(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Poema remexido

Sinto saudade dos medos inéditos da infância
E das pulsações desbravadoras também.
Os ares gelados, granizo na grama, aroma de chuva.
O arder de subverter leis desconhecidas.
Todas as coisas tão verdes...

No verão, o canto da cigarra libertava.
A mata era plenitude.
O céu, amplidão infinitamente desconhecida,
Instigava noite-e-dia
Àquela alma recém-concebida.

Depois, adulto: os cheiros, os ares tornam-se insuportavelmente iguais.
Todas as coisas, mudas.
Nada replanta, brota, vinga, floresce.
Lembrança é coisa seca...

E eis que surge o vazio:
a construção feita, as certezas sobre a mesa, tudo arrumadinho...
Mas só se sente verdadeiramente repleto quando há um mundo inteiro de coisas por se inventar, dar nome, quebrar e erguer de novo.
Tudo pronto é tão oco...

Um comentário:

  1. É verdade. As lembranças são mesmo secas. E além disso, podem ressecar um coração.

    ResponderExcluir