(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sexta-feira, 20 de julho de 2018

O livro inteiro que poderia ter sido

O livro que não publiquei é minha promessa mais bonita sobre palavras não ditas. Dormita, inocente, na gaveta, como se de mim nada soubesse; mas de tudo sabe!

A vida é muito mais promessa do que acontecimentos. Acontece, por acidente ou acaso, um universo inteiro ou a simplória queda de uma folha.

Mas é a promessa a expressão mais humana, mais intencionalmente lírica.

(Gostaria de fazer uma ode aos planos irrealizáveis)

Potencialmente o livro é livro, mas de fato, não o é. Está cheio de si, continente de mim ou do que me pretendo ser. Mais que confidente: é projetista contundente do meu rumo e desrumo, em tantas (im)possibilidades.

Publicação seria o ato de fazê-lo rebento, vestindo-lhe forma, uma capa eterna.

Enquanto no plano-ideia, segue amorfo, fluído, nuvem na proa do firmamento.

Trazê-lo à tona é quanto pelo ego? Se já me diz tanto respeito, que mais precisa dizer? Deve contar algo a alguém? Seria livro pouco verbal, em verso-mudo? Que não ousa nem murmurar ao folheio das páginas?

A que páginas?
Pois se o campo imateral é tão vasto.

Quiçá seja ele verdadeiramente pretensioso: não quer assumir cara alguma, viver no romance do esquecimento - como se fosse meu tesouro perdido.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

atenção senhores passageiros

enquanto lia timidamente seu romance
crônicas se expunham a cada parada 
(e faz frio, depois de uma tarde ensolarada de inverno carioca)

porém, o alredor desimportava à leitora
contida nas tramas lineares do romance
- somente saculejadas à curva mais aguda do piloto

talvez fosse um livro ruim, depois de dia enfadonho
mas a perspectiva mais ordinária aportava:
era um romance num coletivo
um coletivo com romance