Os amigos de colégio abandonaram a pequena vila e cursaram faculdades em diferentes cidades.
O mundo tornou-se enorme e não cabia mais em curtas explicações. Entre a raiz e as folhas uma flexão de tronco estendia vasta imaginação. As ruas extrapolavam os mapas cotidianos. Depois de tantas terras, havia mares e além mares. A sensação de ínfimo causava uma ardência no peito, ao mesmo tempo dor e excitação, pois tudo era, então, possível. Todo caminho era caminho. Cada utopia permitia uma direção.
Passado o tempo, as utopias tornam-se lembranças inconcretas. Sobre essas, não houve registro qualquer, por retrato ou bilhete. São sensações mortas que deixaram resquício da ardência peitoral. Esse resquício hoje representa a própria utopia.
E a saudade da utopia é a imaginação que se tem sobre a ardência peitoral. Esforço imaginativo apenas, pois, é impossível reviver a exata sensação. O que se tem hoje é lembrança, a qual não provoca as mesmas reações químicas de outrora. O lado do cérebro é outro.
Diante da ação do tempo, a utopia não é vinho; é vinagre.