(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sábado, 26 de novembro de 2011

Modos e maneiras

A mãe diz à filha:
-Não sente de pernas abertas!
O pai ao filho:
-Não fale de boca cheia!
A moça ao namorado:
-Não solte minha mão ao atravessar a rua!

São tantos modos
Mas só um
De dizer que se ama:

Olhos dados e bocas seladas.

Odeio-te

Com todas as forças do coração
rogo desafeto
e pragas possíveis;
não te posso esperar:

Teu tempo é meu desespero!
Se não agora, senão a hora
(a minha hora, última)
será nunca que te beijo à nuca...

Não amemos amenos
caducos, póstumos da urgência
remediados? doentes? pacientes?

-Amor sem pressa é desamor.
(Então, odeio-te)

Passarinha

Dead Passarinh, Rodolpho Saraiva

Só em gaiola dos abraços
a passarinha se prende
em tantos vôos vãos
por ternura desatende
(e suporta o chão)

Bastante

Queria dar um basta!
Mas em quê? Já não estão bastados?

Não me basta esse fim, quero enfim por completo!
Ave, mas são bastantes as vezes em que houve fim...

Mas não me basta: quero um fim que seja bastante!

Relatividade

Presente de outrora
Faz vívida a saudade
que me importa
(visita que não bate à porta)

Importa o tempo que não corre:
corte à glote
Mel escorre
e o silêncio engole.

Imagino à margem do menino
sem que temesse o sino
Fui homem em sentidos,
esboço de alguma relatividade...

No que me cabe,
faço meu rastro:
Traço de amores (ou dores)
os minutos que me percorrem.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Madrugada

Enquanto o mundo dorme
Acordo sereno
Orvalho me escorre à face...

quem fui?
serei amanhã?

De madrugada sou!
(meu peito são)

Agústia é mais

Água-ardente
em goles constantes;
porres que abrem sentidos...

A angústia há de ser vivida
eis que na vida
quem importa é o artista
quem pretende raridade.

Dentro de nós há um precipício.
(janela ao infinito, mais-que-bonito)
Algo dentro nos alça:

lanço-me em queda livre.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Violão-de-parede

Meu violão intangível
toca suspenso
no alto do meu silêncio.

Ouço:

A mulher na minha parede.