(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sábado, 15 de janeiro de 2011

Teresópolis

Imagem do Google


Não me considero dos seres o mais altruístas. Até hoje não me bateu o sentido de solidariedade, aquela comoção "devemos ajudar". Muito disso, sempre me pareceu demagogia, uma espécie de culpa cristã. Quando vi minha cidade natal desmoronada, ao vivo, no Jornal Nacional, novos sentidos me vieram. Teresópolis sempre foi meu ninho, acolhida tão grande, que me sufocou: trouxe revolta de asas e saí de lá. Mas sempre carreguei a ternura do lugar em que cresci livre, uma infância sem igual, sem limites de playground, solto pela mata. Meus sentidos todos nasceram naquele espaço, no contorno das montanhas. Vi toda razão da vida depreender-se da natureza, das árvores, das formigas. Depois veio fome de gentes, escolhas, possibilidades, do mundo. E Teresópolis se resumiu à  segurança. Agora nem isso. Ver tudo desmoronado arruinou minha concepção real e imaginária. Hoje me sinto mais frágil e vulnerável: o risco é inerente ao respiro. Podemos morrer no caos urbano, das favelas, balas perdidas, morro do alemão; ou arrastados por uma tromba d´água digna do Velho Testamento, no recanto mais ermo e pacato. Parece fim dos tempos: não há pra onde correr. Reduzido à uma fragilidade absurda, e tão fragmentada, me sinto tão desabrigado, completamente em luto, por algum ente perdido que não conheci. Muito morreu em mim, depois que o caos passou raspando. Ruínas entre o Caleme e o Espanhol. Quase minha ex-casa, onde morei a vida toda, até o ano passado. As águas levaram algo meu pra sempre. Hoje vejo Teresópolis como lugar cheio de certeza guardada nas pedras, de natureza impiedosa, na expressão máxima, que arrebata certezas e afoga memórias.

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