentido de solidariedade, aquela comoção "devemos ajudar". Muito disso, sempre me pareceu demagogia, uma espécie de culpa cristã. Quando vi minha cidade natal desmoronada, ao vivo, no Jornal Nacional, novos sentidos me vieram. Teresópolis sempre foi meu ninho, acolhida tão grande, que me sufocou: trouxe revolta de asas e saí de lá. Mas sempre carreguei a ternura do lugar em que cresci livre, uma infância sem igual, sem limites de playground, solto pela mata. Meus sentidos todos nasceram naquele espaço, no contorno das montanhas. Vi toda razão da vida depreender-se da natureza, das árvores, das formigas. Depois veio fome de gentes, escolhas, possibilidades, do mundo. E Teresópolis se resumiu à  segurança. Agora nem isso. Ver tudo desmoronado arruinou minha concepção real e imaginária. Hoje me sinto mais frágil e vulnerável: o risco é inerente ao respiro. Podemos morrer no caos urbano, das favelas, balas perdidas, morro do alemão; ou arrastados por uma tromba d´água digna do Velho Testamento, no recanto mais ermo e pacato. Parece fim dos tempos: não há pra onde correr. Reduzido à uma fragilidade absurda, e tão fragmentada, me sinto tão desabrigado, completamente em luto, por algum ente perdido que não conheci. Muito morreu em mim, depois que o caos passou raspando. Ruínas entre o Caleme e o Espanhol. Quase minha ex-casa, onde morei a vida toda, até o ano passado. As águas levaram algo meu pra sempre. Hoje vejo Teresópolis como lugar cheio de certeza guardada nas pedras, de natureza impiedosa, na expressão máxima, que arrebata certezas e afoga memórias.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Preciso Aprender a SÓ SER

Ouvindo a música do Gil, "Preciso aprender a só ser", manifesto tropicalista ao "Preciso aprender a ser só", samba-canção de Marcos Valle, vieram-me algumas reflexões sobre em que pé anda o amar. Na minha humilde concepção, há dois extremos: os "roteiristas" e os "fundidos". Os roteiristas são aqueles que, para saciarem a fome, escrevem com facilidade uma estória de amor, encontram um bom protagonista (ou antagonista) para o papel, e se convencem de viver aquela ficção. Os fundidos são seres exauridos pela busca, que encontram par na mesma condição, e fundem suas solidões. Ocorre que nenhuma dessas soluções satisfaz. Nem uma terceira: micareta. Em verdade, todos carregamos os genes do romance. É algo tão forte que ultrapassa a herança cultural. Está ínsito. Musicalmente falando, dor de cotovelo é algo cafona. A bossa-nova, que se contrapôs a essa tendência, hoje já é considerada "música de idoso". Depois de tantos avessos e tendências, muita gente ainda tem alma seresteira, com vitrola em casa e disco de samba-canção arranhado, de tanto ouvir. Somos escravos da parceria, da vida a dois, do deux-par-deux, do cheek to cheek. Hoje e sempre. Parar e perceber "preciso aprender a só ser", contraposto a "preciso aprender a ser só", causa um baque violento. Não faço apologia a monastério Tibetano. Também não acredito que a filosofia alimente de questões o cérebro a tal ponto, que minimize o efeito inebriante do amor e a sede que lhe é inerente. Mas existir, tão só, somente, não significa rimar só, pó, dó. Viver está além desse limite. Amor pode ser desobrigação. Amantes não são posers. Mão-dadas não são algemas.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

GPS

Qual caminho das certezas?

Os revezes são vias acesas:
radar a 100 metros, reduza velocidade
O desalento são ruas apagadas
que me fazem só voltar pra casa

Já dispenso qualquer senso, de direção.

Quanto se sofre pelo acerto de caminho
Os retornos inexistem
Quando caminho se marca aos tropeços
corta-se à contra-mão

Eu sou eu, o que me prefiro:
um erro, autorizado em não acertar.
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domingo, 2 de janeiro de 2011

Tudo que finda

Saltita - o medo que me hesita
o que me resta da vida, finita
é brasa:

bituca de cigarro pela janela.

That´s all jazz!

A pista explode em outros ritmos
- mas minha síncope é a Jazz Band do outro lado da calçada.

Lá todo improviso se valida,
pausas de silêncio são prosa musical.