(qualquer verossimilhança é mera descoincidência)

sábado, 13 de agosto de 2022

A lua mais linda que já ouvi

A lua era realmente absurda. Mais linda, redonda e amarela que já vi. Em noite limpa e plena, via-se o contorno da serra com perfeição e, ao fundo, a Guanabara acesa. À meia altura, boiava ela, em pouso sem gravidade, milhas além, mas, também, tão perto. Alumiava como nunca, com todas as forças, a ponto de parecer um sol - embora cheia como essa jamais ambicionasse ser coisa outra. Diante do deslumbre absurdo, os expectadores, no coletivo, em direção àquele farol-satélite, experimentavam a vacuidade de adjetivos: calavam-se, diminutos. Quando então irrompe o grito de um mudo, da poltrona à frente. Embora sem fala, parecia ser o único a saber o que dizer. Gritava, balbuciava expressões ininteligíveis, pulando de lado a outro, tentando fotografar a lua. Sim, era a lua mais linda que já vi,  capaz de fazer o mudo contar, com precisão, o indizível. 

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