(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

terça-feira, 25 de maio de 2021

conselho

leve o leve
não espere o dia
que não chega

sem nunca ou sempre:
não há noite que não amanheça

toda hora é hora
amanhã ou outrora
hoje e agora


terça-feira, 18 de maio de 2021

souvernir

[as coisas tangíveis tornam-se inservíveis]

pobre de quem não soube atento
nem lembrou a tempo 
o que havia a lembrar

pobre de quem urgiu o físico
e sem olhar metafísico
nada alcançar

não se perde o perdido
não se esquece o ignoto
o que jamais foi, agora, nunca será
 
a lembrança, caríssimo, não tem muro nem dono
não ornamenta a sala de estar

cabe só 
num coração sem fronteira

sexta-feira, 7 de maio de 2021

viver é maior que sonhar

dentro dos empoeirados clássicos
da velha estante materna
muito além da literatura universal

as cartas que meu pai lhe escrevia
bilhetes de aniversário
cartões natalinos
recadinhos avulsos
orações de santinhos
velhos postais
saudações de dias das mães

Homero, Eça de Queiroz, Moris West, Stendhal, Tchekhov, Oscar Wilde
até nas ilusões perdidas de Balzac
em Quixote, Proust, Camões e Dante

os maiores ditos eram enxertos perdidos
memórias avulsas e particularíssimas
lançadas sem destino
desimportando autor ou título

varri aquelas obras vermelhas 
à procura de algum ponto ou contraponto que cosesse a minha costura
e me dissesse à abotoadura:

a vida é capa dura
experiência curta, sem páginas
de pesares e alentos
que não cabem no livro