(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

felicidade e seu tempo

Parque del Retiro, Madrid, por Rodolpho Saraiva


Minhas atenções atentas ao que está passando...

Meu átimo é trem; se pego o próximo, atraso.

Minha hora é a mais pura poesia: segundos são versos, minutos estrofes
(e as pausas são rimas)

Sou o que sou agora; dali a pouco, posso não restar.

A presença do presente me regala o instante que me bate o pulso:
Sou o que me deixo estar.

A felicidade não é do meu alcance:
se seguro pelo braço, ela vai simbora.

domingo, 25 de novembro de 2012

In my life

Saudade de algo que vem e passa;
Corre pelo sangue e o hemograma descompassa...

O que não me coube, deixei pela estrada:
Amigos de colégio, faculdade, velhas mudanças, sonhos, namorada...

Todos poemas que já vesti e não são da minha talha
os amores vãos
(e o que se já foi)
tudo se amealha!

A vida apelida de saudade
a despedida desacolhida pelo peito;
o que desamei e não tem jeito.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Casas-de-veraneio

Quando era criança convivia com muitas casas de veraneio.

Em Teresópolis, há várias propriedades que passam semanas ou meses sem receberem visitas de seus donos.

Essas casas preservam uma força única nas paredes, nos jardins, nos móveis. Tudo, salvo plantas e insetos, conserva-se no mesmo lugar: mesas de jantar, lareiras pouco utilizadas, poltronas, cadeiras de varanda, vasos e tapetes.

Os objetos, embora ressintam serventia, descobrem sentido que ultrapassa a decoração: tornam-se os próprios habitantes daquelas casas vazias, sonhando festas repletas de comidas, crianças, namoros pelos cantos, brincadeiras e música.

Tanto espaço em aberto: linhas em branco para a poesia.

Hoje volto a Teresópolis e revejo as velhas casas-de-veraneio resistindo à dilúvios e estações, hábeis na arte de autossuficiência.

Recanto do Golfe, Rodolpho Saraiva

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Telúrico

Revendo minhas nuvens douradas, Rodolpho Saraiva


Sou telúrico, sou mateiro...

Minhas nascentes vêm do alto das montanhas.

Lambo capim feito gado
Lambo o leito, como o rio

Como como o rio:
arrasto tudo que me assola e transbordo,
causando arrepio.