(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Entardecer

Foto por Rodolpho Saraiva


Bem tarde ser
Deixar-se em tarde ser
À tardinha lhe cobrir
E só agora resolver-se homem, doutor, poeta.

Quando o sol evade, coração liberta
Bem tarde em si
entardeci:
Fui, ao fim do dia.

Passagem

Quero estar acordado e ver meu passo
Quero saber todo meu caminho
Então durmo até chegar

Sem risco de fenecer, à toa, meu dia
Hei de ter olhos atentos
O piscar esconde o fim.
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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Champanhe

Je boire des etoiles
Meu coração élevado
Às alturas da imaginação

Transcende à taça espuma
Borbulha,
Que m'olha são.
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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Desacaso

O encontro ao acaso
É ocaso do desencontro.
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domingo, 17 de outubro de 2010

Lacan, en passant


É por demais certinha
não me vê ao certo
que outras loucuras são avessas à minha.

Amor, meu amor, minha falta
quero dar-te tudo que não tenho
tomar-te tudo que me entorta:

luas uivantes contigo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Avulsa

Transbordou às minhas folhas
(soltas pros seus versos)
Avulsa me ocorreu
Incerteza querendo me acertar
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Defesa da Tristeza

Desprezada
Dela se foge
Pelo medo, pelo mal

Na obrigação de ser feliz
Triste ninguém se quer
Ninguém se ama
Nada se espera

Mas pouco se sabe quão grande é a beleza
De ser triste e, com tristeza, esperar a alegria
Feito a luz do dia
Depois da noite incessante

Morre-se no instante de alegria
Vive-se eternamente em tristeza
Pois a natureza é a dor
do primeiro corte que nós dá à luz

E só ao fim da vida
Se sabe do direito de entristecer
Pela dor do corpo,
de saudade, que é doída

Tristeza é só dor
Para quem não sabe encantamento
Não se vive intensamente sem doer
E sem intensidade, não se vive.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tejo


O tejo é mais belo que o rio de Fernando Pessoa.
O Rio submerso no mar, de Chico Buarque.

Águas têm curso
prum coração incurso
em maré cheia.

- Rio que me conflui.
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Inclusão

Ser limítrofe ao outro
Apartamento e baia
Espaçamento adestrado
O que sou, noutro, assola
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Deletérios

Deletério é o tempo
Na correria das horas
Engole lembranças
De que se pensa

Deletério é o vento
Arrasta folha e pensamento
E não há peso de papel
Que desfaça o tormento

Deletéria neblina, fumaça, nuvem
Que reduz o céu
Deletéria miopia
E tudo que contorce a visão.

Deletério precipício
Carregados por desabamentos
Os loucos enamorados
Lançam-se em vão.

Deletério silêncio
Corrosivo
Quando a raiva ordena grito:
Calar-se é implosão!

Deletéria a vida:
De quem não se ensina
Que a força de luta
Aumenta o contra-golpe do mar.

Roubo


Queria roubar de ti
uma declaração de amor
bem bandida
bem contraditória.

Que nos deixasse em maus lençóis.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Outrora

Dê tempo ao meu tempo
Vou mostrar que nosso agora vem d' outrora
Passo mais lento:
meu alento é o beijo que se arrasta.
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