(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Amo

Amo todos meus amores
de ontem e de então
Minhas costelas todas
de Adão

(em pecado, em paraíso)

Amo todo sentimento
que me perfaz
A soma disso tudo
Eis que sou!

Me reparto, me guardo
Para que então
Esses tantos
me caibam.

Pontuar-te-ei

Vamos exclamar essa vontade
que anda tão interrogativa
pontuemos esse idílio tão eloquente
que você ousa tornar reticente

Chega de virgulas, parênteses...
Abram aspas:
"T´adoro"
[com aquela contração francesa e tudo]

domingo, 23 de novembro de 2008

Impessoalidade (Inspirado no bucolismo do Jardim Botânico)

As coisas mudam,
as essências ficam
dos aromas de xícaras de café
dos vizinhos de tempos de avó

Hoje nem se cruzam
falta tempo e argumento
Mas seguem unos em angustia
separados pela parede

Um dia, o vizinho atravessa carta,
debaixo da porta da vizinha
e o queixume achega doutro lado:

"Nos expomos em decotes,
e n´alma tão vestidos - só por estilo:
ah, nossos dramas nos reduzem ao nada metafísico!
Daí, não assumir o vácuo tem mais valia que convivê-lo?"

E agora passam-se: "bom-dia"
seguros que devem habitar seus vazios solitários
num edifício enorme de apartamentos
repleto de tantos vizinhos espistolares.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Niilismo em pó

Somos pó, nos enfeitamos com mais pó:
a base da sua maquiagem, filha
um dia foi alguém que se enfeitava!

La vida es mientras
Mientras no acaba
Mientras, lo estoy!

E vamos nos fazendo por cima tantas personas
que nem se sabe
se há no fundo
indivíduo.

Sentir-se potencialmente pó,
Não traduz sofrimento
Se pensar que desde já
se pode bailar ao vento

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ma tristesse vient

Ma tristesse vient
d´un temps
que je ne connais pas

J´habite le silence
D´un passe
que je ne me souviens pas.

Je suis démodé
Avec peur de l´oubli
Peur de moi même.

Mais la tendresse
fait des amantes combattants
de l´inquiétude.

Et l´infinit permet
Sentiments de diverses tailles
-Combien mesure ton coeur?

J´attends l ´etoille que brille sans cesse
L´amour de tous les gens
La joie simple.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Amor-em-três-tempos

Imagem do Google


COMEÇO: silêncio
um lado táctil
abismo de olhos
nem se cabe de pensar

SEGUNDO: arrima
a gente em cima...
até cisma
e amarga um vulgar

ENFIM, se finda
é sina!
bate a porta
cada um no seu lugar

Morremos em três pontos:
quem sabe “amigo...”
definido bonito
do resto que ficou.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Personificando

Viver é impreciso
Navegar talvez não
Ao dissabor do mar
Eu prefiro uma razão

Meu amar é uma pedra
E a saudade, meu cais:
Poeta não finge dor
sofre dor que deveras sente.

Viver é to have (or have not)
alguma coisa que valha, em si
ou um sonho que se reparta ao mundo:
comboio-coração.

Viver é impreciso!
Ao sabor do mar
não se escolhe uma razão:
em linha reta, já tomei porrada!

Eu sou um doido que me entranho à minha própria alma.
(Mas com alma não se discute!)
E com o tênue passar das horas, me aproveito:
-E-xi(s)t---ir!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Ainda se morre de amor?

Batimentos acelerados
Olhar colérico
Apressa-te
De que serve a espera?
Desvios e atropelamentos:
-Chegada a hora!
Definha até tua última gota
Ainda se morre de amor?

Causa mortis desconhecida,
diria o legista!