(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sábado, 30 de janeiro de 2010

A ponte

Entre mim e outra coisa,
já era começo-do-fim
passagem aos passos estreita,
ou sombra d´água.

A ponte é o que é:
impressão suspensa
sobre a vida inteira.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Surto psicótico

Mais de mil olhares:
fodam-se todos
cá no canto,
encanto real.

Todo medo me percorre
Favor, socorre!
ou saí daqui!

No lato surto, mais humano se é:
intolerante ao desalento,
uma herança de si, quase perdida.

Indiê com você

Quero ser indiê com você
tarando essa vibe
pra lá, cá... all star:
pisas nos astros sem saber!

São cinco tempos de batida
pulsando na tua,
garanto:
a gente pode sincopar.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Encontros número um

Por quê a gente não se encontra:
Sob sol do meio-dia
n´ avenida-central, de ônibus cercados?

Quase-atropelados?

Por quê o instante desejado
não nos vem
acaso
encher a vida de mais torpe emoção?

batimentos desesperados?

Corro abjurado
largando todo cuidado
de peso, medida e mão
Por esse encontro alucinado!

(já vem vindo, já vem vindo...)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Errante

De nada vale acerto dos passos?
e caminhos...
pra que tantos?
Se tudo remonta domícílio.

Mais vale ser errante
brincar ao seu, sozinho
fazer à areia carinho
como delícia que onda e vento desfazem.

Dar-se voltas pra alçar a lua.
Repente, esbarrar noutro passante:
beijar doce incerteza
até ganhar mais asa que avião!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Coisas in comuns

Dois seres
um: corte transversal no outro.
Pronto, hemorragia poética.

Sem ensaios,
são o que vibra
numa camada além, tênue e fina
de abstrações ininteligíveis.

Dois perdidos
que esperam longe
desencontrarem-se juntos.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Movimento pro forma

Antes um estilo, depois outro
que nos diga
sempre siga:
a seta da moda!

Democracia "abaixo à ditadura",
a bossa "abaixo ao volume do rádio",
rock "abaixo ao contra-baixo",
e o modernista rasga o parnasiano.

O tempo vem, engole o outro e faz mudança.
e mesmos sóis, do novo que se faz velho, e do velho um dia retrô
o movimento não é novidade: pro forma.

Beleza mesmo lá no fundo do tacho.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Cores primárias

Amor é vermelho, como coração.
Poesia é azul, feito o céu.
Dor é cinza, tal qual nevoeiro.
A espera é verde, mesmo quando pura angústia!

Eis a aquarela do poeta!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Não sei s´inda amo

Não sei s´inda amo,
não sei se quando finda
alguém intima,
ou se a própria revisita, insossa.

Quem eu amava?
ela;
ou as forças coronárias,
do prazer simples de mais pulsar?

Talvez tempo passe,
e bem diga "amor, era sim",
ou não:
sopre longe essa impressão.

Nem sei s´inda amo... quem?
Mas amor sempre convém,
em mim tomado,
e bem apessoado.

Galanteio d´hoje e outrora

De serenatas de janela,
cantar carinhoso,
embaixo baldes d´água!

O galanteio tão só capota no riso da musa sestrosa.
(o flerte sublima qualquer humilhação)

Hoje, o desdém é não.
Não porque ela sabe se não.
Não porque a velocidade dos tempos não franqueia o velho charme.

O violeiro, logo então,  ruma proutros tentos.

E a dama, consternada:
-Já? Feneceu toda devoção?

Hoje verti uma lagrimazinha pruma mulher

Hoje verti uma lagrimazinha pruma mulher
eis que brotou esse plangimento desatinado
alheio à vontade e meus apelos...

É que choro que parte
de alma devota
à mulher amada
faz inaudível qualquer consternação.

E lagrimazinha se abre, se liberta sorrindo
escorre na árida face
de quem antes não cria.

E surgem férteis emoções
num peito
[agora repleto]
dum namorista chorador

Amo imediatamente

Amo imediatamente
Na pressa sempre descontente
Um amor que cessa por instantes

Estamos ausentes
Pensando
em quando estaremos juntos

Estamos juntos
Pensando
em quando estaremos juntos novamente

Devemos amar enquanto:
-enquanto não vens,
-enquanto estamos juntos,
-enquanto não acaba.

Haja doutrina,
muita disciplina:
amor sem liberdade é uma cela escura!

Se queres segurança, não ama
espera embaixo da cama
o tempo passar.

Pasmaceira

Os amores pascem e ninguém se preocupa:
de quê serve a pressa?
vão-se como houvesse todo pasto do mundo.

Às vezes, desprendem-se entre uma colina e outra.
Não há pressa:
importante é pascer.

[Amor sem urgência não é remédio;
é moléstia que bem fingem conviver]

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Champagne et cerises

Jouer avec cerises,
boire champagne,
en suite,
manger les désirs.