(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sueli

Sueli conseguiu uma oportunidade de trabalho por indicação de uma colega de faculdade. Sua rotina incluiu ônibus, trem, estação Central do Brasil... até que possa adormecer sob o ventilador de teto e a brisa dos carros, que atravessa a janela de seu apartamento em Cordovil. Vive com seus pais, bravos comerciantes do subúrbio e muito religiosos. Embora careça de atrativos físicos, sempre foi bem advertida sobre os riscos de deixar de ser moça. Essa educação definiu sua personalidade: é jovem de aparência avançada, arqueada, pensamento ansioso, fala afoita e olhar muito, mas muito assustado. Como se fosse ré confessa por erros ainda não processados. Seus óculos, inclusive, têm uma rachadura de ponta a ponta, por todo diâmetro da lente, dando-lhe uma visão parcial da realidade, e causando perplexidade em quem tenta encará-la. Aliás, certa feita foi trabalhar de lentes azuladas, o que despertou indagação de sua chefe. Sueli, acuada, imediatamente revelou que seu olhos eram castanhos; dali em diante, nunca mais tiveram outra cor. 

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