quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Salmo número um
E gritarei o que me rouba o sono;
os t(r)emores de derrotas que me assolam.
Sábio quem na vileza encontra fortaleza:
aço em miudeza...
Orais, sem pedir certeza:
Bem-aventurado quem faz da dúvida sua prece.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Al di la
"amores, altares, rituais"
Nem me perco nas trilhas sociais
"sexos, drogas, rocks".
Não sou de cá nem de lá:
io sono al di la.
Não tenho o comum
Tenho lugar algum
meu lugar é um
Algum lugar além.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Alaranjado
A tarde foi sumindo sem que eu percebesse.
O ano termina alaranjado.
Não sei nada mais de mim:
Não quero rever o passado nem pedir pelo futuro
(todo pedido certo que faço se realiza, e depois perde a graça)
Talvez o querer esteja além da vista
e ultrapasse as montanhas
que me escondem o mar...
Se soubesse, ao certo,
me pediria alaranjado
na graduação desses dias alheios à pressa.
Dias sem pensar
domingo, 18 de dezembro de 2011
Sobre todos (os) nós
sábado, 10 de dezembro de 2011
Amanhecida
despí-la de toda fantasia
E recebê-la in concreto
com a cara da manhã.
Acordar com silêncio:
sem música, poesia ou qualquer explicação.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
sábado, 26 de novembro de 2011
Modos e maneiras
-Não sente de pernas abertas!
O pai ao filho:
-Não fale de boca cheia!
A moça ao namorado:
-Não solte minha mão ao atravessar a rua!
De dizer que se ama:
Odeio-te
rogo desafeto
e pragas possíveis;
não te posso esperar:
Teu tempo é meu desespero!
Passarinha
Bastante
Mas em quê? Já não estão bastados?
Relatividade
Faz vívida a saudade
Importa o tempo que não corre:
Mel escorre
e o silêncio engole.
Imagino à margem do menino
No que me cabe,
os minutos que me percorrem.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Madrugada
Acordo sereno
Orvalho me escorre à face...
quem fui?
serei amanhã?
De madrugada sou!
(meu peito são)
Agústia é mais
em goles constantes;
porres que abrem sentidos...
A angústia há de ser vivida
eis que na vida
quem importa é o artista
quem pretende raridade.
Dentro de nós há um precipício.
(janela ao infinito, mais-que-bonito)
Algo dentro nos alça:
lanço-me em queda livre.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Violão-de-parede
toca suspenso
no alto do meu silêncio.
Ouço:
A mulher na minha parede.
domingo, 30 de outubro de 2011
As miudezas são maiores!
Cinema Paradiso
Nos permite reencontrar, na volta
Pessoas e coisas que deixamos.
Somos retalhos de eternidades:
Revemos incessantes cenas que fundo marcaram.
Que serei eu do mundo?
Sou a ânsia de partir de mim, que sempre volta ao que sou.
Fui, sou, serei sempre o mesmo
atolado em lembranças;
caçador doutras tantas por aí...
Meu destino é tão simples:
em cada passo que dou, faço passado
Minha história tem 9 mm.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Meu canto
Quarto, Van Gogh |
Meu canto recanta poemas e cores na parede!
Defino meu espaço para que nele não me caibam limites.
Atravesso a parede e toco poemas;
Transbordo cores das minhas tintas, tela dos meus amores;
Provoco jardins;
Ouço músicas de além-mar.
Alcanço minha casa imaginária:
acalanto onde minh´ alma revive.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Nas devidas proporções
A poesia se revela:
À beira do abismo ou
Escorada em minimalismo
Viver é um poema que não cansa;
A poesia bate além da vida que se crê:
Ignora a morte de mares e montanhas.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Mediúnico
tenho mãos sujas de tintas
escrevi poemas na parede
Tenho necessidade de dizer o que não sei.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Droite
então sigo:
por fora da calçada
(assim protejo)
Meu olho esquerdo tem diferença de grau
e de semi-olho te subo
Alta degrau do meu desejo
essencialmente sem pensar.
"Pensar é essencialmente errar"
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Epifanias, grilos, bocejos
Os bocejos anunciam epifanias
tritinam repletas de madrugada:
não durma ainda, bem, se quiser encontrá-las!
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Sobre tantos caminhos
O final de todos esses caminhos é um abismo:
Abismam sentidos de êxtase pela chegada e, então...
Por quê percorri o caminho?
Insatisfação é aditivo.
Vamos, que vamos, que vamos, que vamos.
Tenho comigo certeza de que ainda que alcançasse a estrela mais cobiçada, não me bastaria.
Quem sabe viver seja prazer de caminhada, não de chegada ou partida.
Todos os caminhos são desalinhos de pés que não pensam: só pisam e andam alucinadamente.
Aniversário (HB ano III)
(Sem cometer injustiças: o HB sucedeu outro blog, novasbossas.bloger.com, que existiu de 2003 a 2008)
Enxergar poesia é um exercício diário. Tal qual série de academia: às vezes bastante puxada.
Humanamente me curvo à incapacidade e à miopia.
Sempre evitei dizer-me poeta porque beiraria à jactância. É como assumir-se filósofo e patentear alguma espécie de filosofia.
Poeta é antes um teimoso sensível. Sensível porque é sempre capaz de perceber minúcias e sutilezas; Teimoso pois nem sempre está apto a traduzir o que sente com primor, mas ainda assim tenta.
Muitos poemas - e talvez os mais valiosos- decorrem do debatimento existencial. Será que devo? E o poeta faz, tirando tinta da mediocridade.
O quase-medíocre é o espaço mais fértil da arte. A genialidade inexiste sem ensaios.
Quantos textos se prestam, unicamente, a degrau de outros?
A poesia vive assim: consequência inevitável de todas as coisas ínfimas que nos cercam, caem do bolso, deixam de ser ditas e, principalmente, não ostentam sentido fluorescente.
Só por isso, o HB é um blog de poesia...
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Notícias de Sumicity
Passado algum tempo, alguns sentidos brotam.
Primeiro, é possível ficar cara-a-cara com Sabiá-laranjeira, cantando alvoraçado em pleno marco central.
Observar como se faz política e democracia numa dimensão tão micro a olho nu, mas vista de cima, traduz a legítima realidade nacional. Conforme se aproxima a eleição, surgem tapumes e canteiros de obras, e aquela pracinha esquecida finalmente vai ser reformada.
No interior, a má fé desses Odoricos beira a comédia, se não fosse a exploração do povo, em grande parte, uma orda de analfabetos, escolados na lavoura.
As ambições do povo de interior são compatíveis com a realidade: o casamento vem cedo, a prole também. A vida consiste em puxar uma laje aqui, trocar um carrinho, tomar umas e outras naquele churrasco eventualíssimo da galera.
É possível viver sem happy hour, vida de cinema, passeio na orla, programação teatral.
Talvez a vida seja rica, ainda sim, sem tudo isso.
Sem todo aquele frenesi comunicativo da capital, em mensagens de celular, curtições do Facebook, aniversário do amigo da prima do vizinho.
A vida nua e crua tem seu sabor.
domingo, 11 de setembro de 2011
domingo, 4 de setembro de 2011
Desejos e fragmentos
Aqueles olhos.
Uns e outros adjetivos...
Quero os pedaços!
O substantivo, que perfazem, está aquém à minha ciência.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Quando a vida era um rio, eu nem sabia do mar
domingo, 28 de agosto de 2011
Tubérculo
Quero muito ter raiz
Bem seria um tubérculo
Mas teimo o sopro de mim:
Tuberculosa raiz que me tosse!
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Sonata Sumidourense
Denominada 31 de dezembro.
O músico sem fôlego e muita alma
Desafia o silêncio com notas repetidas
A música, ultrassônica esbarra nos vales
Insistente, trilhas de cinema
Caminhos de sentidos que ignoram a arte:
-expressão nenhuma de valia íntima.
sábado, 20 de agosto de 2011
Radial
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Aninhamento
O ninho precipita o vôo
(não há borboleta sem casulo)
Os galhos espreguiçam braços ao céu
asas postas à certeza:
O silêncio é a raiz do entendimento.
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Pretzels
bate quase calado
(sustenido amuado)
palpitação que mal se ouve...
Na quietude de abraços,
cuidado com anúncios e alardes;
a forma que mais importa:
-Pretzels!
domingo, 7 de agosto de 2011
domingo, 31 de julho de 2011
Outra
na sua cama
como Aquela já esteve
ouvindo as mesmas coisas.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
quarta-feira, 27 de julho de 2011
No meio do caminho
Tinha um caminho no meio da pedra
pedra é o meio de um caminho.
Meu consolo na praia
Porto no meio do mar
(onde a onda me beija)
domingo, 24 de julho de 2011
Porquinha-da-índia
e nos jurávamos imortais.
O adulto fenece o sonho.
Todo eterno é enquanto:
a celebração do matrimônio,
em retratos, votos e buquê.
Jaz o ledo engano,
que o padre rezou.
Só há amor eterno com porquinha-da-índia:
na cegueira de um coração puro.
sábado, 9 de julho de 2011
Carambolas
Quando bêbeda me devora
E me dizendo que adora:
-Eu carambolo você!
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Sobre a inspiração
tem medo de perder a inspiração
e às vezes perde.
Não acredito em artistas que não se desesperam
que não se desinspiram.
Impa_ciência
tenho pressa em ser autêntico naturalmente:
condicionar os outros à minha leitura,
sem maior explicação.
(Afora isso, não quero intimidade por sentido qualquer)
Tenho pressa em ser lido.
O enquanto é, pra mim, o maior incômodo entre dois pontos.
domingo, 26 de junho de 2011
Máximas sobre o tempo
O rumo dita o ritmo:
nem todo domingo é necessariamente véspera de segunda-feira.
Às vezes o dia passa mais dilatado;
leveza suscita cuidado;
o que se espera, contudo, faz arder.
O possível, por enquanto:
eis a vida.
terça-feira, 21 de junho de 2011
As cem razões do mundo
assiste a razão;
se a palavra aquece
o silêncio olvida.
As verdades frias, cada qual na sua.
Algumas sobressaem, outras sobressaltam
de repente
em repente:
a dor corta, a chama passa
o tempo muda, a nuvem esparsa
o céu irradia
o mundo mudo contra nossa pirraça.
Há cem razões que justificam
ou razão alguma;
a vida é piada:
há que rir mesmo em desgraça.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Libertinagem número dois
segunda-feira, 13 de junho de 2011
quarta-feira, 8 de junho de 2011
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Só, em teus braços
Não posso lutar por amor que não tive.
Amar se esvazia com intenção.
Pois vai além:
sem-querer.
sábado, 28 de maio de 2011
Ensaio sobre a Tristeza
Verbo definitivo
terça-feira, 24 de maio de 2011
Certifico e dou fé
o que não me cabe
esqueci a poesia, em remessa
com vistas ao excelentíssimo sr.
Formalismos preciosos me arrebatam
e a poesia se esvai, sem alarde:
como chegou, foi-se.
Incompossível certificar.
domingo, 15 de maio de 2011
Nouvelle Vague
Je ne comprends pas!
As razões de sentir-se vão
Vão-se ao olhar, de ante-mão
à espera pelo encontro de mãos.
sábado, 14 de maio de 2011
apoético
(esqueci meu livro no prelo)
Repilo minhas poesias,
sentí-las em pêlo.
Pretendo em vão
viver-me aos bandos
dar-me um rumo
por tantos.
Mas ser poeta é um NÃO.
Reforço-me quando nego:
minhas águas represadas há séculos.
Sem eira nem beira
na rede deitados
soltos no céu estrelado
Sem eira nem beira
nossa prosa não arranha:
só ameaça polimento.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Está escrito
destino é caderno de caligrafia;
vejo oráculos para não crê-los
prefiro que não advinhem meu futuro.
As tendências apontam
mas há sempre possível retorno
direções e caminhos;
certeza é só seguir.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Medo da escola
Hora da escola |
assumir responsabilidades
traçar metas para realizar os sonhos...
que sonhos?
esforço é fundamental
com disciplina, estudo, trabalho
em busca do sucesso.
sucesso?
Quanto dos sonhos são nossos?
Qual sucesso que nos satisfaz?
Agora entendo meu medo da escola,
hoje com outras formas e feições, mas de mesma essência:
-Era dúvida libertadora das certezas que aprisionam.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Pretérito
Olhar reverso de toda espera
Álbum de retrato
Paisagem com lago tranqüilo
Todo silêncio, salvo o disco que se quer
(os pavores arrumados na gaveta)
Narrativa em terceira pessoa:
a gente vendo longe
mas sentindo perto
-O presente bom que se delonga.
sábado, 16 de abril de 2011
Anseios
caminhos infindos que a alma traceja...
mas meu corpo carece repouso
minhas pernas suplicam exaustas.
sábado, 9 de abril de 2011
quarta-feira, 6 de abril de 2011
My Cloud
mais quero quem preciso
casar uma frase é viver amor
o azul nos delega o necessário
Passáros tantos voando na cidade
Sumicity rompe o anil: Galiotto
vinho gauche de ameixas
grandes cores do meu desejo
passagem do espírito, fogo
espia estranho coração de fel suave
pedaços de poesia a gozar eternidades.
Aplaudo das horas a passagem
com calma, loucura, exagero
tecendo flores à minha mensagem.
Paquequer
-brota onde nasço;
-corre por onde passo;
-finda quando morro:
no mar.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Domicílio
das penas de si
da sobrevida do vôo
do sobrevôo da vida
tudo por cima é minúsculo,
mas ao músculo importa:
a terra à vista,
e a miniatura de casa que se pretende habitar.
sábado, 2 de abril de 2011
Idiossincrático número quatro
trago em mim estrelas perdidas
impaciência de séculos
rastro do que poderia-ter-sido.
Qualquer mágoa, dúvida ou retiro é contra-fluxo.
Piso fundo na pista da esquerda.
Andar de mãos-dadas exige certezas distantes.
pois corro em busca
por cada fresta.
Até lá:
alimento minha fera,
acelero minha pressa.
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Geminiana
heterônimos que são:
geminiana.
quisera tê-las toda
e tuas tantas me amando.
domingo, 27 de março de 2011
Porto dilúvios colossais
O comichão da alma faz bossa.
Lavados sejamos dilúvios
tormentas camaradas
que não se conformam
Não padeçamos terráqueos
podres produtos de si
equidistantes do pai
-Deus Pai:
Suplico ao Cristo (crucificado na parede do quarto)
que nos guie
e conceda um instante mais,
ainda semente:
Porto dilúvios colossais
e minh´anima arrefece
com ventos nos coqueirais.
Retalho de amor
que a vida já não tem
mais cabimento
sem você
Poesia acontece
quando se encontra
quem se acredita:
você.
Pois te amo
Sim, te amo!
Que custoso redundar
A exclamação dos amantes.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Sincericídio um
desenganados não amam
falar nossas verdades é sincericídio
Vivemos outras estórias
morremos outros amores
desimportam papéis,
ei-los: mesmos atores.
talvez a paixão nem agrade
aos vizinhos:
esbarrão no corredor
sem querer eternidade
Deixemos à vontade
veracidade que somos
sem ledos enganos:
assim nos beijamos.
segunda-feira, 21 de março de 2011
Soledade um
Abanando o rabo à torpeza dos homens
Desse vale distante,
a soledade manda lembranças:
amar a si é princípio da vida;
rir o dia e acalmar a noite
tão simples, sem grandes teorias.
sexta-feira, 18 de março de 2011
Águas de março
o enfim-do-caminho,
o mistério da ribanceira,
o sustenido pingando!
são as águas de março fechando o verão
é promessa devida no meu coração.
terça-feira, 15 de março de 2011
Dúbios
o que pensaria se fizesse?
como reagiria se dissesse?
Respondes com questões exclamativas.
Somos dúbios:
nossos corpos de tão unidos
fazem interrogação.
domingo, 13 de março de 2011
Angústia
Prenhe em si
nos meandros
duma vida inteira!
disputa no tempo
seu canto
sua estória
seu esquecimento.
Pressa de vida
Fome descontente
Dúvida inquietante
Do que foi, é, será
Dilema:
das estrelas que fulguram mortas;
das milhões de verdades já postas;
da revogável lei do universo;
da fé incondicional.
Angustia de tudo que parece irrefutável:
Dias que são noites
Arroubos que aspiram amores
Dores que se mostram sinceras
Agonia do vazio infindo que se segue:
Do útero ao jaz.
Encontros número dois
traziam uma vida pela frente.
Também as mãos:
adestradas à arte da espera.
Quando nos vimos houve “não”
pela silente falta de coragem,
delicadeza toda,
insegurança táctil.
Quando partimos houve “sim”
na certa dor de ausência,
querer-estar-perto
quando distantes.
Nosso amor não brotou dos dedos
[da primeira visita]
mas do relaxamento tênue, de reencontro.
Despidos de qualquer ânsia.
Despidos de tudo.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Versos-mirrados
inefável
converto silêncio em dó:
uma nota!
Que dó... ré, em mim.
(jingle do descaso)
que nem sai.
Arde feito pedra no rim.
Suspiração: o sentido que evade.
Cadê o verso?
analgesia de horas incertas
remédio da razão e vontade.
Suplico todos os dias:
se não vier a riqueza do mundo,
que não me neguem versos mirrados:
a paixão da minha vida!
Aneurisma
-de estourarem as veias
-dos versos que pulsam no meio
-do coração bombear sem ritmo.
Prelúdio do adeus número um (2004)
Gosto, também, como espias os meus versos
[com uma cobiça bem disfarçada]
Gosto dos teus passos calados, relutando em fugir.
Te digo:
-Espera!
De que vale essa pressa descabida?
No teu raio de despedida só vejo estrelas
Há pó de estrelas, de cada verso espanado
e tantos beijos amarrados,
embalados pruma lamúria futura...
E me abraças com esse sorriso,
que se abre com tanto cuidado.
Mas que nada sorri.
Que nada me diz.
[ajoelhado que estou aos teus suspiros]
Tatuagem
Pois a intenção distorce o rumo das coisas
E um dia hei de querer apagá-la
Como quis gravá-la
Do mesmo modo:
Se pretendo esquecer,
aí que a lembrança se faz presente
Pra sempre!
Esquecimento forçado é auto-mutilação
Não se faz pela vontade
Senão pelo tempo
Quando te esqueces de esquecer.
Simétrico
Parnasianíssimo
[e nem o fará]
Mas te sigo temente
Não te desacreditarei nem por toda filosofia desse mundo!
Faço-te oferendas, todas minhas preces.
Gostar-te é religião
transcende às transpirações do corpo.
Tento-te fé
E minha crença pouco te exige
chuva ou sol,
Tudo é bonança!
Mas há dias em que me sinto te amando
e o assunto muda de rumo
entrego à ciência humana:
-Beija-me! Que fazes nesse altar?
[Inquieto por completo
dou-me conta:
cansei de flertar com teu silêncio!
E perdoa-me, pois te fiz um poema]
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Vítima
para que se erre o alvo
da pior armadilha que é:
agir em ilegítima-defesa.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Dicção poética
Meu poema é um silêncio-errado
de léguas mais remotas
Sou poeta turvo e urdo
Por um particular
Com aquela moça
Danem-se anseios universais
clareza de compreensão
matemática dos versos:
-Quero murmúrios inaudíveis com você.
Encontro
Meus amores, rimas, risos?
Por que corri estradas...
Até chegar ao ponto de que parti:
Encontrei-me com nó no peito!
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Dúvida?
duvido que tenha dúvida
pois eu só tenho certeza
de que é bom e quero você.
Sumidouro um
A poesia no meio do caminho
Alguns chutam, outros avaliam:
pedra no sapato ou emoção única?
Há muito verso na beira da estrada.
Não é o poeta quem tira patente de inventá-los.
Poeta é quem brinca com essas pedrinhas,
e espalha.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Poeta abisma
anda inclinado
vive a abismar a vida
Sobre-tudo
brincar sobretudo,
brincar sobre tu
sobre-tudo.
Interiorano
há calmaria de vilas pequenas,
hábito de passarinhos que cantam
terra nas unhas
(natureza que não sou além do chão)
Sou o que me resta:
Interiorano.
Manhã
É o dia, é o dia...
Algo novo se sustenta no ar:
Encho o peito de alegria!
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Qual a medida do amor?
quem ama não mede esforço.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
Intimidade
do que não se pode alcançar
à mão nua
É ali
na estranha
que depois desentranha:
a mão que te partiu.
domingo, 23 de janeiro de 2011
desprograme-se
escapam todas horas marcadas
os ponteiros atrasam, o chope se agua,
no calor insuportável da Lapa
Tudo são planos
tantos desfeitos, nada a contento
do que antes se pensou
Quando dá errado
descobrimos sentados no meio-fio
que rir da vida nos é direito que sempre assiste.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
O vento
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Minuta
sou quem ama a cama por fazer
projeto, esboço e sonho
minuto aos minutos:
minha verdade varia à brisa de viver
Poemeto número um
fiz crer que estamos atados
à uma delicadeza que te acaricia leve
e remete breve à plácida certeza:
Somos além do acaso,
a vontade nos permeia de sinos -
ouço colado,
ao largo da tua beleza.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Teresópolis
Imagem do Google |
Não me considero dos seres o mais altruístas. Até hoje não me bateu o sentido de solidariedade, aquela comoção "devemos ajudar". Muito disso, sempre me pareceu demagogia, uma espécie de culpa cristã. Quando vi minha cidade natal desmoronada, ao vivo, no Jornal Nacional, novos sentidos me vieram. Teresópolis sempre foi meu ninho, acolhida tão grande, que me sufocou: trouxe revolta de asas e saí de lá. Mas sempre carreguei a ternura do lugar em que cresci livre, uma infância sem igual, sem limites de playground, solto pela mata. Meus sentidos todos nasceram naquele espaço, no contorno das montanhas. Vi toda razão da vida depreender-se da natureza, das árvores, das formigas. Depois veio fome de gentes, escolhas, possibilidades, do mundo. E Teresópolis se resumiu à segurança. Agora nem isso. Ver tudo desmoronado arruinou minha concepção real e imaginária. Hoje me sinto mais frágil e vulnerável: o risco é inerente ao respiro. Podemos morrer no caos urbano, das favelas, balas perdidas, morro do alemão; ou arrastados por uma tromba d´água digna do Velho Testamento, no recanto mais ermo e pacato. Parece fim dos tempos: não há pra onde correr. Reduzido à uma fragilidade absurda, e tão fragmentada, me sinto tão desabrigado, completamente em luto, por algum ente perdido que não conheci. Muito morreu em mim, depois que o caos passou raspando. Ruínas entre o Caleme e o Espanhol. Quase minha ex-casa, onde morei a vida toda, até o ano passado. As águas levaram algo meu pra sempre. Hoje vejo Teresópolis como lugar cheio de certeza guardada nas pedras, de natureza impiedosa, na expressão máxima, que arrebata certezas e afoga memórias.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Preciso Aprender a SÓ SER
Ouvindo a música do Gil, "Preciso aprender a só ser", manifesto tropicalista ao "Preciso aprender a ser só", samba-canção de Marcos Valle, vieram-me algumas reflexões sobre em que pé anda o amar. Na minha humilde concepção, há dois extremos: os "roteiristas" e os "fundidos". Os roteiristas são aqueles que, para saciarem a fome, escrevem com facilidade uma estória de amor, encontram um bom protagonista (ou antagonista) para o papel, e se convencem de viver aquela ficção. Os fundidos são seres exauridos pela busca, que encontram par na mesma condição, e fundem suas solidões. Ocorre que nenhuma dessas soluções satisfaz. Nem uma terceira: micareta. Em verdade, todos carregamos os genes do romance. É algo tão forte que ultrapassa a herança cultural. Está ínsito. Musicalmente falando, dor de cotovelo é algo cafona. A bossa-nova, que se contrapôs a essa tendência, hoje já é considerada "música de idoso". Depois de tantos avessos e tendências, muita gente ainda tem alma seresteira, com vitrola em casa e disco de samba-canção arranhado, de tanto ouvir. Somos escravos da parceria, da vida a dois, do deux-par-deux, do cheek to cheek. Hoje e sempre. Parar e perceber "preciso aprender a só ser", contraposto a "preciso aprender a ser só", causa um baque violento. Não faço apologia a monastério Tibetano. Também não acredito que a filosofia alimente de questões o cérebro a tal ponto, que minimize o efeito inebriante do amor e a sede que lhe é inerente. Mas existir, tão só, somente, não significa rimar só, pó, dó. Viver está além desse limite. Amor pode ser desobrigação. Amantes não são posers. Mão-dadas não são algemas.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
GPS
Os revezes são vias acesas:
radar a 100 metros, reduza velocidade
O desalento são ruas apagadas
que me fazem só voltar pra casa
Já dispenso qualquer senso, de direção.
Quanto se sofre pelo acerto de caminho
Os retornos inexistem
Quando caminho se marca aos tropeços
corta-se à contra-mão
Eu sou eu, o que me prefiro:
um erro, autorizado em não acertar.
domingo, 2 de janeiro de 2011
Tudo que finda
o que me resta da vida, finita
é brasa:
bituca de cigarro pela janela.
That´s all jazz!
- mas minha síncope é a Jazz Band do outro lado da calçada.
Lá todo improviso se valida,
pausas de silêncio são prosa musical.