(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

transição

down_town, Rudolph Junger


no olho do Centro da cidade
caminho em retrospectiva
faculdade ali, aculá estágio
na travessa a igreja Nossa Senhora do Parto, que geriu tantas intenções de êxito

nessa segunda-feira quente e dispersa
ouço, apesar de tantos ônibus, o vento arranhando folhas
e alguns passarinhos também

no mais alto prédio da Av. Almirante Barroso o sol de verão explode nas janelas
passeando em panorama, piso em sinestesias
a calçada onde pisou Dom João, segui eu garoto, pousou o passante
e tateio tudo isso agora
na ponta dos pés
sinto pontas agudas de trajetórias

enquanto isso, o relógio marca 40 graus e os minutos deste ano se exaurem

sou levado ao peso das promessas
ao crivo dos erros, acertos, perdas e ganhos
sou levado a me olhar, com barba ou sem, com cabelo neste ou noutro corte

enquanto isso as janelas do alto prédio trincam ao calor do ocaso

um arrebol tremendo mancha a cara dos passantes, como se estivessem todos iluminados

estão todos puros
restou tudo claro

uma força se pondo em algum lugar
cujo resquício esverdeia esperança

há milhões de esperas
silenciosamente gravadas nessas caras passadas
nelas, me vejo

dormitando a angústia súbita do novo
sobre fulgaz leito de pertencimento

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