(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Salmo número um

Cantem os exitosos
E gritarei o que me rouba o sono;
os t(r)emores de derrotas que me assolam.

Sábio quem na vileza encontra fortaleza:
aço em miudeza...

Orais, sem pedir certeza:
Bem-aventurado quem faz da dúvida sua prece.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Al di la

Não pertenço aos meios tradicionais
"amores, altares, rituais"
Nem me perco nas trilhas sociais
"sexos, drogas, rocks".

Não sou de cá nem de lá:
io sono al di la.

Não tenho o comum
Tenho lugar algum
meu lugar é um
Algum lugar além.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Alaranjado


A tarde foi sumindo sem que eu percebesse.
O ano termina alaranjado.

Não sei nada mais de mim:
Não quero rever o passado nem pedir pelo futuro
(todo pedido certo que faço se realiza, e depois perde a graça)

Talvez o querer esteja além da vista
e ultrapasse as montanhas
que me escondem o mar...

Se soubesse, ao certo,
me pediria alaranjado
na graduação desses dias alheios à pressa.

Dias sem pensar

Imagem do Google


Já passei dias pensando,
esperando o tempo passar.
Atravessei noites longas
e pesadelos insones.

Mas, hoje, raia o dia
que a minha poesia
quis acordar.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Sobre todos (os) nós

Imagem do Google
Eu sinto
Tu sentes
Ela sente
Nós sentimos...

Nós na existência:
(des)atados em des(a)tino.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Amanhecida

Não quero investir meus pensamentos, mas
despí-la de toda fantasia
E recebê-la in concreto
com a cara da manhã.

Acordar com silêncio:
sem música, poesia ou qualquer explicação.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Dedicação

Em dedo de prosa
O poeta perde a mão
Tal qual jardineiro à rosa
Poema exige dedicação.

sábado, 26 de novembro de 2011

Modos e maneiras

A mãe diz à filha:
-Não sente de pernas abertas!
O pai ao filho:
-Não fale de boca cheia!
A moça ao namorado:
-Não solte minha mão ao atravessar a rua!

São tantos modos
Mas só um
De dizer que se ama:

Olhos dados e bocas seladas.

Odeio-te

Com todas as forças do coração
rogo desafeto
e pragas possíveis;
não te posso esperar:

Teu tempo é meu desespero!
Se não agora, senão a hora
(a minha hora, última)
será nunca que te beijo à nuca...

Não amemos amenos
caducos, póstumos da urgência
remediados? doentes? pacientes?

-Amor sem pressa é desamor.
(Então, odeio-te)

Passarinha

Dead Passarinh, Rodolpho Saraiva

Só em gaiola dos abraços
a passarinha se prende
em tantos vôos vãos
por ternura desatende
(e suporta o chão)

Bastante

Queria dar um basta!
Mas em quê? Já não estão bastados?

Não me basta esse fim, quero enfim por completo!
Ave, mas são bastantes as vezes em que houve fim...

Mas não me basta: quero um fim que seja bastante!

Relatividade

Presente de outrora
Faz vívida a saudade
que me importa
(visita que não bate à porta)

Importa o tempo que não corre:
corte à glote
Mel escorre
e o silêncio engole.

Imagino à margem do menino
sem que temesse o sino
Fui homem em sentidos,
esboço de alguma relatividade...

No que me cabe,
faço meu rastro:
Traço de amores (ou dores)
os minutos que me percorrem.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Madrugada

Enquanto o mundo dorme
Acordo sereno
Orvalho me escorre à face...

quem fui?
serei amanhã?

De madrugada sou!
(meu peito são)

Agústia é mais

Água-ardente
em goles constantes;
porres que abrem sentidos...

A angústia há de ser vivida
eis que na vida
quem importa é o artista
quem pretende raridade.

Dentro de nós há um precipício.
(janela ao infinito, mais-que-bonito)
Algo dentro nos alça:

lanço-me em queda livre.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Violão-de-parede

Meu violão intangível
toca suspenso
no alto do meu silêncio.

Ouço:

A mulher na minha parede.

domingo, 30 de outubro de 2011

As miudezas são maiores!

Imagem do Google


Quanto te gosto?
É, sim, uma migalhinha.

As miudezas são maiores no amor
Quanto menor, mais latente
(tal qual uma solução concentrada)

Também diante da migalha maior é a fome.

Cinema Paradiso

Só distância de longos anos
Nos permite reencontrar, na volta
Pessoas e coisas que deixamos.

Somos retalhos de eternidades:
Revemos incessantes cenas que fundo marcaram.

Que serei eu do mundo?

Sou a ânsia de partir de mim, que sempre volta ao que sou.

Fui, sou, serei sempre o mesmo
atolado em lembranças;
caçador doutras tantas por aí...

Meu destino é tão simples:
em cada passo que dou, faço passado

Minha história tem 9 mm.
Published with Blogger-droid v1.7.4

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Meu canto

Quarto, Van Gogh


Meu canto recanta poemas e cores na parede!

Defino meu espaço para que nele não me caibam limites.

Atravesso a parede e toco poemas;
Transbordo cores das minhas tintas, tela dos meus amores;
Provoco jardins;
Ouço músicas de além-mar.

Alcanço minha casa imaginária:
acalanto onde minh´ alma revive.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Nas devidas proporções

Nas devidas proporções
A poesia se revela:
À beira do abismo ou
Escorada em minimalismo

Viver é um poema que não cansa;

A poesia bate além da vida que se crê:
Ignora a morte de mares e montanhas.
Published with Blogger-droid v1.7.4

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Mediúnico

Pintei outro quadro
tenho mãos sujas de tintas
escrevi poemas na parede

Tenho necessidade de dizer o que não sei.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Droite

O lado mais certo é ao teu
então sigo:
por fora da calçada

(assim protejo)

Meu olho esquerdo tem diferença de grau
e de semi-olho te subo
Alta degrau do meu desejo
essencialmente sem pensar.

"Pensar é essencialmente errar"
Published with Blogger-droid v1.7.4

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Epifanias, grilos, bocejos

Tédio, brejo, sono...

Os bocejos anunciam epifanias

tritinam repletas de madrugada:

não durma ainda, bem, se quiser encontrá-las!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sobre tantos caminhos

Cansei de percorrer estradas longas dos meus desejos.
O final de todos esses caminhos é um abismo:
Abismam sentidos de êxtase pela chegada e, então...
Por quê percorri o caminho?

Insatisfação é aditivo.

Vamos, que vamos, que vamos, que vamos.

Tenho comigo certeza de que ainda que alcançasse a estrela mais cobiçada, não me bastaria.

Quem sabe viver seja prazer de caminhada, não de chegada ou partida.

Todos os caminhos são desalinhos de pés que não pensam: só pisam e andam alucinadamente.

Dor d´olvido

Dor d´olvido:
é doído
esquecer
(em silêncio)

Aniversário (HB ano III)

Terceiro aninho: Haja Bossa engatinha e tropeça nas próprias pe(r)nas!

(Sem cometer injustiças: o HB sucedeu outro blog, novasbossas.bloger.com, que existiu de 2003 a 2008)
 
Enxergar poesia é um exercício diário. Tal qual série de academia: às vezes bastante puxada.
 
Humanamente me curvo à incapacidade e à miopia.
 
Sempre evitei dizer-me poeta porque beiraria à jactância. É como assumir-se filósofo e patentear alguma espécie de filosofia.
 
Poeta é antes um teimoso sensível. Sensível porque é sempre capaz de perceber minúcias e sutilezas; Teimoso pois nem sempre está apto a traduzir o que sente com primor, mas ainda assim tenta.
 
Muitos poemas - e talvez os mais valiosos- decorrem do debatimento existencial. Será que devo? E o poeta faz, tirando tinta da mediocridade.
 
O quase-medíocre é o espaço mais fértil da arte. A genialidade inexiste sem ensaios.
 
Quantos textos se prestam, unicamente, a degrau de outros?
 
A poesia vive assim: consequência inevitável de todas as coisas ínfimas que nos cercam, caem do bolso, deixam de ser ditas e, principalmente, não ostentam sentido fluorescente.
 
Só por isso, o HB é um blog de poesia...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Notícias de Sumicity

Quando cheguei por aqui "chamei de mau gosto o que vi, mau gosto, mau gosto". Embora Sumicity esteja tão próxima à minha terra natal, fiquei profundamente abismado com a sensação de lonjura, resultante da pequena estradinha curvilínea de acesso à cidade; da geografia em vale, que desfavorece sinais de comunicação; e da miudeza da área urbana.

Passado algum tempo, alguns sentidos brotam.

Primeiro, é possível ficar cara-a-cara com Sabiá-laranjeira, cantando alvoraçado em pleno marco central.

Observar como se faz política e democracia numa dimensão tão micro a olho nu, mas vista de cima, traduz a legítima realidade nacional. Conforme se aproxima a eleição, surgem tapumes e canteiros de obras, e aquela pracinha esquecida finalmente vai ser reformada.

No interior, a má fé desses Odoricos beira a comédia, se não fosse a exploração do povo, em grande parte, uma orda de analfabetos, escolados na lavoura.

As ambições do povo de interior são compatíveis com a realidade: o casamento vem cedo, a prole também. A vida consiste em puxar uma laje aqui, trocar um carrinho, tomar umas e outras naquele churrasco eventualíssimo da galera.

É possível viver sem happy hour, vida de cinema, passeio na orla, programação teatral.
Talvez a vida seja rica, ainda sim, sem tudo isso.
Sem todo aquele frenesi comunicativo da capital, em mensagens de celular, curtições do Facebook, aniversário do amigo da prima do vizinho.

A vida nua e crua tem seu sabor.




domingo, 11 de setembro de 2011

Amor e seu curso

O amor vai bem...
segue seu curso involuntário
(como eu sempre quis).

domingo, 4 de setembro de 2011

Desejos e fragmentos

Umas coxas, um sorriso
Aqueles olhos.

Uns e outros adjetivos...

Quero os pedaços!

O substantivo, que perfazem, está aquém à minha ciência.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Quando a vida era um rio, eu nem sabia do mar

Pedras do Arpex, Rodolpho Saraiva
Hoje já sei:
não me conformo com rio
quero o mar do Rio.

quero amar.

(até cansar)

domingo, 28 de agosto de 2011

Tubérculo

Preciso tanto de chão
Quero muito ter raiz
Bem seria um tubérculo

Mas teimo o sopro de mim:
Tuberculosa raiz que me tosse!
Published with Blogger-droid v1.7.4

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sonata Sumidourense


O sax desafina na sociedade musical esquecida
Datada 18.11.1964
Denominada 31 de dezembro.

O músico sem fôlego e muita alma
Desafia o silêncio com notas repetidas

A música, ultrassônica esbarra nos vales
Insistente, trilhas de cinema
Caminhos de sentidos que ignoram a arte:

-expressão nenhuma de valia íntima.

sábado, 20 de agosto de 2011

Radial

Imagem do Google
Passamos por tantos
que já não somos

somos resto
dos que já nos passaram

somos ainda
pretexto dos que virão

e, portanto:
resquícios de amores que nem são.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Aninhamento


O ninho precipita o vôo
(não há borboleta sem casulo)

Os galhos espreguiçam braços ao céu
asas postas à certeza:

O silêncio é a raiz do entendimento.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pretzels

Nosso amor é mudo
bate quase calado
(sustenido amuado)

palpitação que mal se ouve...

Na quietude de abraços,
cuidado com anúncios e alardes;
a forma que mais importa:

-Pretzels!

domingo, 7 de agosto de 2011

Sem título

O vento da incerteza nos move.

(o resto é brisa)

domingo, 31 de julho de 2011

Outra

imaginar Outra na sua casa:

na sua cama
como Aquela já esteve
ouvindo as mesmas coisas.
Published with Blogger-droid v1.7.4

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Copacabana

Copacabana não dorme
Mas sonha:
Durante o dia.
Published with Blogger-droid v1.7.4

quarta-feira, 27 de julho de 2011

No meio do caminho


Tinha um caminho no meio da pedra
pedra é o meio de um caminho.
Meu consolo na praia
Porto no meio do mar

(onde a onda me beija)

domingo, 24 de julho de 2011

Porquinha-da-índia

Meu primeiro amor foi uma porquinha-da-índia
e nos jurávamos imortais.

O adulto fenece o sonho.

Todo eterno é enquanto:
a celebração do matrimônio,
em retratos, votos e buquê.

Jaz o ledo engano,
que o padre rezou.

Só há amor eterno com porquinha-da-índia:
na cegueira de um coração puro.

sábado, 9 de julho de 2011

Carambolas

Carambolas, minhas caraminholas!

Quando bêbeda me devora
E me dizendo que adora:

-Eu carambolo você!
Published with Blogger-droid v1.7.2

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sobre a inspiração

Artista que é artista
tem medo de perder a inspiração
e às vezes perde.

Não acredito em artistas que não se desesperam
que não se desinspiram.

Impa_ciência

Tenho ódio de mim quando caio na vala do comum.

tenho pressa em ser autêntico naturalmente:
condicionar os outros à minha leitura,
sem maior explicação.

(Afora isso, não quero intimidade por sentido qualquer)

Tenho pressa em ser lido.

O enquanto é, pra mim, o maior incômodo entre dois pontos.

domingo, 26 de junho de 2011

Máximas sobre o tempo

Todo segundo é um a menos para a linha de chegada.

O rumo dita o ritmo:
nem todo domingo é necessariamente véspera de segunda-feira.

Às vezes o dia passa mais dilatado;
leveza suscita cuidado;
o que se espera, contudo, faz arder.

O possível, por enquanto:
eis a vida.

terça-feira, 21 de junho de 2011

As cem razões do mundo

Daqui ou dalí
assiste a razão;
se a palavra aquece
o silêncio olvida.

As verdades frias, cada qual na sua.

Algumas sobressaem, outras sobressaltam
de repente
em repente:

a dor corta, a chama passa
o tempo muda, a nuvem esparsa
o céu irradia
o mundo mudo contra nossa pirraça.

Há cem razões que justificam
ou razão alguma;
a vida é piada:
há que rir mesmo em desgraça.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Libertinagem número dois

Imagem do Google


As nuvens são espaços de beligerância poética
esbarrando-se na imensidão;
mais-que-tudo.

O céu da minha boca é azul
Trago versos engasgados na garganta
e ânsia de voá-los

O ar que respiro é o mesmo
em que pronuncio
minha pressa de asas,
minha sede de céu.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Proposta ao poeta...

Seria o logradouro da poesia o sumidouro do poeta?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Eterno



Eterno
é terno
é ter nó
é ter nós

éter no
Eterno

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Só, em teus braços

Esses abraços são uma pilhéria...

Não posso lutar por amor que não tive.

Amar se esvazia com intenção.

Pois vai além:
sem-querer.

sábado, 28 de maio de 2011

Ensaio sobre a Tristeza

A Tristeza é a honestidade das lágrimas, que desarmam a armadura da alma. Tristeza se reflete à beira do lago, solista. Então, a tristeza desobriga. A ninguém cabe o ônus de ser triste. Porque um dia, mal quista, vai embora. Se cultua a tristeza, ela floresce um livro, uma poesia, uma pintura. É feito um rio que nos atravessa e desemboca em arte. Tristeza não é bem de consumo, pois ninguém quer comprar tristeza. Vende-se o produto da tristeza, o que fez alguém chorar. Mas o olho d´água, bem do nó do peito, cada um entende como apraz. Pode ser lástima, egotrip ou borbulhão. Tristeza é água, ardente, na garganta.

Verbo definitivo

Imagem do Google


Tenho paúra do "ser":
conjugar verbo definitivo do que se é
compromisso perene com a concepção
e abdicar, então, outras tantas.

Meu verbo é presente e indicativo
do que sou agora
fui segundo atrás
e do que nem penso:

serei, logo, mais.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Certifico e dou fé

Certifico e dou fé
o que não me cabe
esqueci a poesia, em remessa
com vistas ao excelentíssimo sr.

Formalismos preciosos me arrebatam
e a poesia se esvai, sem alarde:
como chegou, foi-se.

Incompossível certificar.

domingo, 15 de maio de 2011

Nouvelle Vague

O existencialismo francês não explica os cem sentidos dos meus dias:
Je ne comprends pas!

As razões de sentir-se vão
Vão-se ao olhar, de ante-mão
à espera pelo encontro de mãos.

sábado, 14 de maio de 2011

apoético

Tenho evitado ser poeta
(esqueci meu livro no prelo)
Repilo minhas poesias,
sentí-las em pêlo.

Pretendo em vão
viver-me aos bandos
dar-me um rumo
por tantos.

Mas ser poeta é um NÃO.
Reforço-me quando nego:
minhas águas represadas há séculos.

Sem eira nem beira

Sem eira nem beira
na rede deitados
soltos no céu estrelado

Sem eira nem beira
nossa prosa não arranha:
só ameaça polimento.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Está escrito

Está escrito:
destino é caderno de caligrafia;
vejo oráculos para não crê-los
prefiro que não advinhem meu futuro.

As tendências apontam
mas há sempre possível retorno
direções e caminhos;
certeza é só seguir.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Medo da escola

Hora da escola
Há que se ter rotina,
assumir responsabilidades
traçar metas para realizar os sonhos...

que sonhos?

esforço é fundamental
com disciplina, estudo, trabalho
em busca do sucesso.

sucesso?

Quanto dos sonhos são nossos?
Qual sucesso que nos satisfaz?

Agora entendo meu medo da escola,
hoje com outras formas e feições, mas de mesma essência:

-Era dúvida libertadora das certezas que aprisionam.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pretérito

O sabor das expectativas retrovertidas

Olhar reverso de toda espera
Álbum de retrato
Paisagem com lago tranqüilo

Todo silêncio, salvo o disco que se quer
(os pavores arrumados na gaveta)

Narrativa em terceira pessoa:
a gente vendo longe
mas sentindo perto

-O presente bom que se delonga.

sábado, 16 de abril de 2011

Anseios

meus anseios incansáveis
caminhos infindos que a alma traceja...
 
mas meu corpo carece repouso
minhas pernas suplicam exaustas.

sábado, 9 de abril de 2011

Wireless

Estou conectado a você
sem fio, sem cabo
sem abanar o rabo
à minha dona.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Acômodo

O acômodo é o incômodo que tem medo de gritar.

My Cloud

Ser vida que não pára
mais quero quem preciso
casar uma frase é viver amor
o azul nos delega o necessário

Passáros tantos voando na cidade
Sumicity rompe o anil: Galiotto
vinho gauche de ameixas
grandes cores do meu desejo

passagem do espírito, fogo
espia estranho coração de fel suave
pedaços de poesia a gozar eternidades.

Aplaudo das horas a passagem
com calma, loucura, exagero
tecendo flores à minha mensagem.

Paquequer

O Paquequer tem o curso certo da minha vida:

-brota onde nasço;
-corre por onde passo;
-finda quando morro:

no mar.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Domicílio

minhas asas fatigadas
das penas de si
da sobrevida do vôo
do sobrevôo da vida

tudo por cima é minúsculo,
mas ao músculo importa:
a terra à vista,
e a miniatura de casa que se pretende habitar.

sábado, 2 de abril de 2011

Poeta e seu caráter



Poeta não tem caráter;
é soma de caracteres.

Para formar versos
ama uma qualquer.

Idiossincrático número quatro

Não tenho tempo a perder
trago em mim estrelas perdidas
impaciência de séculos
rastro do que poderia-ter-sido.

Qualquer mágoa, dúvida ou retiro é contra-fluxo.

Piso fundo na pista da esquerda.

Andar de mãos-dadas exige certezas distantes.
pois corro em busca
por cada fresta.

Até lá:
alimento minha fera,
acelero minha pressa.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Geminiana

Amar a ti é querer tantas...

heterônimos que são:
geminiana.

quisera tê-las toda
e tuas tantas me amando.

domingo, 27 de março de 2011

Porto dilúvios colossais

Nem o Pai Eterno!

O comichão da alma faz bossa.

Lavados sejamos dilúvios
tormentas camaradas
que não se conformam

Não padeçamos terráqueos
podres produtos de si
equidistantes do pai

-Deus Pai:

Suplico ao Cristo (crucificado na parede do quarto)
que nos guie
e conceda um instante mais,
ainda semente:

Porto dilúvios colossais
e minh´anima arrefece
com ventos nos coqueirais.

Retalho de amor

Você se faz tão presente
que a vida já não tem
mais cabimento
sem você

Poesia acontece
quando se encontra
quem se acredita:
você.

Pois te amo
Sim, te amo!
Que custoso redundar
A exclamação dos amantes.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sincericídio um

Não há amor sem mentira
desenganados não amam
falar nossas verdades é sincericídio

Vivemos outras estórias
morremos outros amores
desimportam papéis,
ei-los: mesmos atores.

talvez a paixão nem agrade
aos vizinhos:
esbarrão no corredor
sem querer eternidade

Deixemos à vontade
veracidade que somos
sem ledos enganos:

assim nos beijamos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Soledade um

As vaquinhas presepam nas montanhas
Abanando o rabo à torpeza dos homens

Desse vale distante,
a soledade manda lembranças:

amar a si é princípio da vida;
rir o dia e acalmar a noite
tão simples, sem grandes teorias.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Águas de março

Sob o novo sol d´outono:

o enfim-do-caminho,
o mistério da ribanceira,
o sustenido pingando!

são as águas de março fechando o verão
é promessa devida no meu coração.

terça-feira, 15 de março de 2011

Dúbios

Tantas dúvidas nos sombreiam
o que pensaria se fizesse?
como reagiria se dissesse?

Respondes com questões exclamativas.

Somos dúbios:
nossos corpos de tão unidos

fazem interrogação.

domingo, 13 de março de 2011

Angústia

Porto a angustia
Prenhe em si
nos meandros
duma vida inteira!

disputa no tempo
seu canto
sua estória
seu esquecimento.

Pressa de vida
Fome descontente
Dúvida inquietante
Do que foi, é, será

Dilema:
das estrelas que fulguram mortas;
das milhões de verdades já postas;
da revogável lei do universo;
da fé incondicional.

Angustia de tudo que parece irrefutável:
Dias que são noites
Arroubos que aspiram amores
Dores que se mostram sinceras

Agonia do vazio infindo que se segue:
Do útero ao jaz.

Encontros número dois

Teus olhos cansados 
traziam uma vida pela frente.
Também as mãos:
adestradas à arte da espera.

Quando nos vimos houve “não”
pela silente falta de coragem,
delicadeza toda,
insegurança táctil.

Quando partimos houve “sim”
na certa dor de ausência,
querer-estar-perto
quando distantes.

Nosso amor não brotou dos dedos
[da primeira visita]
mas do relaxamento tênue, de reencontro.

Despidos de qualquer ânsia.
Despidos de tudo.

Beijos

Beijos:

falam por si
calam por demais

-são tantos lábios num só.

Espaço

O espaço que mais quero
é mínima fresta
que resta:

entre o seu abraço.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Versos-mirrados

No meu deserto calado
inefável
converto silêncio em dó:
uma nota!

Que dó... ré, em mim.
(jingle do descaso)
que nem sai.
Arde feito pedra no rim.

Suspiração: o sentido que evade.
Cadê o verso?
analgesia de horas incertas
remédio da razão e vontade.

Suplico todos os dias:
se não vier a riqueza do mundo,
que não me neguem versos mirrados:
a paixão da minha vida!

Aneurisma

Sou poeta na teimosia de sê-lo, pois o Dr. advertiu-me do risco:

-de estourarem as veias
-dos versos que pulsam no meio
-do coração bombear sem ritmo.

Prelúdio do adeus número um (2004)

Gosto como selecionas as palavras
Gosto, também, como espias os meus versos
[com uma cobiça bem disfarçada]
Gosto dos teus passos calados, relutando em fugir.

Te digo:
-Espera!
De que vale essa pressa descabida?

No teu raio de despedida só vejo estrelas
Há pó de estrelas, de cada verso espanado
e tantos beijos amarrados,
embalados pruma lamúria futura...

E me abraças com esse sorriso,
que se abre com tanto cuidado.
Mas que nada sorri.
Que nada me diz.

[ajoelhado que estou aos teus suspiros]

Tatuagem

Não me seguirá pra sempre tatuada
Pois a intenção distorce o rumo das coisas
E um dia hei de querer apagá-la
Como quis gravá-la

Do mesmo modo:
Se pretendo esquecer,
aí que a lembrança se faz presente
Pra sempre!

Esquecimento forçado é auto-mutilação
Não se faz pela vontade
Senão pelo tempo
Quando te esqueces de esquecer.

Simétrico

Ponte Nikity, Rodolpho Saraiva

Quero simetria nas formas
A delícia no princípio
E sutileza no fim

É possível não ser contundente?

A violência que aproxima
Repele
Eis a física ao amor aplicada

Quero abrandar essa pungência toda
e tornar o desfecho um encantamento pra sempre.


Parnasianíssimo

Não visitastes meus olhos
[e nem o fará]
Mas te sigo temente
Não te desacreditarei nem por toda filosofia desse mundo!

Faço-te oferendas, todas minhas preces.
Gostar-te é religião
transcende às transpirações do corpo.

Tento-te fé
E minha crença pouco te exige
chuva ou sol,
Tudo é bonança!

Mas há dias em que me sinto te amando
e o assunto muda de rumo
entrego à ciência humana:
-Beija-me! Que fazes nesse altar?

[Inquieto por completo
dou-me conta:
cansei de flertar com teu silêncio!

E perdoa-me, pois te fiz um poema]

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Vítima

A vítima faz-se de mira
para que se erre o alvo
da pior armadilha que é:
agir em ilegítima-defesa.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dicção poética

Digo quase abafado
Meu poema é um silêncio-errado
de léguas mais remotas

Sou poeta turvo e urdo
Por um particular
Com aquela moça

Danem-se anseios universais
clareza de compreensão
matemática dos versos:

-Quero murmúrios inaudíveis com você.
Published with Blogger-droid v1.6.7

Encontro

Cadê o mundo que buscava?

Meus amores, rimas, risos?
Por que corri estradas...
Até chegar ao ponto de que parti:

Encontrei-me com nó no peito!
Published with Blogger-droid v1.6.7

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Dúvida?

Você tem dúvida quando me abraça?

duvido que tenha dúvida
pois eu só tenho certeza
de que é bom e quero você.

Sumidouro um

Imagem do Google

Aonde foram meus rios?

todos se perderam,
curvaram tanto,
alisaram margens,
arrastaram folhas.

Hoje confluem:
ao Sumidouro dos rios.

A poesia no meio do caminho

A poesia está no meio do caminho...

Alguns chutam, outros avaliam:
pedra no sapato ou emoção única?

Há muito verso na beira da estrada.
Não é o poeta quem tira patente de inventá-los.

Poeta é quem brinca com essas pedrinhas,
e espalha.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Poeta abisma

O poeta está à beira do abismo
anda inclinado
vive a abismar a vida
Published with Blogger-droid v1.6.7

Sobre-tudo

Gosto de falar e brincar de tudo
brincar sobretudo,
brincar sobre tu
sobre-tudo.
Published with Blogger-droid v1.6.7

Interiorano

No meu interior habitam montanhas, rios e árvores
há calmaria de vilas pequenas,
hábito de passarinhos que cantam
terra nas unhas
(natureza que não sou além do chão)
Sou o que me resta:
Interiorano.
Published with Blogger-droid v1.6.7

Manhã

De repente alvorada em Copacabana me faz despertar
É o dia, é o dia...
Algo novo se sustenta no ar:

Encho o peito de alegria!
Published with Blogger-droid v1.6.7

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Qual a medida do amor?

Esta é a medida do amor:
quem ama não mede esforço.
Published with Blogger-droid v1.6.6

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Feto

Inventaste um feto
Para me afetar
O afeto
Published with Blogger-droid v1.6.6

la faute n'est pas du poème

C'est une question
De chercher
Une âme
Qui peut écouter.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Intimidade

Intimidade é o toque
do que não se pode alcançar
à mão nua

É ali
na estranha
que depois desentranha:

a mão que te partiu.
Published with Blogger-droid v1.6.6

Rotina

A rotina deixa a poesia fatigada
cochilando
sem sonho nem hora de acordar.

domingo, 23 de janeiro de 2011

desprograme-se

Quando prendes às certezas
escapam todas horas marcadas
os ponteiros atrasam, o chope se agua,
no calor insuportável da Lapa

Tudo são planos 
tantos desfeitos, nada a contento
do que antes se pensou

Quando dá errado
descobrimos sentados no meio-fio
que rir da vida nos é direito que sempre assiste.
Published with Blogger-droid v1.6.6

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O vento

Les Coquelicots, Monet

dono das flores, lança sementes
pastor de nuvens, tocam raios
vento que me venta tarde
moinhos dos meus sonhos
brisa que morre nas árvores.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Minuta

Não quero estar acabado e pronto
sou quem ama a cama por fazer
projeto, esboço e sonho
minuto aos minutos:
minha verdade varia à brisa de viver
Published with Blogger-droid v1.6.5

Poemeto número um

Quando falei-te à boca
fiz crer que estamos atados
à uma delicadeza que te acaricia leve
e remete breve à plácida certeza:

Somos além do acaso,
a vontade nos permeia de sinos -
ouço colado,
ao largo da tua beleza.
Published with Blogger-droid v1.6.5

sábado, 15 de janeiro de 2011

Teresópolis

Imagem do Google


Não me considero dos seres o mais altruístas. Até hoje não me bateu o sentido de solidariedade, aquela comoção "devemos ajudar". Muito disso, sempre me pareceu demagogia, uma espécie de culpa cristã. Quando vi minha cidade natal desmoronada, ao vivo, no Jornal Nacional, novos sentidos me vieram. Teresópolis sempre foi meu ninho, acolhida tão grande, que me sufocou: trouxe revolta de asas e saí de lá. Mas sempre carreguei a ternura do lugar em que cresci livre, uma infância sem igual, sem limites de playground, solto pela mata. Meus sentidos todos nasceram naquele espaço, no contorno das montanhas. Vi toda razão da vida depreender-se da natureza, das árvores, das formigas. Depois veio fome de gentes, escolhas, possibilidades, do mundo. E Teresópolis se resumiu à  segurança. Agora nem isso. Ver tudo desmoronado arruinou minha concepção real e imaginária. Hoje me sinto mais frágil e vulnerável: o risco é inerente ao respiro. Podemos morrer no caos urbano, das favelas, balas perdidas, morro do alemão; ou arrastados por uma tromba d´água digna do Velho Testamento, no recanto mais ermo e pacato. Parece fim dos tempos: não há pra onde correr. Reduzido à uma fragilidade absurda, e tão fragmentada, me sinto tão desabrigado, completamente em luto, por algum ente perdido que não conheci. Muito morreu em mim, depois que o caos passou raspando. Ruínas entre o Caleme e o Espanhol. Quase minha ex-casa, onde morei a vida toda, até o ano passado. As águas levaram algo meu pra sempre. Hoje vejo Teresópolis como lugar cheio de certeza guardada nas pedras, de natureza impiedosa, na expressão máxima, que arrebata certezas e afoga memórias.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Preciso Aprender a SÓ SER

Ouvindo a música do Gil, "Preciso aprender a só ser", manifesto tropicalista ao "Preciso aprender a ser só", samba-canção de Marcos Valle, vieram-me algumas reflexões sobre em que pé anda o amar. Na minha humilde concepção, há dois extremos: os "roteiristas" e os "fundidos". Os roteiristas são aqueles que, para saciarem a fome, escrevem com facilidade uma estória de amor, encontram um bom protagonista (ou antagonista) para o papel, e se convencem de viver aquela ficção. Os fundidos são seres exauridos pela busca, que encontram par na mesma condição, e fundem suas solidões. Ocorre que nenhuma dessas soluções satisfaz. Nem uma terceira: micareta. Em verdade, todos carregamos os genes do romance. É algo tão forte que ultrapassa a herança cultural. Está ínsito. Musicalmente falando, dor de cotovelo é algo cafona. A bossa-nova, que se contrapôs a essa tendência, hoje já é considerada "música de idoso". Depois de tantos avessos e tendências, muita gente ainda tem alma seresteira, com vitrola em casa e disco de samba-canção arranhado, de tanto ouvir. Somos escravos da parceria, da vida a dois, do deux-par-deux, do cheek to cheek. Hoje e sempre. Parar e perceber "preciso aprender a só ser", contraposto a "preciso aprender a ser só", causa um baque violento. Não faço apologia a monastério Tibetano. Também não acredito que a filosofia alimente de questões o cérebro a tal ponto, que minimize o efeito inebriante do amor e a sede que lhe é inerente. Mas existir, tão só, somente, não significa rimar só, pó, dó. Viver está além desse limite. Amor pode ser desobrigação. Amantes não são posers. Mão-dadas não são algemas.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

GPS

Qual caminho das certezas?

Os revezes são vias acesas:
radar a 100 metros, reduza velocidade
O desalento são ruas apagadas
que me fazem só voltar pra casa

Já dispenso qualquer senso, de direção.

Quanto se sofre pelo acerto de caminho
Os retornos inexistem
Quando caminho se marca aos tropeços
corta-se à contra-mão

Eu sou eu, o que me prefiro:
um erro, autorizado em não acertar.
Published with Blogger-droid v1.6.5

domingo, 2 de janeiro de 2011

Tudo que finda

Saltita - o medo que me hesita
o que me resta da vida, finita
é brasa:

bituca de cigarro pela janela.

That´s all jazz!

A pista explode em outros ritmos
- mas minha síncope é a Jazz Band do outro lado da calçada.

Lá todo improviso se valida,
pausas de silêncio são prosa musical.