(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

domingo, 31 de março de 2013

Eloqüente


O poeta dizia o que não cabe em palavras...
tentou e engasgou.

À beira do mar, todo pensamento a onda leva
e a maré vai subindo até marejar os olhos!

Nessa maresia, o poeta é estátua muda,
aquém do mar da compreensão,
refém de uma pose para foto com quem passa pelo Posto Seis...

e se senta dois minutos ao lado do Drummond.

sábado, 23 de março de 2013

vastidão

Imagem do Google

o mundo é tão grande, amor
tanto bares, tanto mares, tantos ares...
e desencontros, as maiores probabilidades

encontrar é acaso
o que (re)buscava
quando desamarrei os cadarços e tropecei

sou despropositado em tudo o que faço
nem atino quando o destino me apronta um laço
meu tempo e espaço têm a miudeza do que sei

sexta-feira, 22 de março de 2013

Caminhos e preposições

Onde estamos?

Sem proposição, quedamos.
Sem preposição, nem um passo vamos...

Para onde o pé alcança;
aonde a língua estica o céu...
da boca
outra.

A preposição movimenta caminhantes,
e cimenta os retirantes que engolem as letras do caminho.

terça-feira, 19 de março de 2013

Conserva

Sou rebelde à rebeldia dos causídicos,
pois, desprovido de tantas éticas, morais e religiões...
não tenho causa:

sou um causo, quiçá, reacionário à rebelião que em si não renova.

O novo que não inova é recente e só.

Um sopro à toa, que não vai além, não me convém;
se a rebeldia da causa é serva,
prefiro, então, curtir em conserva.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Biográfico

vista da janela do Trabalho, por Rodolpho Saraiva


De todo tempo que a passei a esmo,
tentando ser eu mesmo,
ainda pago juros.

Então, serventuário: virei potencial-homem-sério.

Antes, errante demais, a mim e às mulheres;
mas muito mais genuíno,
como se fosse menino,
ainda me carrego assim.

Sim, ainda que perca dias à espera,
eu juro:

-farei juras.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O Rio e a bossa

Copa à tarde, Rodolpho Saraiva

Ouço bossas novas
nas ondas que morrem na areia.

Urbi et orbi

Imagem do Google

quero subir na montanha mais alta e gritar que te amo,
gritar, gritar, gritar até
sussurrar nos teus ouvidos.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Minha vela se apagou
com um sopro de esperança.

sábado, 9 de março de 2013

Pole-amor

Depois do monoamor e de poli-amor, a moda agora é:

Pole-amor,
no pole, amor...
sobe-desce até o céu!

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terça-feira, 5 de março de 2013

Entre nous

Entre nós só há um pecado,
pecadinho, cadinho de nada...

rien de rien.

Entre nous, il y a le feu,
que às vezes queima, às vezes brasa.

Quelque chose comme...
melhor nem pensar!

Eu te penso numa ida e vinda;
numa vida:
como se já fóssemos, já tívessemos ido.

Mais, nous ne sommes pas encore.

domingo, 3 de março de 2013

Ímpar

Eu ando solo...

E tanta gente por aí,
que é mais gente quando leva uma pequena pela mão...

Eles in pares;
eu - ímpar.

Calço dois pares,
e ando um-pois-um.

sábado, 2 de março de 2013

Walking Arround

Encontro a poesia no contato:
tropeçando nas calçadas,
esbarrando em transeuntes.

Cada cara é a capa de um livro que já me diz logo:
um enredo de angústia, espera ou alegria.
Os prédios de concreto escurecido,
e aquelas casas de comércio, com mostruário antigo, desbotado, esquecido...

As ruas percorrem caminhos de lembranças,
que não são nossas, mas nos permeiam.

O poeta atravessa, como se por acaso, usando técnicas de briefing...

Na sua retina se vê a rotina do olhar atento à desimportância.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Enseada

As ruas me dizem que é noite.
As chuvas me dizem: é março!

O escuro não assola o dia,
que virá sem saber...

A beira é começo e fim:
é mar em terra firme...
enseada.

Começo comigo e me findo,
vivo à minha arte;
pois sou de tudo um pouco o que me beira,
até esbarrar em alguém,

até cair em mim!

Debilóide

Enquanto trabalhas o deltóide
teu músculo principal atrofia.

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