(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sábado, 28 de agosto de 2010

Tijolinhos

Amor não chega pronto
casa para morar
faz-se aos tijolinhos:

eu, depois você...

aceita do outro e se doa, sucessivamente.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Poema da verdade

Acredito na verdade
Não a que se diz
Mas a que se sente
Dos olhos
Que nunca mentem

Verdade mais pura da lágrima incontinente

Dizem –os sábios – que tudo é impressão
De cada um
Em ângulo, óptica, percepção
E que há um plural verossímil
De crenças por aí...

Assim não penso.
No miolo da gente, há sim um fundo de verdade
Tão imensa, que paira por todo lado
Mas que cada um a vê a seu modo
E dá o nome que lhe convém

Verdade:
Da dor, do sol, da noite
De tudo que não se entende
Mas que se pode sentir.

domingo, 22 de agosto de 2010

Aventura

Buzinas,
ônibus além dos sinais vermelhos.
Esperamos no ponto, à toa:
porque carros ignoram beijos de rua.

Tudo passa:
em cima, embaixo dos viadutos.

Mas naquele meio-fio, dois restam
em contrafluxo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

sentimento do mundo


sigo tanto sufocado
de tudo um pouco
sem ânimo de lutar
toda luta que parece.

o mundo à cara impõe riso.

queria só
trancar-me
na minha ex-casa
de sacadas abertas.

(grilos tritinando)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

poço


jogaram uma moeda
no fundo do meu poço
e acordei de esperança

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

auto-retrato

uma idéia boa
inviável
de acabar com a fome do mundo.

querer estrelas altas
mais frias, menos quistas
nefelibata

vontade há pelo prazer;
apela razão,
doendo no peito

as abstrações mais vagas
sem rima
nem poesia.

sábado, 14 de agosto de 2010

Amor de ontem e sempre


Meu amor de ontem
está na agulha, vai tocar de novo
quando você chegar,
sonora.

Paixão antiga não desata
não acaba em rima:
arde sempre no peito calada.

O que a onda leva, o mar volta:

-concha que dorme pra sempre!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Assemia

Faltam duas coisas hoje:
óculos e inspiração
inspiração corrige o grau;
óculos a inércia.

falta luz
visão
no desaconchego do bréu
vive-se desapego de idéias.

assemia
deserto
tão certo
de nada.

cheek to cheek

O beijo não precisava
muito mais que sexo unido:
o coração em orgasmo múltiplo.

dançar de rosto colado
colégio, namorados:
simplesmente havia nada.

esquecimento retina adentra
afora inspiração
pausada a hora, a hora, ahora.

não importa àorta
queremos mais aqui:
estridentes um de si

quase parada música
sem dança:
-cheek to cheek!

sábado, 7 de agosto de 2010

Tendência


Você sempre às últimas
consequências
da moda

até no dia morno:
arregala óculos de sol
e havaianas brancas na varanda

Atropela
você, tendência
atravessando a rua.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

coração em pedra


ama o coração de pedra
coração que não te ama:

pedra de quem ama, coração!

pedregoso cardial
de quem sofre o que não ama.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Astronauta


Não reclamo da tua curiosidade
que te faz astronauta
no meu planeta.

Se fico silente
com tuas perguntas desperto
torno à órbita

Minha estrela é fria
(calor que mal se divide)
Mas topo o desconforto
por esse dedo de prosa.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Restinga



Interrogações fundem a cuca;
exclamações de raiva sobressaltam
"Sou, estou, poderia ser..."

Toda inquietude pede colo;
até dormir sobre alguém.

Divagação morre assim:
uma restinga pacifica dois segundos.

sobre satisfação

satisfação é estado de novidade,
carcumível com o tempo:
mesmo a perfeição cansa.

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