(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Revolução Solar

Após um porre e seguinte ressaca de euforia, o poeta sai do armário. Caipirinhas, uma big band de gafieira, uns passos de salão. Depois, choveu sem parar dentro de si, encoberto pelas mais íntimas nuvens negras. Nublado sem razão, o céu de outono que começa. Por dentro, tudo igualmente nublado: aquele nó-de-garganta, um embolado no peito. Não é coração, bobagem, descobri que é pulmão: brônquios. Exigem respiração sempre ofegante, e não há Yoga que ensine a conter. O brônquio de cada um tem seu tempo. É nossa percussão, tal qual a da banda. Se é dor, vai mais lenta, arrastada, canção. Se euforia, fugaz, esporte radical, um vôo de asa delta. Por isso adoro samba: traduz todas minhas nuances e oscilações. Fez-me descobrir dançarino-requebrante especialmente quando caí no chão. E também assim me descobri poeta, pois quem suporta sofrimento, pode amar sem medo. Poeta é quem ama sem medo, mas se tem medo, grita. E se foge, é pra se achar. Sambando, senti-me parido, de novo, aos 21 dias de março de 2009.

2 comentários:

  1. Tá perfeito...por estas e outras, és o meu poeta predileto.

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  2. Sim, poeta, malandragem, suor, Brasil e sobrevivencia. E tenho dito!

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