(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

quinta-feira, 18 de março de 2021

Socorristas

Eram anjos do asfalto, atuando em trinca: o chofer boa praça, o Dr. de farda azul e o auxiliar repleto de histórias. No limite das madrugadas, tantas vidas adormecidas e outras prestes a não mais acordar. Para essas, antes do último suspiro - e até depois dele - estavam a postos, acionados desde uma unidade em Vila Isabel. Não fosse a sirene estrondosa, seriam reféns de engarrafamentos no Rebouças e Santa Bárbara e, por um átimo, falhariam na missão. "A vida tem pressa" dizia o Sancho Pança daquela UTI móvel, imediatamente emendado pela assertividade filosófica do Dr. "a vida é ávida". Dentre tantos socorros memoráveis, destacavam a eficiência do repertório de substâncias reavivantes e das técnicas de ressurreição: "já salvei um bacuri com massagem cardíaca desenganado pelos médicos", gabava-se Sancho. Acima da expertise e frieza para o salvamento - talento que só lhes escaparia se o paciente fosse um ente querido - ressaltavam a sinergia daquele trio de profissionais, cuja boa combinação fazia o tempo em missão fluir mais leve. E assim seguiam, serenamente, a desafiar o findo respiro, adiar a derradeira batida. Pareciam gozar de autorização divina para transitar no limiar da existência.

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