(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

segunda-feira, 17 de março de 2014

Sobre a ilógica dos rumos

Os rumos são mais lógicos quando retos. 

Mas nem sempre a menor distância entre dois pontos é mais virtuosa.

Devo essa conclusão ao colega de curso de Inglês, um estudante de Física, que iniciou o ensino superior aos trinta e três anos, pois, a vida, até então, não havia lhe franqueado essa oportunidade. É natural de Teresópolis, meu conterrâneo, e também grande conhecedor do abismo soberbo entre as curvas da Serras dos Órgãos e a Guanabara. Apesar disso, também ousou sair do ninho, para estudar na UFRJ e residir em uma república.
 
Um dia, resolveu retomar o Inglês, mas bem longe da lógica: optou por um curso em Copacabana. 

Ao saber disso, indaguei o porquê da escolha, sem qualquer censura à opção tão desafiadora da mobilidade urbana. Ele quase constrangido me respondeu que queria sair um pouco da Ilha do Governador, e punha o skate na garupa da moto, para dar umas voltas pela orla após a aula, antes de retornar para sua república.

Sábia lição!

O planejamento cotidiano e o zelo paranoico com a "perda de tempo" nos fazem escravos de uma ordem automatizada, encarrilhados na "lógica do menos".

Romper esse imperativo e abraçar a "lógica do mais", da individualidade, do non sense, do que faz bem à alma, tornou-se uma tarefa cada vez mais complexa. Desconstruir a rotina, tão bem arquitetada, nos exige desapego.

Mas é certo que sem uma volta mais larga e ilógica, não haveria skate, calçadão, praia, encontros ocasionais e sobretudo, liberdade.

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