(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

terça-feira, 24 de junho de 2014

Haikai

Eu digo hai à gringa que vai
da Cinelândia
e o metrô frena e a gringa cai

Imagirnal

imagina um marginal
que vive à margem
mas ainda se leva pelo rio

e assim, com arrepio
estranha o estranhamento
de sua rotina comedida

Desinteresse

o desinteresse é recíproco e verdadeiro
não se preocupa porquê

necessariamente tudo 
desimporta

sobretudo o que se passa à aorta

e também o que se fecha à porta
para nunca mais se ver

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Recaídas

Aos amores que já foram
se voltarem, lhes diria:

que não se estragam;
as provaria no dia seguinte
com gosto de amor dormido
de pizza mais gostosa

Deontologia

Imagem do Google


não sei se o amor fica no silêncio
ou na palavra
pois tanto dizer te amo
poderá parecer o inócuo antibiótico sobre o eterno organismo

prefiro crer que não sei
porque de fato o que digo hoje
termina semana que vem

nossa poesia talvez esteja nos átimos incontáveis

enquanto nos fitamos
sem paredes nem palavras
tudo que nos atravessa
tem tom de ameaça

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Por que Vivi vendeu o Neruda com dedicatória



Talvez a vida de Vivi fosse lida
cozinha, filhos, as brigas e escapadas do marido
espera cansada diante da TV
rotina repentina que o amor nem viu chegar

e ainda folheava as páginas de Neruda

Vivi não sabia regras do "jogo do amor"
cria em vencer perdendo
e dolorosamente um dia se vendeu:

botou Neruda no sebo.

da brusca poesia da mulher amada


a busca há de ser brusca

hei de encontrá-la em um descaso
que, ante o ocaso,
o desatino me haverá de arranjar

então sussurrarão nossas línguas
o único idioma:
poesia.

e tocarei a minha fé:
a_teu lado.


Dialética

Trocávamos poemas dizendo:
-outro, sim, outro, sim!
outrossim,
os poemas nos t(r)ocavam.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Outrora

No meu tempo tudo era descontraído
amarrava corda na árvore
os carros não passavam em ruas

minha mãe só advertia:
Não aceite bala de estranhos.

sábado, 7 de junho de 2014

Soneto desencontrado

O soneto com quem dormi
me amanhece sorrindo
mas a culpa não é minha
não lhe sei dar forma alguma

Sou poeta que ama o amor como matéria prima,
mas desconhece rima
e métrica, 
um acaso forçado para não pisar no pé

Dizer palavras é mais fácil que comungar silêncios
nada rima ao som do desalento 
e me fala dessa sensação

Dizer é quase um tormento
que consinto calado
só neto a teu lado 

domingo, 1 de junho de 2014

Olho d´água



Vejo o mar
de Copacabana 
mas o que me há é montanha:

Sumidouro 
com aquele rio que me percorre
da ponta do pé ao fio da sobrancelha

Vejo o olho d'água regurgitando o meu defeito
-sou rocha sem dó de erosão.