(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Contribuição de leitores um

O insustentável peso do ser

Era racional demais para entender a vida. Na verdade, era ainda mais problemático o seu caso: repudiava o abstrato, mas, um pouco menos que o ilógico. Não sabia porque havia nascido, nem crescido, e cansava a cabeça quando tentava achar um seguimento, se quer, de lógica no universo. Se perguntava o que faria quando morresse e o que havia feito antes de nascer. Tinha dúvidas também em o que deveria fazer neste intervalo entre o começo, e o fim da vida: a própria vida. Concluía, por vezes, que se a vida fosse mesmo efêmera, como repetem os homens, deveria largar os martírios e se dedicar à vagabundagem. Para que, afinal, estudaria, trabalharia ou choraria, se poderia escolher caminhos fáceis para viver? e já que se trata de tão curto período a vida, e tão frágil, não seriam insensatas as coisas caprichadas? Deveria, então, viver até o instante em que morreria. E acabaria. O problema, tão intruso em sua rotina, é que às vezes pensava na vida de forma diversa. Também imaginava que a vida poderia ser uma passagem, rápida ou não, mas que teria uma continuação, que haveria encontros, a vida sendo respondida! a hora em que conheceríamos todas as respostas, de todas aquelas dificuldades passadas. Haveria encontros, felicidade e uma certa vontade de voltar a viver, e acertar. Agora parecia muito fácil. Mas de uma coisa sempre soube, sempre levou consigo: que não há nada menos democrático que a vida, para aquele que nasce, mas que, ainda assim, não há desperdício maior do que o ser humano que pensa em azar, e não em sorte.

Lenita Bandeira

Um comentário:

  1. Sério, a trilha fechou muitoooooooo com o texto. Não sei da letra que não me tocou, mas o som mesmo. Show!!!

    :-)

    Obrigada pela visita viu.

    Beijokas

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