(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Corcovado (legenda da foto)

Toda buzina, ônibus, taxi
gente,
no metrô, até debaixo do chão.

Toda Copacabana,
ambulante e dissonante.

Toda terra ruindo, na terra da bossa-nova.

Os prédios de quitinetes, por todo alto
subindo, subindo...

Sinal verde.
Espera na calçada.
Impaciente, rogando alento.

Ei-lo, sorrateiro:
"Meu cantinho de céu e o redentor."

sábado, 22 de agosto de 2009

Ambigua

Ambigua
me remete à língua...
até rima!
instrumento que nos aproxima:
sua língua nos dedos,
então na minha tela,
nos meus olhos,
enfim na minha boca.

Entendi Neruda: "tengo hambre de tu boca!"
(as palavras dão ânsia de beijo).

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Moldura

Meu amor caprichoso não se aprisiona
na tua,
procura sempre quadrantes mais celestiais
gabola com essa vaidade...

Vale pintura
faz-se à tintura
sem molde:
tontura, arte pela arte.

Jogo cores pela rua,
disperso na soltura,
esvaindo em tintas, ´inda carecente doutra moldura:
espaço de afeto que me cabe.

Silogismo do querer

Quem só gosta de ser quisto
Não gosta do querer
Que mais quer do que é quisto.

Quem quer por balanço,
não topa prejuízo
então mais ganha do que dá,
e nada seu projeta, por isso.

O querer bonito é mais fluído
feito brisa volante:
te traz, leva, traz, leva...
te leva!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Eclipse

A lua engolida me dizia:
"me falta um todo de compreensão"
Só cheia se faz entendida.

Ainda o esclipse, amarelíssima...
compensando a falta do prata que não tinha.
A lua é prata.

Só amarela no afã de se mostrar
anti-natural!
Natureza de lua é ser achada...

Vaidade sorrateira:
só aparece pra quem se esquece da vida
tem tempo de sobra pra s´enamorar
e sinta-se ausente, para que só ela, então, exista.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Manisfesto sobre a crítica

A crítica sempre é desconstrutiva. Desmonta a estrutura que não gosta. É caprichosa: não quer, porque não gosta. E gosto não se discute. Então, é soberana, acima de todas as coisas. É o veneno que se nos escorre nas entranhas. Às vezes sobressai, reluzente. Mas de perto é tão somente crítica. Ambiciosa pelo alvo, inapta na própria existência.

Contentamento mora ao lado

O contetamento mora ao lado
felicidade na vitrine
beleza anestesista
se vê, nem sente.

Igualmente:
abismo de dois exilados,
um sofrimento intangível.

Distância física é amparo, quando basta esticar o braço...