Desprezada
Dela se foge
Pelo medo, pelo mal
Na obrigação de ser feliz
Triste ninguém se quer
Ninguém se ama
Nada se espera
Mas pouco se sabe quão grande é a beleza
De ser triste e, com tristeza, esperar a alegria
Feito a luz do dia
Depois da noite incessante
Morre-se no instante de alegria
Vive-se eternamente em tristeza
Pois a natureza é a dor
do primeiro corte que nós dá à luz
E só ao fim da vida
Se sabe do direito de entristecer
Pela dor do corpo,
de saudade, que é doída
Tristeza é só dor
Para quem não sabe encantamento
Não se vive intensamente sem doer
E sem intensidade, não se vive.